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domingo, 20 de janeiro de 2019

A minha sagrada Ordem das Ordens




Dê-me o sinal da Sagrada Ordem, seguido do correto cumprimento de mãos! Exclamou o espanhol após nos conhecermos em uma taberna muito antiga na Rue de La Soif, em Rennes, noroeste da França, Bretanha. O sábado estava frio demais nas proximidades do inverno e passara pelo Parc Du Tabor para meditar um pouco, respirar ar puro entre árvores e flores, orar na catedral Notre-Dame-em-Saint-Melaine; descera pela Praça do Parlamento, esta construída em início do século dezessete e galgara umas ruas com características medievais até aquela taberna onde saboreava o melhor do vinho francês. Já havia notado algumas vezes o espanhol a um canto, mas naquele dia observei pela capa do livro em suas mãos, uma estória sobre os cavaleiros da Távola Redonda e o Cálice do Santo Graal. Então, pedi-lhe licença e sentei-me em sua frente, quando ele observou um anel em meu dedo anular esquerdo e fez-me aquela solicitação, à qual atendi prontamente e desenhei disfarçadamente sobre a mesa de madeira com a ponta do meu dedo mindinho e com determinada abertura dos outros dedos da mão, o sinal de nossa Sagrada Ordem, cumprimentando-o em seguida conforme o tradicional toque dos cavaleiros. Dali surgiu uma amizade, aliás, nem é preciso reafirmar, pois nossa irmandade possui um elo milenar; porém relato um caso fenomenal advindo deste grande irmão, relacionado totalmente com os pergaminhos secretos guardados com esmero desde o desaparecimento de nosso antigo mestre Merlin. Pablo, este seu nome, natural de Sevilha, onde há séculos se instalara uma távola muito forte e poderosa, ali estava também para manter contato com a raiz mais antiga de nossa tradição e sabíamos ser aquele encontro não uma coincidência, mas um sincronismo sagrado; por isto ele me convidou para uma reunião secreta o mestre Roazhon, em bretão significa Rennes, originado da etnia dos antigos bretões; no entanto deveríamos passar primeiro pela Catedral Saint-Pierre de Rennes onde um irmão nosso vindo das proximidades do Monte de Saint Michel nos aguardaria enquanto fazia umas orações e meditava; isto já marcado para as três horas da tarde. Assim o fizemos e quando nos encontramos, nos cumprimentamos conforme o toque de mãos de nossa tradição, seu nome Arthus e fomos andando, conversando em español, passando pela porte Modelaise a mais antiga entrada da cidade de Rennes, construída sobre restos de muralhas romanas. Ladeando as muralhas encontramos uma porta de carvalho muito grossa com uma grande argola externa malhada a ferro forjado. Pablo segurou-a batendo um determinado número de vezes na porta, não posso revelar o número destas batidas e dentro em breve surgiu um vulto vestido com um manto azul e um chapéu amarelo em forma de cone sobre sua cabeleira branca, nos recebendo com um sorriso angelical e assim entramos em sua casa de pedra, perplexos com a decoração interna. No centro da sala uma mesa redonda muito grande de carvalho surrado pelos séculos com oito assentos sem encostos rodeando-a; não trazendo dúvida alguma das reuniões ali feitas, pois com certeza seriam sete cavaleiros mais o Rei. Roazhon indicou para sentar-se em primeiro lugar Arthus, em seguida de um lado sentei-me e do outro Pablo, conforme sua orientação. Trouxe-nos em grandes canecas de ouro uma boa quantidade de vinho e colocou uma tigela de prata com pães para nos saciarmos, enquanto segundo ele chegariam mais cinco irmãos vindos de cinco continentes do mundo, de tal forma a representarmos nossa ordem sobre a face da terra. Enquanto isto eu observava detalhadamente o ambiente. O piso era todo forrado com umas pedras grandes e irregulares, vermelhas das quais saiam uma energia sobrenatural, nos fundos estava um enorme armário ocupando todo o espaço da parede, cheio de escudos e armas, enquanto no lado esquerdo observava-se uma abertura na parede para outro salão onde a luz tremulava, com certeza provinda de uma tocha e o local aparentava ser um oratório; à direita uma escada robusta de madeira ligava as duas partes daquela moradia e por sob a mesma estava outra abertura retangular para a cozinha, donde se via mais outra um pouco escura, para a adega, pois, por ali ele veio com nosso vinho. As batidas na porta se repetiram por mais cinco vezes, com a chegada de cada cavaleiro, sendo conduzido devidamente ao seu lugar conforme o costume de nossa Ordem e desta vez não foi necessário fazer o sinal e o toque de mãos, pois as batidas na porta já revelavam nossa intimidade espiritual. Éramos oito cavaleiros, sendo Arthus a representação do Rei. Roazhon não sentara-se conosco, inclusive eram oito cadeiras em volta da mesa, pois assim conforme nossa tradição comportava-se Merlin na Távola Redonda! Ele era o espírito do ensinamento vivo e permaneceria por ali rondando entre nós com símbolo sagrado dos antigos conhecimentos e revelação da sabedoria mais remota de todos os tempos. Sua missão naquele dia era nos passar o supra-sumo do conhecimento místico e esotérico da nossa Tradição, embora, já possuíamos elevado grau, porém, havia muito mais entre o céu e a terra para a nossa vã filosofia! O ambiente estava muito escuro, pois não havia lâmpadas internas. O mestre foi até ao cômodo do oratório trouxe um archote com o qual acendeu os quatro archotes inclinados com um ângulo de 45º em cada nicho da sala retangular e daquela hora em diante não o vimos mais e somente sua voz tomou conta dos nossos ouvidos e entravam em nossas mentes e corações com um timbre mágico e uma ressonância perfumada de flores silvestres. “Vou revelar para vocês todo o sucedido após o desaparecimento de Merlin, quando subiu já em avançada idade ao Monte Thabor para orar e ninguém até hoje encontrou seu corpo. Sentindo-se Merlin já bem envelhecido chamou todos os membros de sua távola para informar-lhes onde se encontrava sob uma pedra na sua casa, um baú com toda a indicação do local onde depositara a continuação superiora de seus ensinamentos e levantou um grande pergaminho a ser depositado no mesmo, contendo todas as orientações do lugar onde estariam estes ensinamentos escritos contendo imenso tesouro. Ao mostrar o mesmo a todos os cavaleiros, ninguém conseguia entender os caracteres ali escritos, mas um cavaleiro, infelizmente muito curioso, iniciado na ordem muito mais por sua ambição material, percebeu ser possível ler o mesmo contra a luz no seu verso, pela posição onde estava Merlin. A curiosidade dos cavaleiros foi enorme, pois ali constava o mais profundo e refinado de todas as ensinanças da Távola Redonda. Merlin lhes informou ser autorizada a abertura daquele baú, após seu desaparecimento, somente no primeiro plenilúnio de maio posterior ao mesmo. Logo após a notícia da ausência definitiva do mestre, ocorrida na penúltima semana de abril, este cavaleiro ambicioso, vendeu a alma do seu mestre, entrando em sua casa, retirando a pedra e levantando o pergaminho contra a luz de um archote conseguiu compreender perfeitamente onde estariam enterradas aquelas placas do mais puro saber e riqueza, pois não saíra de sua mente a palavra tesouro e lhe interessava mesmo o ouro e não o conhecimento. Fez uma cópia com as orientações principais, colocou tudo no seu devido lugar, acertou a pedra sobre o piso e saiu sorrateiramente da casa. Então, dirigiu-se para o local determinado, encontrando facilmente a abertura da gruta ao remover as espessas teias de aranha. As paredes muito frias do local exalavam um cheiro insuportável de mofo e morcegos voavam desesperadamente em todas as direções, provando haver outra saída daquele lugar. Continuou por aquela compressiva parede de pedra e percebeu a uns duzentos metros depois outra saída para o exterior, por uma tênue luz vinda do teto respingado de uma água esverdeada. Carregava consigo um baú, onde escrevera por conta própria uma série de imagináveis ensinamentos e orientações para enganar aos cavaleiros, sendo depositado no lugar dos verdadeiros ensinamentos descrito pelo pergaminho. Dobrando uma abertura na pedra à direita conseguiu enfim encontrar a sala conforme detalhada no manuscrito de Merlin e viu bem ao fundo um pequeno altar de pedra com um baú de bronze no qual estavam os ensinamentos superiores e sagrados do seu mestre. Foi quando teve a idéia de disfarçar com mais requinte o seu crime e pensou assim; eu fecho a passagem principal com pedras e quando os cavaleiros vierem aqui comigo para encontrar a entrada, não a encontrarão. Então, eu finjo que Merlin me comunicara por sonho ser a entrada aquela superiora percebida no início de minha caminhada. Foi ajuntando todas as pedras necessárias e empilhando-as umas sobre as outras com uma argamassa de lodo e areia e assim foi subindo com muito cuidado a parede, sentindo-se muito satisfeito com seu trabalho e sua inteligência para o disfarce, de forma a ninguém desconfiar de sua artimanha. Finalmente só faltava uma pedra. Olhou por todos os lados e percebeu uma do tamanho necessitado no alto do teto, inclusive demonstrava facilidade de ser retirada e não perdeu tempo. Subiu agarrando-se pelas pedras, com toda a flexibilidade e robustez aprendida na escola de cavalaria e segurou a pedra com força, puxando-a, de onde houve um estrondo muito grande, desabando toda a gruta sobre si, soterrando-o. Quando chegou o plenilúnio de maio, em plena meia noite, os cavaleiros foram à casa de Merlin, arredaram a pedra, abriram o baú e ao retirar o papiro ele se posicionava justamente em frente ao clarão de um archote permanentemente mantido aceso pelo mestre por um irmão dedicado e puderam compreender facilmente onde estavam enterrados seus ensinamentos. Ao chegar ao local encontraram a entrada da gruta faltando apenas uma pedra, derrubaram a parede e já apanharam o baú a alguns passos da entrada, pois quando o teto da sala desabara sobre o cavaleiro desonrado, no susto ele lançara o baú para frente e somente ele ficou soterrado. Ao remover os escombros encontraram o corpo do irmão ambicioso, com um falso baú de ensinamento. De imediato para a lição de hoje eu informo a vocês, em primeiro lugar a nunca trair ou desonrar os ensinamentos de vosso mestre em vosso templo interior e jamais tocar na pedra angular do vosso templo para removê-la do lugar!”

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