pesquisar este blog www.francomacom.blogspot.com

domingo, 20 de janeiro de 2019

Carta poema aos mais novos


Quiçá tenha eu somente a paciência envelhecida da chuva, a convivência repetida do calor solar, a cosmosapiência recebida do brilho estelar, enquanto vocês vem com a força da semente, com o vigor do colorido na textura do fruto, com o esplendor contido no sorriso emergente da juventude inquieta, palpitante e salutar. 
Quiçá conheça caminhos serpentinos com desfiladeiros íngremes e tenha aprendido com os tropeços a me equilibrar sobre suas trilhas, saiba dos ventos marinhos trazendo suas vagas recordações das caravelas ancestrais, dos piratas escondidos em seus tombadilhos, da solidão permanente de algumas ilhas, momentos ancorados em descanso e empecilhos, porém, vocês revigoram as seivas das manhãs novas e reluzentes, reeditam o proclama da união com a esperança de um mundo melhor, mais dividido e balanceado numa nova equação, pois a minha relatividade ainda tem um sinal de igualdade, que lhes possibilita encontrar a unicidade na diversidade da aventura.
Não posso tomar-lhes as mãos e conduzir-lhes até às grutas do mistério, porém, posso falar mais sério, mais sóbrio sob alguns fios de cabelos brancos, depois de caminhar alguns anos trazendo em rugas o carimbo destas andanças, que ainda me adentro por estas grutas, sem medo, abandonando por completo o fio de Ariadne. Quiçá, neste comportamento, talvez possa ensinar-lhes que mais vale a pena procurar do que encontrar, pois o achado poderia se transformar num mausoléu de ilusões. Mesmo que tenhamos ainda a bússola, o astrolábio e o quadrante, para se equilibrar sobre as tempestades e o desconhecido, por esta razão, quem é instruído na arte de navegar, sabe ser preciso, aprende que cada instante suplanta outro instante e não é possível nem é interessante, querer segurar o mundo com as mãos. Quiçá tenhamos saído do teclado da máquina de escrever, do movimento repetitivo dos grãos socados no pilão, de reescrever todos os dias a giratória de moer os grãos de café, após torrá-los ao sopro das brasas ardentes, de ouvir o murmúrio desabafado do moinho d'água trabalhando a canjiquinha, de buscar na bica a água nossa de cada dia, e conseguimos num salto navegar com vocês na amplidão da tela plana de um computador, mas o que afinal de contas, podemos dizer?
Os anos nos ensinaram a traçar com os olhos várias diagonais e ter a sabedoria suprema de fazê-las todas divergentes partindo de direções múltiplas e opostas, mas de uma forma difícil de explicar, onde todas nascem do mesmo centro, e este lugar central, torna-se o ponto de encontro de todas as coisas, mesmo todas aquelas que estejam em planos divergentes, encontrando-se umas às outras num ritmo fora de si, porque compreendi que a razão essencial do cosmo é que seu centro está em todos os lugares ao mesmo tempo e sendo ao mesmo tempo um único centro. Quiçá esteja eu aberto a tudo isto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

as árvores

As árvores se comunicam sob o solo com suas raízes. Através delas se consolam, se amam e se completam. Elas são suas mãos, seus braços, se...