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domingo, 20 de janeiro de 2019

De mim para mim mesmo


Sendo um pateta que não deu certo, vi-me poeta, não de um dia para outro, mas desde todos os dias da minha vida. Em lugar de tropeçar pelas pedras dos caminhos e arrancar risadas alheias, esbarrei-me em idéias esplendorosas sobre tudo e sobre nada, pois aqueles que só se envolvem com tudo não chegam nem às periferias das coisas mesmas em si e sendo o nada o maior desafio e a mais nobre ponte a atravessar, atirei-me dela às correntezas do rio que passava por baixo e passava por cima e passava por todos os lados por onde passam todos os rios e se estendem todas as pontes. Esqueci-me tanto de mim que não me dei contas dos luminares oscilantes a que todos buscam com a avidez tamanha de suas bocas engolirem a si mesmos, abocanhar seus dias fecundos, devorar suas horas mais belas que não lhe apresentaram beleza alguma; escorregar seus momentos mais prazerosos entre os vãos dos dedos de suas mãos vorazes pelas honrarias, pelos títulos, medalhas e reconhecimentos de que nada lhe fariam belas suas tardes, suas manhãs e que apagariam suas estrelas do manto da noite! Sou o pateta que não deu certo! Bem vindo poeta em mim! Renasça porque em volta batem todos os sinos e jorram todas as pétalas sobre minha fronte! Há recém nascidos por toda a parte e não quis a morte suculenta de uma glória fútil! Não busquei os aplausos de uma platéia morta e tonta e joguei-me na eternidade com meus versos espalhados para o sempre amanhã de todos aqueles que sentiam em seus peitos uma vontade ininterrupta de amar e ser amado, de compreender o que é a leveza da brisa sobre os cabelos de sua amada; de sentir o que é uma canção de ninar da grande mãe com seu menino ressurgido das cinzas do tempo ou dos amantes fidedignos que buscam uma surpresa nova por trás das brumas dos seus leitos! Há quem pense que sou pateta! Ah! Se eles soubessem o que é trazer nas palmas das mãos o som de todos os órgãos centenários e carregar por aí um corpo tão leve como um manto sagrado a sobrevoar pelas ruas ou andar pelos mercados sem me afetar com o ruído absurdo dos que almejam apenas lucros...Ah! Se eles soubessem que enquanto eu caminho estou suspenso em um tapete mágico, embora ande com meus passos na aparência de um caminhar comum e sou tão leve, tão leve como uma pena dançando no ar, porque sou poeta, sou o pateta que não deu certo, sou o inverso daquilo que todos pensam que sou e sou o lado escondido daqueles que não sabem e não percebem toda a luz brilhando ao redor! Ah! Que pena tenho daqueles que buscam todos os holofotes sobre si, sem saber que todos os holofotes brilham sobre todas as coisas e que não há glória maior ou prazer mais supremo que mergulhar em seu brilho!

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