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domingo, 20 de janeiro de 2019

Conto dos olhos abertos


Rabino Youssef estava tranquilo em seu escritório. Era uma tarde chuvosa, das quais adorava, pois lembrava-lhe suas sagradas colinas de Andaluzia, motivo de muitas saudades. Nestes momentos colocava boleros e tangos antigos para ouvir, pois gostava demais. Principalmente das canções de Lucho Gatica. A secretária bateu em sua porta e ele abriu-a. “Senhor, há uma señorita querendo falar com o senhor!”. “OK, agradecido Myriam! Peça gentilmente que ela entre!”. A jovem entrou e demonstrava uma preocupação muito grande. Gesticulava demais com as mãos. Apresentava-se muito inquieta e preocupada. O Rabino ofereceu-lhe uma confortável cadeira e aquele sempre seu tradicional sorriso: “Sente-se, relaxe-se! Qué se passa?”. A jovem tamborilava o encosto de sua poltrona com seus dedos. Sinal de nervosismo que não passou despercebido do olhar do mestre. “Senhor Rabino, é sobre o meu namorado, que vim pedir conselhos!”. Rabino Youssef, sempre brincalhão, disse: “Não sei se você sairá daqui realizada com meus conselhos. Pois nunca tive namorados e não entendo muito disto, mas confesso que vou esforçar-me!”. É aquela tradicional comicidade judaica, marca presente da etnia hebraica. Com isto a señorita ficou mais à vontade e relaxada. “Rabino, meu namorado briga demais comigo. Ele não é nada carinhoso e não me dá atenção nenhuma. Eu estive doente durante uma semana e ele nem sequer telefonou ou visitou-me. Quando nos vimos não revelou nenhum sentimento de saudades de mim. Desculpou-se dizendo que estava muito envolvido com a sua pós-graduação, que lhe tomava o tempo todo. Agora, tem uma coisa estranha que ele faz. De vez em quando ele me magoa, xinga, me faz passar vergonha no meio das pessoas. Passa um tempo ele telefona para mim. Diz no telefone que o que ele falou não era exatamente o que eu havia entendido. Que eu não me preocupasse com tudo aquilo, pois eu compreendera mal o sentido do que ele havia falado. E assim, Rabino, nós vamos vivendo aos trancos e barrancos este namoro! O que devo fazer?”“. “Minha filha, quando ele te telefona pedindo desculpas, na realidade ele está te culpando. Ele está insinuando que você é que tem a culpa do fato. Foi você que não entendeu. Não foi ele que errou. Ele não está te pedindo desculpas e muito menos perdão. Ele está te sobrecarregando de culpas e mais culpas a cada situação constrangedora que ele cria. Ele não te visitou na doença porque ele é insensível. Não tem sentimento nenhum. Não se toca pelo outro. Não está nem aí. Seu mundo é seu umbigo. Minha filha, você é muito nova e tem a vida toda pela frente. Não é casada com ele. Não tem filhos com ele. O que está esperando? Sofrer a vida inteira nas mãos de um psicopata? Psicopata não tem cura, minha filha! Psicopata? Saia fora dele urgentemente. Não tenha dó de fazer isto. Caia fora enquanto há tempo!”. Meses depois a jovem voltou para agradecer ao Rabino pelo conselho. Levou seu novo namorado para ele conhecer. Ela estava radiante e feliz. Mas o cara era feio de doer. Mas não de doer a alma ou a consciência.

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