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domingo, 20 de janeiro de 2019

Otaviando

Otaviando

Não seja Otávio na vida! (José Do Amaral)
Otávio. Um ponto depois de um nome. Otávio é destes caras munidos de uma ideia fixa, porém, se lhe coube este ponto após seu nome, cabe-me informar de início o limite final de todos os caras assim e verão no decorrer deste relato até onde chegou este rigoroso homem. Não acreditarão, porém tenham cuidado se estiverem em tal situação. 
Otávio não suportava ser contrariado. Tornava-se furioso e por pouco quebrava tudo à sua frente e rasgaria as cortinas do templo se fosse necessário botar para correr qualquer recusa alheia. Chegou ao cúmulo de arrancar diariamente os mínimos espinhos das rosas do jardim, por não aceitá-los tão incômodos às mãos alheias; porém todas as flores murchavam e morriam antes do decreto do tempo, pois elas são os poucos seres deste mundo que florescem em meio da adversidade como um grande ensinamento e não tendo nada a ensinar se desencantavam em uma morte prematura.
Quando Otávio planejava uma viagem, emoldurava todo o percurso do início ao fim com as pompas do seu ideal do que seria uma viagem a uma praia paradisíaca, por exemplo; de forma a colocar em sua mente todas as ondas azuis do oceano, as rendas bordadas das águas na areia, o sol sorrindo de amarela alegria do teto do mundo, a água de coco geladinha, uma bela dona tirando peça por peça suas roupas sob uma palmeira e todos os etecéteras de seus pensamentos; porém, não compreendia a grande verdade heraclítica do universo que a lógica do mundo é o movimento, não havendo tal magnitude sem uma dose de contradição; donde se deve esperar em este supremo lugar, um belo dia de chuva com todas águas turvas e as rendas da areia são tecidas de restos de enxurradas, ou seja a água de coco amarga ou nenhuma dona sob aquela palmeira de plástico.
Como quando comprou aquele bendito maldito papagaio na feira, recomendado pelo feirante como propício a decorar qualquer melodia ou hino por mais complexo fosse. Otávio por semanas a fim deixou o bichano à beira de seu gravador repetindo ene por enes vezes o hino do flamengo; porém a adversidade é o movimento do Tao da vida, não presumindo um ranger longínquo do aparelho diante da sensibilidade da ave assustando-a e um belo dia por desespero Otaviano o verdão estava a cantar a hino do Vasco aprendido pela proximidade de seu poleiro aos fundos de um banheiro vizinho de um fanático vascaíno delirando sua canção por tardes inteiras.
Como o ponto acima após seu nome, foi este o ponto crucial para Otávio desiludir-se completamente com a vida sua de cada dia e cada noite, decidindo desta vez de uma vez (por favor não se irrite com meus pecados gramaticais, fique de olho nesta estória e se acalme), a trocar de nome, de emprego, de endereço na porta que partiu.
Após uma dúzia de cervejas bateu às cercanias de um cabaré e sob os olhares ávidos do gerente ganhou de imediato o emprego vitalício do qual deveria ter-se encaminhado desde cedo em sua vida e jamais escolhido outra função transformadora.
Cuidaria enfim do bom estado do salão, da qualidade das luzes, do deslizar das cortinas e do fino trato às dançarinas de streap tease ou outras espécies e semelhanças de shows ao delírio de todos.
Os anos se passaram sobre Otávio como um ferro de engomar e foi amaciando sua personalidade, amoldando e dando-lhe um perfume de gentileza, emoldurando seus gestos e trejeitos. Dançava como uma pluma ao vento. Rebolava como uma garça no pântano. Provara a grande lei da física, onde a toda ação existe uma reação, ou seja, uma força contrária com a mesma pressão ou intensidade.
Otávio. Otávio ponto. Ponto final. Ficou para além das fronteiras do cabaré noturno. Em seu lugar renascera de suas cinzas como uma fênix de Buñuel a esplendorosa, cativante, sexy, a mais linda travesty dançarina, a galinha de ovos de ouro do cabaré, Brigite!!!

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