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terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Desocultamento



Por si mesma sua casa era sombria e estranha, pois exteriormente apresentava ser um belo palácio erguido naquele bosque úmido, rodeado de flores brancas e um campo cinza perdia-se ao longo de uma estrada de pedras lavadas; porém a questão fundamental prendia-se ao fato da casa em si mesma, no seu embrião, por dentro desta casca externa aparente, era somente um imenso salão sem colunas, sem paredes e sem janelas, rodeada apenas por corredores, por onde tubulações se alongavam pela parede dos mesmos para a condução de ar e o invólucro palacial compunha-se de sete imensas torres à moda bizantina, assim como todos os compridos janelões com seus vitrais espelhando as cartas do tarô de Marselha.
Lá dentro ele, cujo nome era apenas um apelido, portanto Dr Ocultus e de pouco interessaria a qualquer pessoa, pois não mantinha amizades com ninguém, não o procuravam parentes ou quaisquer outras pessoas, a não ser os entregadores de suas compras depositadas em um ambiente a alguns passos da entrada, perfilada por vários pés de acácia; sim, retomando ao início, lá dentro, Dr Ocultus executava suas cerimônias secretas e foi esta a razão para escolher entre os milhares de construtores aquele mais inteligente, habilidoso, artista para efetuar aquela obra destinada aos seus rituais secretos e como afirmava ao construtor, “faça com todo o esmero possível, pois ninguém, ninguém mesmo descobrirá os segredos mais profundos de minha vida misteriosa!”. Desta forma, o capacitado profissional se dedicou à obra com toda a sua vontade e deu sua alma também ao espetacular trabalho, sem dúvida alguma a maior façanha de sua vida; embora seus longos anos de ofício a tantos nobres e príncipes; sendo este o currículo verbal apresentado ao Dr Ocultus; mas esta construção sim, marcaria o pináculo de sua capacidade laborativa! Ainda mais pelo fato de ouvir Dr Ocultus lhe afirmar jamais ser procurado por alguém, pois sua origem era totalmente desconhecida naquela região e ninguém o procuraria de forma alguma e ele também jamais contasse a alguém o esquema bem bolado daquela bela construção.
Dizem as boas e más línguas, “a maior surpresa nem sempre vem pelas portas do fundo e pode vir pela porta da frente”; neste caso nem teria como chegar de outra forma, pois o único portão existente era o de entrada mesmo do salão; assim o construtor colocou o olho mágico invertido, sabendo jamais ser usado de dentro pra fora, tendo em vista este relato e assim pelas pontas dos pés foi observar quais cenas ali se desenrolavam. Dr Ocultus vestindo um terno preto à la século dezoito com uma capa vermelha deu um frenético sorriso entre seus dois dentes pontiagudos surgidos dos cantos de sua boca e dirigiu-se ao centro do salão onde havia um caixão. Nele deitou-se para o seu costumeiro sono e sendo o construtor possuidor da chave da porta, pois já tinha maquinado tudo, correu ao centro do salão, fechou e travou o caixão; arrastou-o para fora do palácio e avançou pela campina cinza e assim o enterrou para sempre! Transformou o salão em um ponto de encontro amoroso, com uma bela placa de Motel do Amor no canto da estrada! Agora Dr Voyeur não é mais construtor! Voltou à sua verdadeira identidade! A sua especialidade sempre foi uma surpresa desconhecida para o oculto.

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