Por si mesma sua casa era sombria e estranha, pois
exteriormente apresentava ser um belo palácio erguido naquele bosque úmido,
rodeado de flores brancas e um campo cinza perdia-se ao longo de uma estrada de
pedras lavadas; porém a questão fundamental prendia-se ao fato da casa em si
mesma, no seu embrião, por dentro desta casca externa aparente, era somente um
imenso salão sem colunas, sem paredes e sem janelas, rodeada apenas por
corredores, por onde tubulações se alongavam pela parede dos mesmos para a
condução de ar e o invólucro palacial compunha-se de sete imensas torres à moda
bizantina, assim como todos os compridos janelões com seus vitrais espelhando
as cartas do tarô de Marselha.
Lá dentro ele, cujo nome era apenas um apelido, portanto Dr Ocultus
e de pouco interessaria a qualquer pessoa, pois não mantinha amizades com
ninguém, não o procuravam parentes ou quaisquer outras pessoas, a não ser os
entregadores de suas compras depositadas em um ambiente a alguns passos da
entrada, perfilada por vários pés de acácia; sim, retomando ao início, lá
dentro, Dr Ocultus executava suas cerimônias secretas e foi esta a razão para
escolher entre os milhares de construtores aquele mais inteligente, habilidoso,
artista para efetuar aquela obra destinada aos seus rituais secretos e como
afirmava ao construtor, “faça com todo o esmero possível, pois ninguém, ninguém
mesmo descobrirá os segredos mais profundos de minha vida misteriosa!”. Desta
forma, o capacitado profissional se dedicou à obra com toda a sua vontade e deu
sua alma também ao espetacular trabalho, sem dúvida alguma a maior façanha de
sua vida; embora seus longos anos de ofício a tantos nobres e príncipes; sendo
este o currículo verbal apresentado ao Dr Ocultus; mas esta construção sim,
marcaria o pináculo de sua capacidade laborativa! Ainda mais pelo fato de ouvir
Dr Ocultus lhe afirmar jamais ser procurado por alguém, pois sua origem era
totalmente desconhecida naquela região e ninguém o procuraria de forma alguma e
ele também jamais contasse a alguém o esquema bem bolado daquela bela
construção.
Dizem as boas e más línguas, “a maior surpresa nem sempre vem
pelas portas do fundo e pode vir pela porta da frente”; neste caso nem teria
como chegar de outra forma, pois o único portão existente era o de entrada
mesmo do salão; assim o construtor colocou o olho mágico invertido, sabendo jamais
ser usado de dentro pra fora, tendo em vista este relato e assim pelas pontas
dos pés foi observar quais cenas ali se desenrolavam. Dr Ocultus vestindo um
terno preto à la século dezoito com uma capa vermelha deu um frenético sorriso
entre seus dois dentes pontiagudos surgidos dos cantos de sua boca e dirigiu-se
ao centro do salão onde havia um caixão. Nele deitou-se para o seu costumeiro
sono e sendo o construtor possuidor da chave da porta, pois já tinha maquinado
tudo, correu ao centro do salão, fechou e travou o caixão; arrastou-o para fora
do palácio e avançou pela campina cinza e assim o enterrou para sempre!
Transformou o salão em um ponto de encontro amoroso, com uma bela placa de
Motel do Amor no canto da estrada! Agora Dr Voyeur não é mais construtor!
Voltou à sua verdadeira identidade! A sua especialidade sempre foi uma surpresa desconhecida para o oculto.
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