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sábado, 13 de abril de 2019

O Sábio do Ser

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Sabem de uma coisa? De forma alguma Al Ammar poderia deixar de atender ao convite do Sultão Saled, não por medo de uma retaliação, de forma alguma, isto não cabe a um Sábio, mas pela grande oportunidade de dar-lhe uma resposta viva e audaciosa, pois suas perguntas eram intrigantes demais, principalmente a um facínora, déspota e ditador, aprisionador em masmorras de lágrimas à alma poética de um povo! Portanto, decidiu subir aquelas íngremes escadarias do Palácio da Almedina, cantarolando baixinho umas canções de sua etnia Alarve e dos arredores sombreados de tâmaras da Madraçal onde estudara alquimia com os maiores sábios do além Saara. O burburinho do chafariz no centro da praça parece acompanhar o compasso de sua cantiga preferida e de seu coração benfazejo, enquanto um forte vento sudoeste balança os beirais de sua túnica como atafonas ao vento, enquanto observa as altas paredes de pedras forradas de az-zullayj lãzaward. Enfim, o Sultão o recebe no alto da escadaria e já o conduz para o salão central, onde estão diversos convidados, nababos se deliciando com os manjares dos mais diversos. O Sultão Saled está com uma pergunta no seu alforje e pensa pegar desprevenido o Grande Sábio, e o Eterno o tenha em bom lugar, mas Al Ammar é o maior e mais ilustre de todos os sábios banhados pelos horizontes saarianos.
Então, Grande Al Ammar nos responda o que é o ser humano? Dos olhos inquietos do Sábio fulguram estrelas naquele momento, “ora, meu Sultão, a sua pergunta está feita errada! Não se pergunta o que é o homem, mas sim como é o homem! Se me perguntar o que é, minha resposta será objetiva, entre elas, o homem é um animal racional, o homem é portador de consciência, o homem é um ser aberto ao infinito. Como vê meu grande Sultão, a resposta será sempre de uma separação entre nós e o homem que somos nós também. Assim nós estaríamos a coisificar o homem como se estivéssemos a observá-lo à nossa frente como um objeto! Não podemos reduzir o homem a um objeto, sendo nós o observador e sendo nós o homem! Mas se me pergunta como é o homem, aí sim, podemos iniciar uma grande palestra. Pois assim nós vamos nos avaliar em quais contextos estamos e em quais contextos deveríamos estar. Assim, refletiríamos como são nossas conexões sociais, políticas, econômicas, históricas, culturais e se olharmos em nossa volta e notamos pessoas passando fome, crianças fora das Madraçais, mendigos pelas muralhas das Almedinas, uma classe subjugando, oprimindo, escravizando toda a população, vivendo em farta luxúria e pompa, enquanto o povo morre de desnutrição; se percebemos que os frutos do trabalho humano não são divididos com os trabalhadores com justiça e igualdade, enfim, podemos dizer que o homem é um ser, é um ente que possuindo um ente interrogador acerca da verdade, da justiça, da igualdade, da irmandade, do perdão, da fraternidade, da liberdade, vai mal e precisa assumir sua condição máxima do ente que concebe o Ser! Para não dizer a vocês que um vento gélido e sussurrante pairou sobre o salão, apenas relato a saída furtiva de Al Ammar e seu vulto desaparecendo entre as sombras de Almedina, enquanto o Almuaden faz seu anúncio do cimo do Minarete.

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