Poema da cura

Dê à tua dor um dia de folga. Vá de mãos dadas com teu sofrer a tomar um drinque lá naquela esquina.

Há esquinas que dobram a novos viezes e novos horizontes!

Há momentos que são como doces das festas de crianças e vem recheados várias vezes.

Além daquela esquina há experimentos a te aconchegar e poderás caminhar sob o rocio caindo sobre teus ombros como mil fontes.

Viver é desfiar-se, é destrancar-se, é carregar consigo a chave que abre pela porta do mundo o teu abrigo.

Poema da caixa de fósforos

 

Bata poeta na caixa de fósforos a música da tua poesia.

Bata poeta para que os fósforos acendam poemas nos homens comuns.

Bata poeta, pois a vida é uma bateia. Batear é sinfonia. 

Viver é utopia sem utopia vivendo no meio do homem comum.

Viver é viver na poesia, uma outra utopia, 

um lugar a procurar que não esteja em lugar algum.

Bata poeta com bater compassado. 

Enquanto isto o inesperado bate na porta do passado.

Súplica da natureza

Eu sou a tosca miragem desta última clorofóbica folhagem. Depois não haverá mais nada. Apenas a paisagem robótica. Mas faça do que restou de mim sua última roupagem, na nudez de sua morada. Eu sou o último animal. Este rosnar espremido poderá ser sua última canção na hora da despedida, sem a brisa matinal.. Eu sou o último céu. Depois de mim, nada haverá de azul sobre todos como véu. Nem haverá nenhum mar para expandir e beijar a borda do seu chapéu. Nenhum sol outra vez brilhará. Pode esconder seu guarda sol. Eu sou a última das chuvas e nunca mais outra cairá, a não ser em cachos de ácidas uvas. Também não haverá ninguém. Ninguém para te esperar. Ninguém que ao dar-te um beijo deixar-te-ia fora do ar. Eu sou o último pássaro e não haverá outro a voar. Nem guarde este pleno voo, pois não haverá como guardar. Eu sou a última árvore. Não terá outra no lugar. Não faça nada de mim, Não terá tempo de usar. Eu sou o último rio. Não haverá outro a margear. Não beba de minha água. Minha água pode matar. Eu estou no fim. Você está no fim. Estávamos juntos desde o começo. Se não vivo sem você, você não viverá sem mim.

Vc 183

Sim, diga em que momento lindo, perfeito, ideal,

em nosso jardim interior, nós dois, dois passarinhos,

teremos aquele encontro sonhador, infindo, magistral,

seremos um par em um, por estarmos tão juntinhos!

Bem, quero abraçar-te com toda a minha fluidez,

como um rio romântico, serpenteia toda a planície,

dourar-me na areia ofuscante da praia de sua tez,

adentrar-me no misterioso prazer desta sua meiguice.

Venha com seu amor para juntos assim nos embalar,

quero seus seios de cetim, de ternura, sentir o seu calor

no cume mais elevado do seu  jardim, ali vou flutuar! 

A senha do nosso ardor, sei de cor como vou digitar,

vou tocar tecla por tecla do teclado de seu belo corpo,

ela é tão singela, somente digitar: vou sempre te amar!