Eu sou a tosca miragem desta última clorofóbica folhagem. Depois não haverá mais nada. Apenas a paisagem robótica. Mas faça do que restou de mim sua última roupagem, na nudez de sua morada. Eu sou o último animal. Este rosnar espremido poderá ser sua última canção na hora da despedida, sem a brisa matinal.. Eu sou o último céu. Depois de mim, nada haverá de azul sobre todos como véu. Nem haverá nenhum mar para expandir e beijar a borda do seu chapéu. Nenhum sol outra vez brilhará. Pode esconder seu guarda sol. Eu sou a última das chuvas e nunca mais outra cairá, a não ser em cachos de ácidas uvas. Também não haverá ninguém. Ninguém para te esperar. Ninguém que ao dar-te um beijo deixar-te-ia fora do ar. Eu sou o último pássaro e não haverá outro a voar. Nem guarde este pleno voo, pois não haverá como guardar. Eu sou a última árvore. Não terá outra no lugar. Não faça nada de mim, Não terá tempo de usar. Eu sou o último rio. Não haverá outro a margear. Não beba de minha água. Minha água pode matar. Eu estou no fim. Você está no fim. Estávamos juntos desde o começo. Se não vivo sem você, você não viverá sem mim.
Poemas e contos contribuem para a recuperação de nosso ser, viajando pelos nossos mitos e arquétipos, pelas lendas, pelas aventuras de nossa essência através das dunas do tempo.
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segunda-feira, 20 de março de 2023
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