Antes de lhes descrever sobre a enigmática, incrível e
fabulosa técnica da arte literária a mim ensinada por Geir Campos (Geir Nuffer
Campos, professor, poeta, escritor, teatrólogo, tradutor, editor, jornalista,
radialista, ativista cultural), um dos grandes talentos intelectuais da
Geração/45, meu conterrâneo, gostaria de afirmar ter sido seu aluno, discípulo,
oportunidade de ouro, durante suas visitas à nossa terra natal, como convidado
do Sr Heber Fonseca, nosso vizinho ao lado em frente à praça de Calçado;
amizade consolidada em anos, inclusive em Niterói. Para ser aluno de alguém não
é necessário estar nas salas escolares comuns e tradicionais, basta
lembramo-nos na Antiga Grécia a relação entre mestre e discípulo era no nível
dialógico direto do dia a dia; sendo esta a grande possibilidade de em nossa
vida ter sido iluminado por um Sábio. Após
vários contatos com este Grande Mestre, um dia perguntei-lhe, “qual o segredo
para escrever bem?” Vi o rosto de Geir Campos incendiar-se de sua milenar
cultura judaica com todo o seu conteúdo transcendental, “para escrever bem é
preciso não escrever!” Mas, explique-me “não escrever”, se a minha intenção era
aprender a escrever com quem o fazia magistralmente? “Não escrever aquilo de
sua intenção!” Mas como? “Deixar-se escrever!” “Fazer como os leitos dos rios
fazem para deixá-los fluir! Portar-se como a natureza permite chegar-lhe a
primavera!” No entanto, defina-me este “deixar-se?” “Estar à disposição!” Mas à disposição de quem? “Da inspiração!
Esta sim é o dom! Nascemos com ela, como à roseira é dado o dom de rosar, ao
pássaro o dom de cantar!” E como isto é possível? “Quando você sentir a chegada
da poesia ou do conto, quando percebê-los batendo à sua porta, abra-a, deixe-os
entrar! Não fale nada, pois eles são os visitantes auristos, são eles os
anunciantes de algo! Você é apenas o redator! Escute-os com atenção. Deixe de
lado o egoísmo, a vaidade de bater no peito, ter sido você quem escreveu isto!
Não, você é apenas o redator! Escrever é não escrever por si mesmo, por vontade
própria, para se vangloriar da obra literária! Se há uma honra a ser dada, seja
dada àquele mensageiro a lhe trazer o poema e o conto e cabe a você
simplesmente enunciá-lo!”
Assim, fui aluno, discípulo de Geir Campos e cuidei-me de
guardar a sua técnica literária, ou anti-técnica literária, antítese proclamada
antes da apresentação dialética da própria tese, caminho da humildade e da
simplicidade, “deixar-se escrever”!
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