Merlin

Caminhando em pedras estelares sonhei com Merlin, andávamos ao som
do carmim de sua voz ao meu lado; perguntei-lhe o que tinha a
dizer para mim e que me deixasse um pouco mais conformado.
“Nunca abandone seu festim, não o rejeite ou desonre, porque ele lhe foi
ofertado!” E assim Merlin me fez pensar: Se aquilo que a gente escolhe
é aquilo que nos elege, minha escolha foi escrever, e só escreve quem escreve!
Tem muita gente dedicada a escrever, sendo que sempre algo escrevem!
Escrever é como viver e se escrever é suar o punho e ainda estar prestes a jogar
moedas a todos aqueles que como desvairados e insanos lhe jogam pedras;
viver é passar a vida a limpo sem jogar fora o rascunho! Deixa o mundo se por, como
se põe! Que cada um viva suas cascas! Nós poetas jogamos fora as máscaras, vivemos
às nossas custas ao ouvir o canto do nosso pássaro cantor cantar no canto sagrado
do nosso coração para enobrecer nosso festim! Tem muita gente dedicada a escrever e
escrever não é fácil. Escrever é morrer na infância sendo chamado de louco.
Não sabem que escrever é ser incompreendido. Não sabem que escrever é como uma
vela que embora venham muitos a soprá-la continua a desvelar em si mesma,
porque em si mesma encontrou seu sentido. Pensam que escrever é fácil!
Escrever é estar correlato com seu destino! Por isto não jogamos fora o nosso festim!
Mesmo que desde menino, sofra a crítica mais daninha e cruel, o poeta encontra
na divina palavra seu reino do céu! O poeta anda com Merlin em seu caminho!
E quem o critica que tropece pela vida aos tombos e encha o rabo do seu Judas de mulambos!