Anjo milagroso

Perguntei ao Anjo Tecelão,
aquele que tece com calma,
o manto sagrado de cada dia,
com que fios tecia os meus,
como tranquilo meus dias tecia,
se era usando fios de bronze
que adornavam meus caminhos,
pois enquanto por eles ando,
mil flores perfumadas se abrem ao
som da revoada de mil passarinhos,
como o tanger repetido dos sinos
do alto das torres em seus ninhos.

Se com fios de prata intercalava,
para compassar meu encanto,
para brilhar como espada lunar,
em seu dorso riscando breve o ar,
para luzir nos tenebrosos dias,
aqueles que chegam sem avisar,
trançando com brilho na trama,
enquanto dançando se entrelaçavam!
tornando vívido o pó da estrada,
e a poeira carpida dos meus pés,
pingentes de coloridas madrugadas
amanhecendo em ousados convés.

Se com ternura usou fios de ouro,
a cada curva pálida da jornada,
fez de minha rota um tesouro,
premiando minha longa caminhada,
com uma rara caixa de pandora.
Seriam reluzentes raios solares,
de brilhos com alto teor crescente,
com luzes áureas por ela jorrada,
ao som diário de cada passada,
no vai e vem repetido do tear mor,
que é o maior de todos os teares,
tecendo meu ser com fios do amor!