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domingo, 20 de janeiro de 2019

Poema da superação


Não, não pretendo falar daquela ponte
com aqueles dois trilhos alongados,
a partir de sua cabeceira, enquanto
ela permanece gélida e calada como
um imenso elefante cinza petrificado,
mudo, silente, cálido em frente à savana.
Também não quero falar do rio que
passava por baixo, isto porque outro rio
passava por cima do rio carregando os
vultos dos pássaros do céu; mas daquelas
águas correntes, cuja única realidade é
a túnica estática das coisas aparentes,
destas coisas todas em nossa volta que
dão meia volta sobre si mesmas e sobre nós,
enquanto nós não nos vemos passar
por sobre os sulcos de nossas faces, pois,
quanto a mim, o rio que passa por sobre
o rio como um espelho do vôo dos pássaros,
é aquele tempo que passou dentro de mim e
o rio que passa sem cessar, não é o tempo.
Não, nunca será o tempo, porque não foi
o tempo que deixou as marcas na minha face!
Foi o fundo do rio, lá na sua mais densa
profundidade, na sua mais distante e permanente
quietude, onde nenhum poeta resolveu pisar
para amassar seu lodo e desvendar o que está
por detrás do seu palco, pois, é ali onde dorme
em sono mais profundo tudo aquilo que foi pesado!
Tudo aquilo que foi rejeitado, tudo aquilo que
por não ter sido suportado não se deixou correr
pelas águas do rio, mas que por outro lado, o
que seria do rio se o seu fosso não o houvesse suportado?
Quanto àquela ponte da qual não gostaria
falar, agora, depois de escapar-me do meu esboço,
posso interpretá-la de forma diferente!
Não é na altura deste poema aquele pesado
elefante! Ela se torna leve, leve como o girar
de uma roda gigante sobre o parque de todos
os acontecimentos! Ela me permite ir do fundo
ao teto e deste a todos os momentos reprimidos,
transcendendo-os como uma girândola colorida
vai desfazendo todos os nós com mãos de afeto.
E quanto àqueles trilhos além da cabeceira? Sim,
Desde o início eram vias de possibilidades, pois,
eram de marfim! A verdade mais nua e crua, ou
a maior de todas as verdades: a vida continua!

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