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sexta-feira, 7 de junho de 2019

Auto retrato

Sou poeta, por isto vos empresto meus olhos, meu coração e minha alma. 
Através de meus olhos podereis ver o que não percebia antes, não somente as coisas misteriosas que permanecem misteriosas, mesmo após decifradas, 
o que não é fácil de entender, porque o poeta não perde tempo com teoremas e enigmas, 
pois deles cuidam os cálculos e o raciocínio lógico, mas também de coisas singelas que vale a pena notá-las, 
como por exemplo um sol se pondo, uma flor pelo canteiro do caminho, um pássaro cruzando o céu, 
do vosso viver cotidiano, mas que estavam a anos luzes do vosso perceber. Também vos empresto meu coração, para sentir o que há de semente no pássaro, 
o que há de ninhos trançados nas árvores, o que há de fonte solar em tudo que há, mas que estavam tão perto de vós, 
que de tão perto se desfaziam ao longe. 
Vos ofereço por último a minha alma, para que possais intuir o ser, o ser uno e permanente, 
que vagueia no colorido do poente, que esvoaça nos ramos 
das árvores, que baila com o abrir 
e fechar das asas dos pássaros, cuja sinfonia vós não poderíeis ouvir porque lançastes o ser para bem longe de vós. 
Sou poeta porque não me afastei desta canção, 
deixei que as meninas dos meus olhos brincassem eternamente de pular corda na linha do horizonte.

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