Nas cidades de pedras os homens viviam truncados,
em seus peitos arfantes tropegavam suspiros
em morfemas trancados por guardas reinóis
em algemas trancafiados e quando saíam
às ruas não iam de braços dados a sóis
nem a luas, pois as ruas eram de pedras
e seus passos pesados carimbavam nas
suas rígidas arestas as chagas dos seus
fardos e seus vultos desalinhados como
párvulos e sombrios seres sem alma!
Um dia, com sete pancadas magistrais
bateram no grande portão de pedra da
cidade de pedra dos homens de coração
de pedra e quando o abriram com um
sorriso de pedra, viram-se diante de um
ser com uma face macia de lã e com um
gesto de amor no ar, como um bisturi
rasgando as vestes de pedra daquela
manhã e a vestindo com uma capa de
organdi, que as poucos foi-se expandindo
e a cada pedra abrandando, mudou em
cada retina a posição de cada astrolábio
e latejando perfumes de cinamomos e
cássias por cada viela e esquina e
retirando a venda de mortalha de seus
olhos, tornou-os tão leves como meteoros
e plumas, que já não andavam e sim
sobrevoavam sobre dunas macias, como
se entre videiras se põe a colher uvas e
entre macieiras se põe a colher pomos!
Dizem por lá que se venderam a Cristo
por trinta moedas, somente o amor,
o grande amor é capaz de mudar
os corações de pedras!
Poemas e contos contribuem para a recuperação de nosso ser, viajando pelos nossos mitos e arquétipos, pelas lendas, pelas aventuras de nossa essência através das dunas do tempo.
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sábado, 27 de julho de 2019
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