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sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Caso fora do comum


Esta extraordinária estória interiorana, fato verídico, registrado em cartório e documentado sob as vistas de todos, merece análise acurada, pois transcende esta existência pela sua peculiaridade surreal. Exige de início que nos localizemos geograficamente mesmo de forma simples e temporalmente, pois espaço e tempo são imprescindíveis na explanação de tão estranho acontecimento. A cidadezinha surgiu há tempos de bandeiras e entradas, à beira de um rio, lá no fundo úmido, frio de um vale silencioso, embora tenha rumorosa notícia até aos dias de hoje o fato sucedido. Naquela época sombria ainda era relevante a profissão de sapateiro, portanto Sr Renato Recoreco, então como era conhecido pelo estalar da lixa diária nos couros endurecidos ao sol, trabalhava proficuamente neste ofício, atendendo seus clientes, sempre cabisbaixo, cortando algum tecido, ou pregando algum solado, apenas sussurrando meia dúzia de palavras, forma tal que durante uma vida inteira só conseguiu realmente reunir em torno de si, apenas quatro amigos, este número é de suma importância neste caso, pois sua significância surgirá no final do mesmo.
Certo dia, sempre de cabeça baixa, acostumado àquelas estradinhas de um fio só contornando pastos, somente quando em vez uma coruja piando em um canto ou um passarinho pousando bem à frente, mas sem nenhum outro incidente para descompor aquela monotonia; assim como sempre, ou não desta vez, ao atravessar a rua em frente à sua sapataria, foi inusitadamente atropelado por um caminhão a mil, por incrível que pareça, por ali só passava também de mil em mil anos, mas passou, jogando-o sem vida à beira da calçada, sob atônitos olhares, alguns debaixo de seus chapéus suados, outros acima rogando bênçãos a Deus.
Somente seus quatro amigos providenciaram seu velório e enterro, afinal de contas, quatro seria o mínimo máximo comum necessário para tal empreendimento, sendo que o caixão tem quatro alças. Assim foi feito, sob as lástimas apenas de quatro rostos rolando lágrimas e lembranças antigas.
O cemitério ficava lá em cima daquele morro, sim, aquele lá no alto do povoado, o mais arriba como todos falavam, como se os mortos pudessem ficar mais perto de seus santos padroeiros. Para lá se dirigiam seus únicos quatro amigos, um deles com um atestado de óbito manuscrito, pois caso aparecesse algum parente seria útil apresentá-lo, pois este morto, ou seja, primeiramente morto, não tinha parente algum apresentado e morava sozinho nos fundos da sapataria, descalço de qualquer companhia.
Nisto aconteceu o maior fenômeno daquele mundo ignoto.  Outro caminhão vinha naquela direção e desgovernou. Notório afirmar aqui que estes caminhões se dirigiam para aquelas bandas naquele momento para comprar café, pois houvera uma crise nesta área comercial e os mais experts no ramo partiram para locais distantes em busca do ouro em grão arábico.
Assim, o caminhão atropelou do quádruplo ao quíntuplo o estranho grupo, matando os quatro únicos amigos de um único morto que desta vez morrera pela segunda vez!!!
Como sempre o Padre dá um ponto final nas estórias esdrúxulas da roça e exibia a todos, o espetacular Atestado de Óbito que mandara fazer. Atestado de Óbito fora do Comum: Faço saber a todos e a todas, curiosos, fofoqueiras, ou sabedores de última hora que de certa forma a morte foi inicialmente de quatro, pois de quinto fica difícil, sendo que o quinto já se encontrava primeiramente morto e tornou-se remorto, ou seja, morto pela segunda vez. Que Deus cuide da alma do Sr (Re)Renato (Re)Recoreco, uma vez que seus quatro amigos eram desconhecidos da nossa comunidade e segundo os mais cônscios, já habitavam algum lugar naquela região do Campo Santo.

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