Voltava Stefany toda feliz, encantada com a vida como sempre, pisando sobre as folhas caídas daquela ruazinha deserta, onde escolhera morar por ser mais romântico e bucólico. Lembra-se de seu pai e do cinema antigo cujos filmes ele a enviava e sentia-se como Soledad, la Violetera vendiendo violetas en la calle frente al teatro.
No entanto ao entrar em seu apartamento vem
imediatamente em sua cabeça a dúvida de onde realmente viria aquele som
incrível, aquela melodia elevando sua alma ao mais infinito do universo.
Sendo professora de música a intrigava demais, pois aquela sinfonia
transcendia a quaisquer deduções de todas as pautas musicais conhecidas.
Abriu imediatamente a janela para ventilar o interior da
sala, afastou suas cortinas de cetim, mirou a ruazinha cândida e algumas
estrelinhas brilhando como pirilampos sorridentes....A música iniciou sua
sinfonia entrando por sua casa, perfumando seus quartos e todos os espaços
internos... Mas de onde viria?
Stefany criou coragem, ou hoje ou nunca encontraria a resposta
a esta intrigante questão, aliás, interessantíssima, pois lhe acrescentaria um
conhecimento transcendental de música, pois parecia algo extremamente novo e
místico ao mesmo tempo.
Então resolveu perguntar aos apartamentos em volta e não
vinha de nenhum deles! Subiu andar por andar e não era de nenhum apartamento. A
única pessoa dedicada à música naquele espaço era somente ela.
Dali surgiu até comentários, fofoquinhas domésticas por baixo das portas de todos os vizinhos, " ela quer aparecer para se dizer
música"; porém, em nada isto a tocou. Era uma pessoa totalmente
ligada ao mistério profundo do cosmos.
Louca, tinha certeza absoluta: não era! Demonstrava confiança
plena de sua sanidade mental, total equilíbrio de todas as suas ações,
pontualmente perfeita em todas as suas responsabilidades... Mas de onde vinha
aquela música encantadora?
Não existiam prédios vizinhos... Como decifrar o enigma de
todas as noites? Morando no interior da Esfinge de Gizé não se encontrava e não havia recursos para responder à sua inquietação.
Fechou a janela da frente, as cortinas e foi dormir. Veio-lhe
uma ideia surpreendente naquele momento. Se fechasse a janela a música parava
de tocar, quando a abria a música voltava em plena partitura e sinfonia.
Olhou novamente as estrelinhas brilhantes quando o universo
abriu-se totalmente aos seus olhos e uma imensa orquestra cósmica deslumbrou um
som maravilhoso e inigualável. Ela estava ouvindo a música das estrelas, pois
conseguia viver suavemente no limiar entre o microcosmos e o macrocosmos, onde
o equilíbrio total da perfeição, da beleza, da bondade tocava-lhe seu infinitesimal
ponto espiritual no interior mais divinal do seu ser, com a riqueza da música universal.
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