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terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Conto clarividiaudiente

Andava um dia o poeta clarividente entre os canteiros de flores da praça como entre galáxias, pois é no espaço onde se encontra o mais evidente; o que seria o mundo aparente se não houvesse o interstício entre uma coisa e outra? O que seria cada coisa se não houvesse o espaço que as recebesse?

Andava assim o poeta clariaudiente ouvindo o farfalhar das pétalas, das folhagens, das asas dos pássaros e os sons mais profundos que o homem comum não é capaz de ouvir, pois só consegue ouvir e ver o mais superficial e não o mais saliente que está em um reino mais sutil.

Digamos que o poeta navegava naquele local, pois passear atento ao que há de mais belo é como controlar um barco na chegada de um porto às portas de uma grande cidade ancestral e para trás o grande mar incógnito, pois navegar é viver.

Pensava porque ventura aquela mulher tão bela que passeava com seu cão era mais linda que a miss universo? Sim, sua suntuosa presença a elevava ser musa dos seus versos e com isto resgatava a mais plena e pura beleza que possa caber na captação de um olhar. Seu andar controlando o cão era como uma chama acendendo por dentro a alma do poeta e se elevava como uma taça em um brinde de emoção; sendo um louvor ao pensamento e uma prova de que neste imenso mundo pode haver coincidências por toda parte, mas nenhuma delas chega aos pés do sincronismo.

Este raro acontecimento de uma manhã de sol com céu claro azul de poucas nuvens, por incrível que pareça abriu um enorme arco íris depois de uma chuva de emoções e sentimentos que caíram sobre aquele observador atento a cada movimento, a cada ação por mais interna que fosse, mas que foi tocado por aquela presença em cheio no centro do seu self, no local unificador de todos os planos do seu ser.

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