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domingo, 20 de janeiro de 2019

Conto do casamento eterno


Havia muitas luas que o Sábio Al Ammar não visitava seu grande amigo Allain e após uma peregrinação por várias aldeias onde deixava seus ensinamentos jamais olvidados por quem quer seja, agora se encontrava à porta de sua moradia e por sete vezes tocou no batente e esta se abriu surgindo a figura esguia do mesmo sob seu tradicional turbante, “tifaddal!” e com um inclinação convidou ao Sábio para entrar, “salamu aleikum!”, “salamu aleikum habibi!”.
Na sala já estava sobre o tapete central todas as iguarias possíveis oferecidas a um amigo tão querido, como mhamara, tabule, falafel, myaddara, esfiha, kibe, entre outras e desta forma se sentaram o Alcaide e seu amigo Sábio, logo lhe perguntando, sobre como estavam as preparações para as festas de Nikah, casamento tão esperado do Alvazil. Este enumerou todos os cuidados já ensaiados e comentou esperando uma resposta de conforto, “pois bem meu grande amigo e respeitável Sábio, a Medina está se preparando aos poucos para este grande casamento entre um ministro tão rico e uma simples e meiga donzela do deserto. Parece uma união de opostos. O Alvazil adora exibir ornamentos de ouro e pedras preciosas, seus anéis, suas roupas suntuosas, seus alazões com celas bordadas a prata e ouro e o pior disto meu amigo, é que quanto mais ele se exibe, menos ele consegue a simpatia e admiração das pessoas! O que o senhor acha disto?”. Al Ammar sempre com sua forma brincalhona, pergunta em seguida, “da comida?”, ao passo que seu amigo lhe responde, “não, sobre o que relatei do Alvazil!”
Al Ammar, estende seus braços e pergunta ao Alcaide, “o que seria de nós se não fosse o vazio desta sala? Se não fosse o espaço acima deste chão onde estamos sentados nestes tapetes? Se não fosse os vazios sobre os pratos que recebem estes alimentos? Se não fosse os vazios destas taças que se preenchem com estes deliciosos sucos de tâmaras? Quem se enche de coisas materiais como se fosse tudo na vida, se enche de coisas passageiras! Aprendi aos pés do Himalaia em minha última viagem que o maior responsável pela dor e sofrimento humano é o apego à ilusão do que é passageiro, que são basicamente em primeiro lugar todas as coisas materiais ou também todas as nossas fantasias, provocando um afastamento da verdadeira realidade que é nosso ser interior e eterno. Se uma taça fosse ambiciosa ao ponto de ser mais taça do que seu próprio destino, ela seria uma taça maciça e não teria espaço algum para se preencher com um líquido maravilhoso. Um prato também se quisesse ser mais prato do que aquilo destinado a ser, não teria condições alguma de receber qualquer alimento sobre si; se as paredes de uma habitação quisessem ser mais largas do que são e se juntassem todas na ambição de ser ao máximo, as casas seriam blocos de pedras e não serviriam como proteção e residência. Assim também é o ser humano que só quer, quer e deseja vorazmente mais bens materiais a cada dia sobre dia! Todos se afastam automaticamente dele, como estão a se afastar do Alvazil! É o vazio meu caro amigo Alcaide, o que mais importa! É o vazio que faz o prato servir, é o vazio que faz a taça servir, é o vazio que faz a casa servir! De que adianta encher as mãos de tesouros se eles escorregarão entre os vazios dos dedos? A matéria só existe em movimento e se dilui com o tempo para se transformar em outras coisas materiais! Ninguém é dono de nada. Nem do seu próprio corpo. A realidade deste mundo passageiro é o movimento da impermanência! A única realidade é a eternidade de nossa alma! Quanto mais nos esvaziamos desta ilusão material, mais nos aproximamos de nossa eternidade, que é o único que deveríamos realmente assumir como nosso!”
O Alcaide, exclamou com um gesto, “então tudo está perdido na Medina, meu caro amigo Al Ammar!”. “Não, meu prezado amigo Alcaide, as mãos do Eterno são sábias. Percebe com quem o Alvazil vai se casar? Com a doce e encantadora Cintiah! Assim ele aprenderá dia após dia, lua após lua, a busca pela verdadeira realidade anímica do ser humano! O encontro com o vazio permanente pelo esquecimento da busca ambiciosa das coisas materiais em um casamento alquímico do ser com sua própria eternidade!”
A conversa durou muitas horas, mas estes ensinamentos são narrados oralmente pela imensidão dos tempos, por todos os sábios da Sagrada Ordem.

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