O que ele conversava silabicamente com sua peruca, em um cantinho de seu catre naquela úmida cela, horas e mais horas, às vezes à noite, às vezes ao dia? Este diálogo será revelado daqui a pouco.
Para os guardas de presídio, sintomas tão comuns de loucuras, provocados pela condição de presidiário, por quem estava acostumado a uma vida luxuosa e reuniões em grandes salões de magnatas e da nata dos bilionários.
Sobre suas empresas existentes apenas como websites viajando pelos computadores do planeta, ninguém desconfiara antes. Sobre seu circulante apelido de Barão de Mauá II, já caíra em desuso após suas algemas bem colocadas na chegada do aeroporto. Sobre seus carros luxuosos importados, agora colocados em leilão, também não interessava a nenhum cidadão comum, por não possuir nem a milionésima parte para ofertar de entrada.
Mas quanto sua calvície, difícil de acreditar, esta sim foi a grande jogada que ninguém poderia imaginar. No decorrer deste relato vocês vão perceber que o cabra era fera mesmo.
Aparentemente sua peruca era simples. Embasada com um deslize bolsonárico para a esquerda. Queda só permitida na cabeça de um capitalista falsário. O conteúdo dos cabelos com certeza foi comprado de algum boy de periferia. Estes de vida curta e longos relatos nas páginas policiais. Cala-te boca!
Mas porque ele segurava com tanta delicadeza aquela peruca, com seus dedos deslizando pelo seu fundo em traços magnânimos de ternura e amor profundo?
Bem, o final que vos oferto é bastante intrigante, mas vamos descrever este esqueleto a partir dos tarsos e metatarsos dos fatos.
Apresentou a partir da primeira semana, graves crises de insônia e depressão. O melhor psiquiatra veio imediatamente medicá-lo. Não tão rápido assim. Um doutor americano, por mais urgente seja, leva no mínimo dois dias para alcançar seu paciente. Ninguém entendeu nada do que ambos falavam. O presumivelmente célebre psiquiatra passou a residir na capital e o tratamento seria feito com duas visitas semanais. No laudo escrito em inglês, constava insônia profunda e depressão irreversível.
Mas quanto ao seu apreço com sua peruca?
A explicação do médico foi clara. Também escrita em inglês. Acalmou toda a atônita platéia de guardas. Um provável amor escondido nos meandros de sua inconsciência por algum jovem real ou imaginário!
Mas seus casos amorosos com milhares de modelos de primeira linha?
Bem, poderia ser um disfarce. Afinal de contas ele era o Rei do disfarce!
Finalmente, a justiça decidiu por sua prisão domiciliar, comprovado o avanço de sua doença mental.
Para casa foi conduzido com sua peruca amorosa debaixo do braço. Apenas um disfarce? Vocês acreditam nisto?
A verdadeira peruca não existia mais. Esta era somente uma réplica daquela.
A única réplica superiora à original. Era um sofisticado mini tablet fabricado por encomenda na China.
Através dela, com nome falso, ele controlava várias outras empresas de websites com softwares avançados, retornando ao seu estado anterior de bilionário. Maníaco depressivo com insônia e depressão aguda? Jamais! Trabalhava noite e dia para cobrir os fusos horários do globo terrestre! Agora careca? O que importa? Ele não era nem um pinguinho vaidoso. Ele era apenas o investidor mais ambicioso do planeta. Ele era o Rei do disfarce!
Quanto ao psiquiatra americano, fica por conta de vocês, na altura do campeonato, as mais tenebrosas deduções.
Poemas e contos contribuem para a recuperação de nosso ser, viajando pelos nossos mitos e arquétipos, pelas lendas, pelas aventuras de nossa essência através das dunas do tempo.
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