O fatídico cartão de natal

Aquele cartão de Natal que Anito recebera pelo zapzap, o deixara confuso; rodava o apartamento de fora a fora, abria a janela para respirar... músicas, folheou vários livros....mas como conseguir o que pretendia a ressabiada advertência que vinha escrito abaixo; o que poderia também ser um conselho, ou quem sabe....um presságio; sendo que é bom ressaltar não ser comum em cartões de Natais sem fim, coisas deste modo e que geralmente os cartões trazem grandes mensagens de monstruosas baboseiras do mais comum dos mais comuns dos mortais...porém, como enfrentar aquela situação?
Bom, abaixo de um presepinho todo equipado, em letras bem reluzentes, inclusive em calibri 20, um ajuizado recado, incitando-o a escolher um lugar propício naquele presepinho que fosse de sua intenção compor como mais um componente, no meio de tantos figurões; sem levar em conta que o jumento e o leão estão ali presentes e quem sabe da impetuosidade de um e da bravura do outro, não sei se entraria desprevenido em tal recinto de matrix...
O que deixou Anito mais perturbado, justamente seria buscar seu espaço naquele lugar já bem determinado e definido; uma vez que Maria não cairia como uma luva para ele, sendo que lá estava bem vestidinha de manto azul, como vestira naquela noite de chuva intensa para confundir os mais ousados e realizar seu sonho escondido a sete chaves no porão de sua infância, mas os boêmios aparecem com estranhas promessas nas noites impetuosas...muito menos José, velho carpinteiro que lhe recordava seu pai, incompreensível ancião do final da rua, fazendo barulhos e poeiras com sua serra circular, cortando-lhe também suas mais profundas necessidades humanas de ser somente por ser como sonhara...Menino Jesus, não! Bonequinho de louça, com as perninhas abertas, de fraldinha e carinha de anjo, coisa mais estranha, inusitada e nefasta para um Deus potente e criador, uniciente, unipotente e unipresente, ali todo mijadinho e dependente.
Animal? Qual??? Boi, burro ou jumento, galo, carneiro, colocaram uma girafa, um camelo, alguns porcos, umas galinhas, um casal de leões....faltava uma cobra!!! Não! Este tipo de réptil, nem pensar! Jamais despertar sua Eva e despencar seu Adão, em uma noite de Natal. Animal não era coisa de sua vontade para entrar naquele presepinho! O melhor seria beber...uma vez que os Reis Magos são apenas três e não ficaria bem um quarto Rei Mago! Somente beber poderia levá-lo a esquecer daquele fatídico convite sobre qual tipo de personagem ele gostaria de ser no presepinho de Natal.
Então começou a beber...a beber sem parar....na última garrafa do engradado, viu-se desprendendo do seu corpo...enfim...no presepinho faltava a Estrela de Belém!