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segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

O casal da sala monolítica

Entre casais já ouvi dizer de vários pactos de amor infindáveis, alguns bem relatados em contos pitorescos, outros antigos e medievais de donzelas raptadas no bom aceite dos amantes e levadas a praias distantes para uma vida digna de um menestrel; alguns pactos realmente nos deixam arrepiados dos pés à cabeça, da infância à velhice e se fossem propagados pelos quatro pontos cardiais do planeta criariam um pane universal, um alvoroço que levantaria revoada de pássaros das manhãs às tardes inteiras e por noites consecutivas até a chegada inesperada dos tão propagados cavaleiros do apocalipse.
Ah! Sim, por citar neste momento estes enigmáticos seres que segundo uns surgirão da última noite dos tempos e segundo outros já varrem as avenidas das grandes cidades com suas motos impetuosas, sinal de um tempo insuportável contra si mesmo, onde as horas são pontuadas pela ansiedade da busca incessante ao prazer, à volúpia, à surpresa imediata, cada vez mais renovada em sua imediatez, busca incessante, inescrupulosa, de onde surgiu de seu ponto de partida um casal que se apaixonou profundamente e deslizavam suas motos em altíssima velocidade com as mãos dadas, tornando o risco de acidente muito mais próximo do que se pode imaginar.
Não, esta espécie de fim trágico não é do que se trata aqui, mas é de se esperar uma tragédia bem superior a esta imaginada, uma situação inusitada, sem a mínima condição de reversibilidade, sem volta, sem troco, sem possibilidade alguma de recuperação pela destruição interna causada naquela pobre senhorita que até então não experimentara o amor em nível tão profundo; basta pesarmos a decisão dos dois de não mais arriscarem suas vidas pelas madrugadas inteiras naquelas máquinas voadoras, pois amar era mais importante e arriscado do que aquela correria maluca onde muitos perderam precocemente suas vidas, então influenciados por um guru indiano, entraram na onda da meditação e aceitaram o convite lenoniano-iokiano para curtir a paz e sua serenidade complacente como uma corda de violino.
Violinos têm cordas frágeis e todos sabemos disto, mas vamos continuar com este interessante caso cujo fim nenhum de vocês poderia imaginar. Os dois decidiram experimentar o sabor de uma distância a meio palmo, pois uma coisa é mais do que certa, quem viveu como eles viveram o desafio daquelas corridas perigosíssimas, não suportaria ficar por muito tempo naquela situação lânguida de mantras intermináveis pronunciados sob a cerração baixa de incensos dourados e luminárias pequeninas da cor violeta ou anil; de sorte que decidiram morar em apartamentos separados e que estivessem unidos por uma sala de bate papo da internet, desde que estes recintos estivessem bem decorados à moda oriental com suas luminárias foscas e suas aparências de antigas praças de cidades adormecidas.
Com a passagem dos meses uma grande mudança sucedeu nestes estranhos seres ao se aprofundar cada vez mais na mística esotérica do clima daquela espiritualidade, tornaram-se grandes ascetas compenetrados em intrínsecos modelos de entoações de mantras, de prolongadas meditações e experiências complicadas com asanas das mais imagináveis possíveis que se expunham diariamente em suas janelas de bate papo diante de suas estranhas salas providenciadas pela complexidade da tecnologia avançada e de ponta.
Há quem diga que após o cume dos montes, o ápice de suas extremidades, resta somente o céu e este não tem limites, pois bem, quanto mais meditavam, também se distanciavam um do outro, pois é de praxe afirmar, que na base de todo o comportamento humano, principalmente este correlato ao casal em sua busca desesperada em início pelas corridas impetuosas, logo transformadas em um fanatismo espiritual, sim, na base deste comportamento há um sintoma bem alojado e escondido no inconsciente, quase sempre advindo de uma infância sob a égide da repressão ou da cegueira religiosa familiar proveniente ao proselitismo acentuado e quando isto não recebe um tratamento adequado, vemos na existência deste ser uma variância de atitudes desesperadas e volumosas sem dar fim.
Desta forma Eliana, nome inclusive muito belo, decidiu provocar seu amante, providenciando outro amante catado no varejo das ruas; assim agarradinha com ele apareceu de repente na sala de bate papo diante do seu primeiro amado para experimentar mais esta nova sensação, sendo que era uma vítima eterna deste tipo de procedimento, com certeza encontraria desta vez mais uma novidade visto não ser a última, conforme bem explicado.
Mas o seu primeiro amante desta vez também não estava, pois fora em busca de uma viagem sem fim pelos oceanos e deixara apenas a sala de bate papo bem arrumadinha com suas luminárias foscas, seu incenso, seus longos mantras entoando como shofares desmedidos; de tal forma que ela ao se deparar com aquela cena viu-se obrigada a engolir o espanto que não causara no outro; custa-me dizer-lhes prezados amigos e amigas que a coisa não parou por aí, pois de agora em diante ela encontra-se totalmente perdida, pois todos sabemos que não se deve tirar do cego o seu cajado ou seu cão e aquelas luzes foscas, aquele incenso, aquele mantra, agora totalmente acoplados à sua imagem colada a outro amante, provocativa, sensual, não lhe traria mais a paz que conquistara ultimamente nos seus momentos mais críticos e como ficaria agora diante daquela sala mística com aquela lâmpada violeta e anil ou diante de todas as salas que lembrassem a sua impensada atitude? Qual desenfreada busca no direito do seu pano de vida cobriria o caos emergido no avesso do seu pano da vida? Que outras luzes? Outros incensos? Outros mantras? E como de agora em diante por impensada conduta estar diante de luzes místicas, incensos, meditações e mantras esotéricos?

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