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segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

O voo do unicórnio

 Neste estranho episódio, cujo epílogo tem fenomênico caráter surrealista e inesperado, é notório revelar antes como prólogo a força exercida sobre um ser através de um pensamento fixo, destinando-o a uma mudança de vida e de rota assinalada, além de um giro completo sobre todos os seus planos traçados. O galo ou lombinho de sua testa, dedicando-lhe a alcunha de Unicórnio não diminuiu o interesse daquele inusitado senhor pela filosofia iniciado em sua plena juventude, ao olhar o céu forrado de estrelas em sua cidadezinha natal e indagar-se como seria o universo além delas; tal pensamento foi-se ampliando de forma a perguntar e reperguntar mais além ainda, bem mais distante possível quando ponderou não haver limites a ele mesmo, nem ao seu pensar, nem a nada e se não existissem demarcações definidas como se procederia daí em diante seu raciocínio levando em conta não ser possível imaginar algo sem fim ou algo com fim em termos de universo, pois o próprio fim seria o início de outro universo e assim... Graças a um tropeção em uma pedra em seu caminho custando-lhe um rombo no rosto viu-se interrompido aos seus miraculosos pensares. Mas se havia esta pedra no meio do seu caminho, diferentemente de Drummond ela não levou à poesia e sim à filosofia, embora a partir de sua própria parentela tenha sido enviado às profundezas do inferno e tomado alguns pontapés no cós da calça.
Dentro da universidade além desta questão das origens das origens, também sucederam outras como de onde vim e para onde vou. Pensando ter vindo mais recentemente em comparação ao começo de tudo, deveria ter vindo mesmo a partir do big bang ou grande explosão; conduzindo-o também a uma incognoscibilidade fantástica acerca de si mesmo, pois se foi através da grande explosão, com certeza estaria dentro dela, ou seja, no seu potencial, e se fosse reduzindo todas as possibilidades aplausíveis de si mesmo, estaria junto ao início e necessitaria agora desta feita, justificar o início do início, pois nada poderia vir do nada, sendo por observação dentro da lei de causa e efeito, todas as coisas se originam de outras coisas sucessivamente. Da mesma forma encontrava-se preso em buscar o sentido de para onde vamos e se fosse este um local distinto de todos os locais possivelmente pensados onde estaria, se realmente estaria em alguma parte e se esta parte fosse separada de todas as outras já avaliadas, então haveria outros universos paralelos a este, não conhecidos ou pensados pela ciência, a não ser imaginados pelo viajar livre no reino da maionese. 
Ora, se o fundamento do filósofo é pensar na raiz da questão, ou seja reduzir ao máximo até chegar ao mais possível da cristalina consciência, comportando-se como a teoria atômica vinda de Demócrito, onde vamos até ao á-tomo, ou seja, ao indivisível, com um comportamento reflexivo, ou seja onde o pensamento se debruça sobre o próprio pensamento para julgar o que o pensamento pensa, dedicou-se nosso prezado filósofo a inquirir se houvesse ainda outra pergunta com as mesmas características dos primeiras, isto é, qual a origem do mundo, de onde viemos e para onde vamos, podendo levar ao pensador a uma nova indagação colocada a serviço da árdua procura filosófica.
Tantos anos em busca de tais conceitos infindáveis em si mesmo, sem parar de quando em vez em um barzinho para divertir-se com os amigos, sem arrumar uma namorada, sem pentear direito seus cabelos e cuidar bem de sua aparência, nosso dedicado filósofo encontrou finalmente uma pergunta do mesmo quilate das três primeiras, “Onde fica o lado de lá?”, e assim desesperadamente saiu a perguntar a todos por onde os encontrasse, “Onde fica o lado de lá?” e realmente pelo espanto, os olhos esbugalhados, a fisionomia perplexa de seus interlocutores, não era uma pergunta fácil de ser respondia e merecia com certeza um estudo profundo da mesma e deu-se entendido ter realmente descoberto uma nova indagação filosófica da qual se ocuparia a humanidade por milhares de anos com certeza.
Pensava consigo mesmo na profundidade de sua descoberta, pois o lado de cima era indubitável, está realmente sobre todos, não há quem duvide encontrar-se sobre a cabeça de todos os mortais e perguntar sobre ele seria uma idiotice das maiores apresentadas e não faria disto um sábio. O lado direito, por mais rodopiado alguém encontrasse, também seria demarcado com facilidade, assim como o lado esquerdo ou o lado de baixo, sob os pés de todo mundo, inclusive sob os dele, pois após o tal tropeção já relatado em sua mocidade, também passou a cuidar-se dedicadamente, com seu olhar preso ao chão herdando-lhe um torcicolo insuportável, porém menos arriscado.
Sentia-se assim diante de uma nova ironia socrática, mesmo preso naquele fedorento hospício, mas como filósofo de carteirinha, sabia como o sábio ateniense, a responsabilidade de assumir sua cicuta por mais intragável fosse; lugar aparentemente inóspito, mas de onde nasceram sólidas amizades e onde inclusive encontrou figuras consideráveis a concordar com ele e sua pergunta fantástica “Onde fica o lado de lá?”, estas alguns médicos outrora cuidadores de grandes imperadores da história da humanidade ou outras figuras proeminentes como Napoleão Bonaparte, Alexandre Magno, Sócrates, Platão e Aristóteles, este três viviam muados em um canto disputando por purrinha quem mataria a próxima mosca a entrar na cela.
Alegrias sucessivas foram acontecendo dia a dia a um filósofo, já considerado o maior filósofo de todos os tempos, pois estava sendo admirado por Júlio César, o grande imperador romano, pela linda Cleópatra acordando todos os dias às quatro da manhã e de sua cela cantava sem parar a conhecida música tico tico no fubá. Finalmente uma travada amizade com Zumbi dos Palmares foi o suficiente para tramar a grande fuga daquele recinto, pois com toda a certeza o lado de lá estava do lado de lá daquele hospício, uma vez que em uma noite de grande tempestade descobriram o local exato do lado de cá ao verem cair grande parte das paredes daquele fétido lugar e fugindo guiados por Zumbi dos Palmares em direção ao grande morro de sua origem, onde havia felicidade e liberdade por toda a parte. Por onde Michel Foucault se passasse não teria escrito seus famosos livros, A História da Loucura, O Nascimento da Clínica e As Palavras e as Coisas, pois no meio daquela gente simples e humilde havia liberdade bastante e suficiente, para ser como se fosse, vivesse como se quisesse e no esplendor da noite dançar e cantar sua vida em samba.

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