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domingo, 20 de janeiro de 2019

O retrato


Naquele dia ele abriu a janela e viu o sol brilhando como nunca. E o sol dourava as flores dos jardins e dourava mesmo as mais simplesinhas de todas, aquelas tão pequeninas de quase não se ver. E ele viu que o sol cobria também outras casas e muitas outras mais além. Seu clarão e sua luz incidiam sobre todos como um manto dourado e bordado de cristais. E os passarinhos cantavam por todos os lugares e voavam felizes com seus mergulhos variados de uma árvore para outra, de um telhado para outro e saltitavam de alegria.
Naquele dia em que ele abriu a janela ele percebeu a brisa fresca da manhã entrando também em sua sala. Ela banhava as paredes com o embalo de sua ternura e tocava os móveis que se mostravam diferentes e contentes sob seu toque mágico, à medida que percorria a casa com o som de uma música romântica e cada cômodo e canto da casa resplandecia de felicidade!
E foi quando um raio de sol tocou um canto da parede por onde a brisa levitatava e também estava pendurado um retrato um pouco desbotado, se é que o tempo descolore todas as fotos, não consegue amarelar a lembrança de uma fotografia tão aconchegante do sorriso de sua mãe com ele no colo, o seu longo vestido de chita, suas antigas alpargatas, uma mamadeirazinha sobre uma mesinha redonda com uma toalha de renda bordada pela vovó e ele com seus olhinhos fitos em sua mãe, a primeira imagem e o primeiro rosto que vira neste mundo e que seria para sempre recordado. E não haveria auroras ou ocasos de dias se sucedendo que o fizesse esquecer aquele sorriso!
E ainda sob o toque mágico e solar e sob o perfume da brisa ele se concentrou no retrato e percebeu que sua mãe lhe falava algo, e era algo que valia mais do que todos os discursos do mundo ou todas as filosofias dos sábios, estava sim em sua consciência e sua lembrança, o de mais belo e profundo já ouvido até hoje embora não passasse de “nana neném, nana neném!” e este primeiro som como verbo inicial do esplendor de aqui estar fez com que ele sorrisse como ninguém!
Então ele convidou ao raio de sol e a doce brisa a dançar e deram-se as mãos e começaram a rodopiar pela sala enquanto uma música maternal das mais antigas do mundo inundava toda aquela casa desde sua sala até todos os cômodos e ele que falava várias línguas, começou a cantar a primeira de todas as línguas que aprendemos que são os primeiros sons pronunciados por nossas mães sobre nossos leitos, sons que não tem dicionário algum para traduzir-lhes os sentidos, que não tem gramática alguma para organizar-lhes suas estruturas, mas sons nascidos do amor maternal e abaixo de Deus, não há amor nenhum maior do que este no mundo! Um dia ele viu que a janela quando se abre pra fora também se abre para dentro e quando se abre uma janela, outras se abrem também e quando se abre com amor e poesia, ela se abre não somente para aquele dia, mas se abre para outras janelas de outros dias, de inesquecíveis dias!

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