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domingo, 20 de janeiro de 2019

Tecendo


Vou-me desfazendo, desfiando,
cobrindo-me de uma túnica destecida,
destecendo com uma pinça de ouro
caminhando com sua pesada bota por
todas aquelas tramas que fui me envolvendo
da planta dos pés às raízes dos cabelos!
Todas aquelas fontes sem água e sem vida
onde me exauri bebendo as últimas gotas
que pingaram em cada ancoradouro
do meu deserto sobre os esqueletos
de minhas tendas de couro e de meus camelos!
Busco pelas chamas ardentes do fogo permanente,
do grande, infinito, do sumo do verdadeiro amor!
Sou como aqueles que no fim do ano
vão se desfazendo de todas as suas bugigangas,
vão lançando ao longo da planície junto aos gravetos
dos pedaços de suas bacatelas seus rascunhos de dor
e se dispõem a se dispor e para isso arregaçam as mangas
e tal qual a mim, agora, que escuto o mundo passeando lá fora,
escrevem inspirados ao suor, os versos de seu galante soneto
para a amada distante a quem adora e deixa-o voar pelas janelas!

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