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sexta-feira, 6 de setembro de 2019

A vida continua

Não, não pretendo falar daquela ponte com aqueles dois trilhos alongados, a partir de sua cabeceira, enquanto ela permanece gélida e calada como um imenso elefante cinza petrificado, mudo, silente, cálido em frente à savana. Também não quero falar do rio que passava por baixo, isto porque outro rio passava por cima do rio carregando os vultos dos pássaros do céu; mas daquelas águas correntes, cuja única realidade é a túnica estática das coisas aparentes, destas coisas todas em nossa volta que dão meia volta sobre si mesmas e sobre nós, enquanto nós não nos vemos passar por sobre os sulcos de nossas faces; pois, quanto a mim, o rio que passa por sobre o rio como um espelho do voo dos pássaros, é aquele tempo que passou dentro de mim e o rio que passa sem cessar, não é o tempo. Não, nunca será o tempo, porque não foi o tempo que deixou as marcas na minha face! Foi o fundo do rio, lá na sua mais densa profundidade, na sua mais distante e permanente quietude, onde nenhum poeta resolveu pisar para amassar seu lodo e desvendar o que está por detrás do seu palco, pois, é ali onde dorme em sono mais profundo tudo aquilo que foi pesado! Tudo aquilo que foi rejeitado, tudo aquilo que por não ter sido suportado não se deixou correr pelas águas do rio, mas que por outro lado, o que seria do rio se o seu fosso não o houvesse suportado? Quanto àquela ponte da qual não gostaria falar, agora, depois de escapar-me do meu esboço, posso interpretá-la de forma diferente! Não é na altura deste poema aquele pesado elefante! Ela se torna leve, leve como o girar de uma roda gigante sobre o parque de todos os acontecimentos! Ela me permite ir do fundo ao teto e deste a todos os momentos reprimidos, transcendendo-os como uma girândola colorida vai desfazendo todos os nós com mãos de afeto. E quanto àqueles trilhos além da cabeceira? Sim, desde o início eram vias de possibilidades, pois, eram de marfim! A verdade mais nua e crua, ou a maior de todas as verdades: a vida continua!

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