Poemas e contos contribuem para a recuperação de nosso ser, viajando pelos nossos mitos e arquétipos, pelas lendas, pelas aventuras de nossa essência através das dunas do tempo.
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domingo, 8 de setembro de 2019
Transcedência
Naqueles tempos em que as flores se abriam em mil cores para os dias que se abriam em mil tons para o sol que se abria em mil raios, um mestre saiu em seu dia de folga para pescar em um oceano que se abria em mil ondas que saltitavam como crianças felizes de mil formas diferentes. Na primeira vez que o mestre lançou seu anzol a linha parecia pesada demais, enquanto ele dizia consigo mesmo, “creio ter fisgado um peixe de enormes proporções”; murmurava e firmava seus pés na areia, ia puxando a linha passo a passo e de nada mais do que uma velha proa de barco soterrado era seu achado e que se muito tivesse a contá-lo, estava ali para pescar e de novo lançou seu anzol em um semicírculo fazendo fundo com o horizonte e por incrível que pareça mais uma vez a linha apresentava um fardo fatigante à medida que o resgatava e sentia que vinha arrastando pelo fundo do mar nada mais que desta vez um enorme peixe, o que por surpresa sua não passava de uma âncora soterrada de um galeão espanhol e que teria muito a contá-lo dos piratas e seus amores pelos tantos mil mares, mas deixou-a um pouco mais acima na beira do manancial, murmurando, “há mais coisa entre o homem e o mar que uma vã pescaria possa pescar”; sendo como foi de sua decisão ir em busca de um bom peixe, não titubeou e de novo lançou seu anzol em forma de interrogação ao longo das saltitantes mil ondas e aguardou, pois como sempre afirmaram todas as lendas, grandes coisas estão a acontecer na terceira tentativa de um intento. Desta vez veio uma garrafa de tom anil escuro com o anzol atravessado em sua enorme rolha de cortiça endurecida a séculos e mais do que depressa puxou-lhe quando de sua boca enevoou uma fumaça que encheu toda a praia de cerração baixa; apresentando-se à sua frente um gênio dos contos das mil e uma noites e percebeu de imediato que sua fisionomia estava carrancuda, o seu olhar irado e sua expressão não era das melhores; uma vez que empunhava um sabre sarraceno dos mais afiados, que em um gesto rápido retirou da cinta e fixou profundamente o olhar do mestre, “fiz um juramento que aquele que me retirasse desta garrafa eu o mataria, pois logo após cumprir com os três pedidos que sempre me fizeram, mil vezes me enfurnaram nesta garrafa como agradecimento e agora chegou sua vez seu velho estúpido, pois matando-o, libertar-me-ei deste destino de encarceramento eterno”; enquanto o velho professor perplexo começou a pensar também sobre esta inusitada cena que estava vivendo, teria vindo à praia somente por lazer e não por se despedir da existência de uma forma tão terrível assim. Foi quando se lembrou já ter lido estória semelhante em que o gênio ameaçador se vê iludido por um espertalhão que após a grande ameaça e a suspensão do sabre, pergunta-lhe se ele realmente estava dentro daquela garrafa e se tinha certeza absoluta do que estava relatando, pois sendo um ser tão grande como poderia ter saído daquela garrafa tão pequena e o gênio que também era ingênuo, pois uma das leis do universo é a lei do movimento, gênio e ingênuo são faces de uma moeda, para provar ao ser questionado que havia saído daquela garrafa, pulou para dentro da mesma enquanto que o espertalhão arrolhou-a e de novo jogou-a ao mar, livrando-se da malevolência daquele gênio. Sabendo o professor que não veio a este mundo para enganar ou iludir qualquer um que fosse e que era de sua natureza educar e progredir a humanidade, decidiu desconstruir a maldade daquele ser irado e de início perguntou-lhe se alguma vez havia visto o mar, ao que o mesmo virou de costas e observou sua extensão infinita com seu beijo permanente no céu em seu fim; passou os pés pelas ondas que tocavam a praia e a enfeitavam com suas rendas brancas de espumas do vai e vem de sempre desde os tempos imemoriais; enquanto também lhe apontou uma orla de pinheiros que desfilava ao longo atravessado por um vento suave, ouvindo uma sinfonia de sons enquanto o mesmo soprava entre suas folhagens, assim como alguns pássaros cantavam e sobrevoavam seus píncaros; bem como por sobre eles vinham enormes martins pescadores que abaixavam seus vôos sobre o manto do mar para seus lanches tradicionais; assim o gênio voltou com outros olhos sobre o mestre, abaixou seu sabre, pediu-lhe perdão e agradeceu profundamente sua presença, pois desta vez conseguira realmente sair para sempre de sua garrafa, do seu ego que de egoísta passou para ser egoente. Desta forma, o mestre conseguiu que o gênio através da evolução do seu estado de consciência, se libertasse de sua prisão!
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