Vc 100

Se nossos corpos estão molhados enquanto desenham espumas,

que descem como orvalhos umedecidos nos telhados em frenesi,

passamos tantas horas felizes e pedimos ao tempo mais algumas,

enrolados na bruma como musgos, meu vulto se envolve em ti!

Nossos movimentos sombreados são vimes como dóceis plumas,

eles escrevem entrelaçados este sentimento que ainda está aqui,

de todas as nossas vibrações já vividas, assim recordando algumas,

faríamos poemas bordados a ouro como jamais neste mundo eu vi!

Os outros amantes são frágeis e não tem o fogo delirante da paixão,

vivem de qualquer maneira seus instantes desenvolvendo rascunhos,

não sabem dançar e não podem atingir o jogo constante da emoção!

Duvido que consigam serem doçuras nos contornados carinhos a dois,

somente nós sabemos nos encontrar na miragem deste  pensamento,

procuro o que procuras eternizar neste prazer infinito deste momento!

Vc 99

Hoje vou dizer que te amo.
Não agüento mais esta frase
presa em minha garganta.
Hoje vou dizer que te chamo.
E quanto mais te chamo minha
solidão se acalanta.
Mas se você me disser que
também me ama,
eu ficarei a noite toda acordado.
Será tão grande a minha alegria,
que vou rolar pra lá e pra cá na cama,
sobrevoando sobre o chão,
sabendo que não está vazia,
que você se encontra ao meu lado,
dentro do meu coração.
Ao dizer-me que me ama, mesmo que
o céu noturno esteja fechado,
verei estrelas brilhando sobre minha noite fria.
Hoje vou me encher de coragem.
Hoje vou dizer que te amo,
hoje vou assumir esta miragem.
Se você quiser saber como,
porque jamais vou te esquecer,
não sei explicar nada do amor,
nem do seu cromossomo.
Direi que não sei o porquê,
direi somente que amo você.
Algo vale mais do que isto minha flor?

Contradição

Qual o maior risco de um Rei 
perder toda a sorte?
É quando faz gracinhas 
e se torna o bobo da Corte!
Qual o maior risco que 
pode correr um Monarca?
É quando desrespeita 
a todo mundo e pisa na jaca!
Qual o maior risco que 
pode atrever um aventureiro?
É quando joga pedrinhas 
em cima de um vespeiro!

Vc 98

O dia de hoje amanheceu com um tom estrelado,

porque você chegou bem no canto devagarzinho,

estrelas noturnas vieram entretanto, ao seu lado,

vestiram luzes diurnas perfilando seu caminho!

Acordei-me nas curvas ágeis de um sonho velado,

turmalino, tal um pequeno príncipe azul marinho,

com o seu perfume rosa, senti-me ornamentado,

doce aceno toquei sua taça, degustei seu vinho!

Calorosa explosão maravilhosa de areia em dunas,

corpo de sereia, vem graciosa, graça e sentimento

estremecem o chão sob seus passos no momento!

Estendo-lhe meus braços para alcançar seu corpo,

dançando airosa em cada clarão do espectro solar,

transmutando meu ser nesta dança de beira mar!

Diversidade

Seja bem vinda a sua opinião. 
Somente com minha ideia, eu ficaria na mão! 
Com uma palavra só não se escreve um poema. 
Com um pensamento só não se constrói um sistema.
Com uma pessoa só não se faz uma novena.
Minha ideia seja grande ou pequena, mas quando se soma à sua, 
ela realmente vale a pena! Com um único ator até que se faz um monólogo. 
Mas é preciso mais atores para que se tenha uma boa cena! Não se diz boa noite a uma casa vazia. 
A noite será fria. Não se diz bom dia a uma rua vazia. A rua será esguia. É a soma de todas as opiniões que enche a Casa da Poesia!

Vc 97

Houve um momento aderente entre nós ,

jamais irei me desvencilhar ou esquecer,

foi quando observei afluente bem após,

meu coração a badalar palpitando você!

No gelo da vida, tristes como esquimós,

nesta única condição isolada pra viver,

um dia querida, nos jogamos a trenós,

alces pelo chão dos sonhos a percorrer!

Então, assim pudemos vibrar, perceber,

que viver é apenas uma única questão,

de deixar o sincronismo vir, acontecer.

Evidente, o universo arma conspiração

para os que floresceram um pelo outro,

basta apenas lançar âncoras no porto!

Vc 96

Entre espumas de prata contorcidas, reluzentes,

estamos em uníssono entrelaçados na banheira,

sua pele bordando tem contornados pingentes,

como samambaias distribuídas pela ribanceira.

Dentro desta fragata nossos corpos nus, quentes,

na luz, frente a frente, nós, em clássica maneira,

em cada face colada uma em outra, permanentes

peles de alfaias subimos íngremes em cordilheira!

A nata producente borbulhando em movimentos,

como anéis de pérolas do mais refinado joalheiro,

prolonga os sentimentos, navegando o dia inteiro!

Neste encontro nos reencontramos pelos tempos,

desde seus inícios das eras antigas mais longevas,

assim é o bailado envolvente com que tu me levas!

Vc 95

Se eu te amo, tu me amas,
o que podemos fazer?
Misturar nossas chamas,
na luz do calor nos aquecer!

Se és a mais bela das damas,
o que poderei lhe dizer?
Com teus olhos proclamas
uma Deusa do amor a tecer!

Voo de sonho em lã
nas asas da imaginação,
te brindo nesta manhã!
Sinta o ardor desta atenção,
a viajar como um polem,
a palpitar no teu coração!

Criação

O Verdo Divino vem desde o começo

do universo iniciar sua dança,

nada sabemos deste mundo um terço,

Amor, Fé, Caridade, Esperança!

Na linguagem primordial me aqueço,

onde houver boa intenção ela alcança

o âmbito original, o endereço,

do Supremo Artesão, Santa Aliança!

Uma voz sensacional na cadência,

medida que cada ente nos apresenta,

com seu cândido brilho onde ostenta

a vida latente cheia de presença

na fração descomunal, Grande Poder,

assinatura permanente do Ser!

Vc 94

Teu corpo me absorve em relevo de forma insular,

curvas me embriagam de desejos em suas marés,

os movimentos são cremalheiras de ondas do mar,

com  vagas como duendes subindo ao meu convés.

Tuas formas são veredas serenas, luzes a me captar,

me atraem como adegas infinitas situadas a mil pés,

louco, absorto como uma nave sublime a mergulhar,

enrolando-me em pétalas, contorno dourados anéis.

Danem-se milhares de jeitos em que se dão outros,

nestes lugares maravilhosos onde serenos passamos,

mudamos as faces de invernos dos sombrios portos!

Assim em fetiches os enamorados estelares audazes,

somos sóis em nós mesmos nas luminares deste jogo,

quanto mais navegamos, penetramos as ancoragens!

Vc 93

Crepitando azulado como um fogo interno de lareira,

sobe em serpentes dançarinas nosso sublime desejo,

além desta duradoura linha da permanente fronteira,

nossos corpos dançando, cambiam  um cigano ensejo.

Grande força incontrolável, um jogo nos entrincheira,

como lábios de neblinas queremos ganhar um beijo,

com um vulcão de vai e vem que nos avizinha à beira

deste amor incontrolado todo trêmulo me entrevejo!

Envio-lhe o pensamento como um míssil! Trampolim!

Poderíamos saltar até mesmo sobre o monte Everest,

mas de outro modo, ardentes em brasa saltamos sim

nas asas deste vento a deslizar por invisíveis batentes,

pelas portas dos nossos corações aqui mesmo no chão,

com a força deliciosa de amar como mil sóis nascentes!