Clarividência

Por que dar tanta importância às coisas,
se elas são impermanentes, sem importância
alguma e ao mesmo tempo tem um significado
embutido em sua essência de escorregadia bruma?
Se de todas as coisas passageiras sabemos seus nomes,
seus nomes deveriam ser apenas um: miragem?
É uma miragem uma árvore, é uma miragem
uma pedra, é uma miragem um pássaro?
No fim, tudo fica à beira do caminho, tudo
fica no acostamento, no espaço de cada margem?
Se nada é permanente, então tudo é
uma miragem?
Mas uma árvore não é somente uma árvore, pois
uma árvore é raiz, é tronco, é folhas, é frutos, é ida e vinda
de estações; é ninho, é vento farfalhando em sua copa.
No entanto, uma árvore é uma passagem de uma
árvore para outra árvore!
Uma pedra não é somente uma pedra, pois uma pedra
no meio do caminho de um poeta se transformou
em um poema. Uma pedra pode fazer parte de um muro,
de uma gruta, de uma velha igreja, então uma pedra pode
ser a passagem de um fato para outro fato.
Um pássaro não é somente um pássaro, ele também é revoada,
é pouso declinando sobre uma paisagem e quando abre suas
asas é plena liberdade no âmbito do seu vôo!
Mas então o que é uma miragem? Uma miragem é somente uma
posição de olhar à primeira vista as coisas como passageiras!
E serão passageiras se ampliamos nossa visão de uma
margem para outra margem?
Tudo que é maya, tudo que é ilusão, tudo que é miragem é apenas
uma condição de passagem de uma margem para outra margem.
Isto só é possível para quem abriu seus olhos ao infinito, à eternidade e
deixou-se levar pela sinfonia de sua carruagem!
As coisas por mais nuas e cruas que pareçam, na última descida da luz,
no ponto mais crucial da criação, estão todas vestidas de divina roupagem!