O longe está pertinho

Distância não existe quando a amizade persiste.
Longe não é somente um lugar que não existe. 
Longe é também um lugar que não resiste. 
Lugar também não é um ponto determinado no espaço.
Lugar pode ser uma instância, um adequado acontecimento instantâneo. 
Não há como prever ou desenhar este instante.
A qualidade deste espaço está em sua iminência, na sua perseverança e transcendência. 
Uma coisa pode estar aparentemente muito longe de não se alcançar de vista, mas presentemente tão perto pela fluência entre elas, pela coincidência de suas idéias, ao ponto de se dizer que é como se fossem duas janelas de frente uma para a outra numa rua estreita de uma cidade pequena.
O que é estar perto quando nada acontece? Quando não há métrica e rima em qualquer relacionamento, quando nada entrelaça ou coisa alguma enternece? 
Pensar no espaço como união é querer forçar um abraço, um aperto de mão, uma troca de olhar que não deixa nada no espírito, que não impregna coisa alguma no ar!
Uma coisa aparentemente pode estar longe, mas como pode estar assim aquilo que não se desconecta, que não descola, que não parte ao se ir, que não se vai mesmo quando se despede e que veste de lembrança e tece de saudade todo o ambiente.
Assim como há muita coisa que fica sem nunca ter ido, também há muita coisa que vai sem nunca ter partido. 
Não se pode separar o que se polariza com harmonia, aquilo que se plasma por sincronia.
Assim como as ondas do mar se comportam em seu ir e vir mágico, assim é o encontro coerente e correlato, embora haja uma mudança constante, não é possível separar a onda que vai da onda que vem do seu movimento permanente.
Distância não existe quando o encontro é congruente. Longe ou perto são lugares onde ninguém se esconde quando encontrar-se em outro é descobrir-se no reencontro.