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segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Um brinde aos vencedores

Assim como no início / O teclado estava ali, sempre imóvel, frio, estampando os caracteres à espera de contos, como as estrelas aguardam os dedos infantis que as contem. Prolongavam-se os dias naquela sala, com uma estante num canto. Proust paralisado "Em busca do tempo perdido", resguarda suas memórias.
A janela aberta à direita repassa das manhãs às tardes os mesmos dias com sua manivela lenta das horas cotidianas. Pipas de diferentes cores intercalam nuvens, estas de diversos tamanhos se desfazem ao vento, reinventando formas, pois talvez haja olhos pesquisadores que as busquem. Estamos ainda no início de uma grande transformação.
Duas mãos se precipitam por trás da tela e se lançam sobre o teclado iniciando uma digitação inesperada, quebrando a frigidez do silêncio e a repetição do óbvio. Da mente surgiria um conto inédito, inesperado, uma estória para além de absurda, principalmente diante da tela não plana, mas esférica e imensa. As paredes se abrem como portais para outras dimensões.
O bosque mais além aguarda quieto os passos que o procuram. Um longo quintal coberto de folhas e pétalas responde à cadência do andar, com uma sinfonia clássica, como se cada flor fosse uma nota musical.
As árvores guardam seus ninhos com um cuidado maternal e abrem suas copas para colher o orvalho da madrugada e ao redor de todo o lugar, sente-se o cheirinho fresco de um lago encantador.
A campina que se espalha aos confins do horizonte exala um perfume de jasmim. A cidade vai-se diluindo. Os prédios vão se encolhendo e desaparecendo no solo. Todas as estruturas de cimento armado se dissolvem ao sabor do nada.
Tudo o que é feito de metal também desaparece. Pelas avenidas os carros se embrenham em trincheiras, sucedendo o mesmo em todas as ruas e pistas, como se uma enorme boca fosse engolindo a todos.
No lugar de todos estes artefatos humanos cresce a relva, sopra a brisa e dançam as borboletas.
Com as suas invenções desaparecem todos os homens. As florestas se estendem por toda a face da terra. As ondas dos mares desenham rendas nas areias no seu vai e vem. As montanhas espreitam de longe os vales verdejantes, enquanto suas torres de transmissão e suas antenas antes bem alojadas vão se desfazendo todas como pó de aço.
No céu só reinam os astros, pois os satélites artificiais caem como cinzas sobre os oceanos.
Voltam as estações. Predomina a natureza.
Quem esperava que um dia as máquinas dominassem a humanidade errou por completo. Os robôs também desapareceram. As máquinas deram lugar à vida natural.
A terra tragou todas as construções humanas.
Os cientistas que retiraram a inteligência do silício, dos cristais, dos metais para fabricar um mundo tecnológico não perceberam a grande conspiração.
A natureza nunca trai a si mesma. Uma super mente digita o mundo no silêncio e seu funcionamento como no início é um verbo flutuante.

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