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domingo, 20 de janeiro de 2019

O monarca e o espelho

Rachidemer foi um dos monarcas mais corruptos daqueles antigos tempos gravados em rolos de papiro empoeirados sobre os quais alguns Sábios da Escola da Sabedoria Universal se debruçaram em um oásis do Saara para interpretá-los e trazê-los à luz dos dias atuais e quaisquer semelhanças a outros fatos são simplesmente aparências virtuais.
O seu palácio forrado de ouro do chão ao teto graças à fome, à doença e à miséria do seu reino, era o antro mais corrupto sobre a face da terra, pois ali os assuntos tratados não eram os interesses populares e sim seus desejos próprios de luxo, riqueza e bens para si mesmo e também uma parte com a finalidade maldita de distribuí-la aos seus vassalos cada vez mais vorazes por fortunas e prazeres materiais de todos os tipos possíveis.
Certa vez, passado o mês de Ramadam um estranho beduíno proclamando-se representante de um reino onde segundo suas palavras o diamante brotava do solo e poderia ser reproduzido bastando ser plantado como pequenas sementes; solicitou a um vassalo de Rachidemer uma entrevista para entregar-lhe um presente de seu monarca, um espelho mágico para ser colocado em seu gabinete com o destino de lhe trazer fortunas jamais imaginadas ou desejadas.
Ávido e enlouquecido por tal agrado o corrupto monarca tratou de receber o estranho peregrino em um horário dissimulado sem ser percebido por ninguém, durante o qual ele deveria entrar vestido de profeta; momento exato após tomadas todas as providências necessárias em apagar os lampiões das alamedas e enviar uma carruagem disfarçada com um cocheiro de sua confiança para trazer o enigmático desconhecido.
O encontro ocorreu por volta da meia noite, acertadas todas as observações acerca do espelho a ser colocado em sua sala das grandes decisões, onde eram realizadas todas as reuniões, assim como tratadas das riquezas saqueadas do reino com uma voracidade só comparada às aves de rapina quando famintas, ou aos ratos perambulando pelos meandros sombrios das madrugadas.
Nesta sala também eram recebidas autoridades de diversos reinos, não sabedoras do comportamento desonesto de Rachidemer; porém como o enorme espelho suspenso atrás do trono do monarca ia repassando aos olhos destes visitantes todas as falcatruas e atitudes desonrosas contra seu povo, eles voltavam aos seus reinos e informavam aos seus monarcas acerca das cenas observadas na face polida daquele espelho e não percebidas por Rachidemer.
Notícias por mais distantes sejam são como pássaros se deslocando nas mudanças das temporadas, chegando aos poucos aos ouvidos de todos os habitantes daquele reino e percorrendo ouvidos por ouvidos se transformou numa conversaria tão barulhenta como furacão e tempestade varrendo uma região subitamente.
Rachidemer ao saber do fato correu para mirar o espelho, mas este como todo artefato mágico tinha seus disfarces e somente refletia sua imagem forrada de fina roupagem, sua coroa de ouro, seus anéis de pedras preciosas e nada mais; desta forma ele resolveu reunir toda a população para provar a mentira dos boatos e mostrar o espelho a todos, como testemunho de sua palavra e moralidade, somente por ele sustentada.
Convocou uma reunião pública em frente ao seu palácio real e pendurou em uma das colunas o espelho para todos perceberem sua imagem refletida e assim diante de toda a população ficou de frente para o mesmo e sorrindo como um demente o mostrou para todos. Realmente, na face do espelho só aparecia sua figura fingida e temerosa. Mas todo objeto mágico produz uma energia milagrosa impercebível e assim Rachidemer movido por uma ira insuperável apanhou o espelho lançando-o com toda a fúria pelas escadas abaixo, gritando aos berros não aceitar presente maldito deste tipo espalhando notícias falsas acerca do seu intocável procedimento.
O espelho se espatifou escada abaixo, quebrando-se em mil pedacinhos, enquanto um garoto abaixou com toda a curiosidade própria das crianças apanhou um deles e começou a ver todas as cenas de corrupção em sua pequenina face e mostrando para seus pais, estes se abaixaram e horrorizados chamaram a atenção de outros e estes a outros e todos foram apanhando os caquinhos abrindo-lhes os olhos e gritando fora ladrões e usurpadores, fora exploradores do povo; enquanto Rachidemer e seus comparsas fugiam pelos fundos do palácio e a partir daquele momento cada pedacinho daquele espelho encantado cumpria a promessa de presente do obscuro mago como um pequenino diamante plantado no coração de cada cidadão, florindo em educação de qualidade, saúde para todos, cooperativismo nas relações de bens e serviços, se transformando em um reino de prosperidade e igualdade para todos.

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