pesquisar este blog www.francomacom.blogspot.com

domingo, 28 de fevereiro de 2021

Escreve(vendo)

Enfim, como se explica o exercício de escrever?

Qual a dica, qual o sinal? Ter ideias, digitar, colocar

enredo e ponto final?

Será mesmo assim encontrar o segredo?

Ora, não vou iludir-te, nem quero ver-te em choque!

O ato de escrever necessita de um toque.

O escritor é como um lago onde tudo reflete nele.

Ele está sempre a oferecer sua percepção para

receber cada imagem. Ele sabe da nítida compreensão de

nada ser vago, embora tudo tenha em cada

mão um bilhete de passagem!

 

 

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Transcescrevendo

Vagava o poeta contista pelo mundo como um tonto. Porém, no sentido nem tudo é tanto, nem tudo é um esplendor, estar assim é sua forma mundis vivendus e prontol Pensava, mas verão, não foi bem assim....

Às vezes um conto, às vezes uma poesia, mas quando não chega aos tantos, como fica o poeta contista em sua ausência de si mesmo? Nada é pior...  deixar-se existir existindo ou sendo apenas uma sombra a esmo.  Uma nebulosa situação, bem diferente de um estado anárquico, mas próximo de estar engasgado, atônito, perante a movediça e complexa ambigüidade permanente de toda a sua confusão interna, em volúvel ebulição, próxima de uma linha tênue da noite escura do acaso.

Então, dirigiu-se ao mar diante de uma simples reflexão, “para ele se dirige tudo”; tanto os continentes, como as encostas de todas as ilhas, as embarcações, os portos mais sombrios e distantes, todas as águas de todos os rios, de uma forma ou outra. Diante do imenso oceano percebeu: havia um ponto eqüidistante entre o mesmo e o céu!

Dali começou a refletir onde estaria este ponto em nós nos elevando a uma transcendência, pois não seria possível existir um extraordinário aqui no mundo físico, ao mesmo tempo faltante ao corpo material humano visto à primeira percepção.

Neste instante um pensamento sagaz, arrancou-lhe uma pergunta perspicaz, “quem sou eu?” e seu dedo indicador da mão direita tocou-lhe o centro do peito. “Por que então o centro do peito?”, desta sublime indagação surgiu-lhe a resposta, “é aí onde estou, neste realmente ponto onde tocou a ponta do seu dedo direito, EU SOU!”

Assim, o poeta contista retornou ao seu excelso status quo:  um apreciador da arte, de tudo no plano da beleza e harmonia;  um tecelão de contos, um artesão de poesias!

Lembransendo

Naquela manhã azul em que a vi em detalhes,

seu olhar engatinhou-me uma mágica porção.

O corpo esculpido nos mais perfeitos detalhes,

embebedou-me ao embriagar-me de emoção.

 

Sentindo o perfume divino dos lírios dos vales,

cujas cores em mim tangendo sempre brilharão;

a pracinha se abriu como galerias de Versailhes,

pode haver coincidências, mas nem tudo não!

 

Seu andar pelas bordas, lento, em cada canteiro,

acompanhando o zigue-zague astuto de um cão,

há de ser minha companhia a cada dia inteiro!

 

O inesquecível não acontece como um malogro,

seria descrer do milagre corrente em xis situação,

seria escrever com giz o que foi escrito em fogo!

 

Percepvisão

Caminho pela rua deserta e sobre mim um painel de estrelas.

A realidade é um mosaico de eventos. Todos eles são espetaculares

desde estas folhas caídas no chão casualmente até algumas explosões

galácticas em bilhões de anos luzes daqui.

Tudo é muito importante e tudo não tem importância alguma!

O que pressinto é uma conjuntura de acontecimentos. Desde este vento

que sopra ciscos em curvatura até as hipérboles mais imensuráveis

deste incompreensível mundo.

Pela minha abordagem não há nenhuma disputa entre o menor e o maior

incidente, pois cada ensejo acontece apenas na clareira de sua aventura.

A mente sim, somente ela cria esta medição e cronometragem do que

seja passadiço ou eterno no transcurso de cada ocorrência.

Posso suspeitar que haja algum desígnio em cada estrela cintilante sobre

mim, mas tudo em trânsito cadente ao solo transmigra para o mesmo 

fim, não é um princípio ao léu.

Sobre o que há entre o céu e a terra, entre a terra e o céu; sobre o que há

em baixo sendo o mesmo do que há em cima, já disseram todos os sábios!

Ao caminhar por esta rua traço o meu rumo. Vou solene passo a passo em

prumo. Nesta cadência me adentro pela simetria de tudo na sua rima.

 

 

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Perfeição

Como deve ser o abraço?

Não deve ser apertado demais,

nem ser apertado de menos!

Quando demasiado, deixa

de ser um laço!

Desta forma o abraço

se transforma em um nó.

Se não completa seu traço

deixa ambos em dividendo.

De um lado, muito grudado,

cada um fica só!

O outro, apressado, tem

câmbio de despedida!

Abraçar é abraçar sob medida!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Poema da esperança

 Ao menos precisamos sonhar com um novo momento!

Somos seres faltantes, pois falta em nós o outro! Não o meu narciso

no outro, mas o outro do outro, aquilo que não espero nele, aquilo

que é o mais preciso! Preciso no sentido de precisão e nunca naquele

sentido de pensar somente na minha intenção.

Tocar no outro como um complemento de si, somos seres com necessidade do outro e tocar no outro como um complemento do outro!!!!!

Por enquanto podemos estar juntos sem estarmos perto!

Depende de como nos comunicamos com o outro. Se nos comunicamos

com o coração saltamos sobre os limites da razão e construímos um oásis

em nosso deserto.

No entanto, este salto só é possível com a colaboração do outro! Um salto

que saltamos juntos!

E você acha que isto é pouco? Bom, pelo menos somos criativos, mas

haverá um momento em que estaremos tão juntos que nem um

milímetro de espaço/tempo mudará nossa direção.

Nosso destino é o encontro, aquele que necessitamos tanto!

Vc 132

Enfim, foi admirando aquela mensagem

linda, chamativa, esplêndida e amorosa;

neste instante saltei para a outra margem

como um ser gigante te senti tão graciosa!

 

Ao ver aquela foto linda na amostragem,

presença de gardênia, sensível e mimosa,

não sabia se era um sonho ou miragem.

Das musas com certeza a mais charmosa!

 

Essência desvelada, contornos de sereia,

em cada ângulo entre as luzes refletidas,

tons nos vitrais com nuances contidas! 

Presença em cada ângulo: sensualidade;

ousar em rumo de cavalgada, não resistir.

Entregar-se, deixar vir o que há de vir!

Entre ambos

Entre remédio e veneno o limite até onde ficaria?

Remédio remedia, se curasse curédio se chamaria.

Veneno envenena, se a dose aumenta não vale a pena,

pois o corpo não agüenta!

O limite entre remédio e veneno pode ser grande ou pequeno.

Seria como a divisa entre o tédio e o estado sereno?

Um pouco a mais de remédio pode ser um veneno.

Um pouco a menos de veneno pode ser um último aceno.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Poema carinhoso

Na rua passam carros e toda espécie de gente. Algumas folhas sobrevoam pelo chão talvez sejam arautos do outono; da mesma forma sou mensageiro de uma nova forma de abraçar! Daqui a pouco,  todos o terão, ele está por um fio.

Há uma senhora que sempre caminha depressa e trabalha numa casa de costuras, ainda se recuperam roupas; por isto penso em recuperar de um novo modo os abraços! E não são abraços ao vazio!

Quem quiser saber das novidades necessita se jogar na correnteza do rio. Atenção para não se perder no redemoinho a rodopiar; vamos ser como nosso Pai Abrahão e abrir as portas da tenda de nossa consciência em todas as direções em uma Arte Dialógica para aquele abraço!

Meu abraço está aqui no meu ancoradouro! Onde está meu coração ali mora o meu tesouro!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Poema do jardineiro

Vou mais além! Aquém dali!                 

Posso apontar-lhe onde fica o jardim,

mas não sou capaz de oferecer rosas.

Se alguém não entender, meu Deus, e daí?

Sou eu quem carrega a sombra do rastro de “mim”.

Para todos os reinóis das prosas, deixo esta aqui:

quem planta flores com amor não ceifa suas vidas gloriosas!            

                                                                                                                              


Poema Cartorial

Venham mais livros!

Livros e mais livros!

Encham as panças das

livrarias.

Venham livros em danças

como polens nas pradarias.

Acumulem-se debruçados

em embrulhos nas prateleiras.

Haja livros a contento!

Enquanto o planeta

tem seus reinos destroçados,

diante do homem e todas

as suas besteiras,

que fiquem somente

os livros como resíduos

do seu testamento.

 

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Poema do esplendor

Se ando por aí como

um colibri perdido e

vago,

o  que devo intuir,

o que será preciso

para encontrar aquele

instante mais numinoso,

que poderá tocar

uma sinfonia em meu

âmago com sincronia?

Viver é existir vendo

este seu sorriso

caindo na interface do

meu lago interior,

perfumando, florindo

o meu bosque frondoso!

 

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Vc 131

Será que alguém saiba do amor seu sentido?

Teria um que caiba em um protocolo perfeito?

Olha, amar é divino e disto eu nunca duvido.

Não sou menino, a sugestão de ti eu aceito.

 

Suponhamos que lhe faça agora um pedido,

beije-me aqui bem no centro do meu peito!

Porém, percebo na curvinha do seu ouvido,

que você se derrete de prazer neste leito!

 

Amor é coisificar que somente cabe a dois.

Algo fenomênico no par como um arco íris

que se desenha desde o antes ao depois! 

Amor, tão esplêndido quando é bem vivido,

Se para uns é horizontal sem perder um tris,

para outros, pernas e cabeças tudo invertido!

 


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Poema do renascer

Abatido, pensativo, cheguei tão assustado,

mais  de um ano perdido de afastamento

do mundo, da vida, do colorido cotidiano,

ventanias destroçaram minhas caravelas!

Seu atendimento me deixou deslumbrado,

uma dança  colorindo meu pensamento,

senti-me voar no silêncio de um altiplano,

nos arcos lindos de suas sobrancelhas!

Eu, que guiava cauteloso, sozinho, isolado,

cada nuvem que ia carregada pelo vento,

dispersava pelo acaso no distante oceano,

desciam aos meus pés todas as estrelas!

Neste momento, um sentimento alado

puxou-me do fundo do poço como alento,

retirou-me dos delírios do mundo urbano,

porque suas palavras eram doces e belas,

um sol se abriu no meu viver embaçado!

Uma princesa atendendo-me a contento,

antes afastado, me tornei cosmopolitano,

suas sobrancelhas abriram viagens singelas!

 

A canção de Stefany

Voltava Stefany toda feliz, encantada com a vida como sempre, pisando sobre as folhas caídas daquela ruazinha deserta, onde escolhera morar por ser mais romântico e bucólico. Lembra-se de seu pai e do cinema antigo cujos filmes ele a enviava e sentia-se como Soledad, la Violetera vendiendo violetas en la calle frente al teatro.

No entanto ao entrar em seu apartamento vem imediatamente em sua cabeça a dúvida de onde realmente viria aquele som incrível, aquela melodia elevando sua alma ao mais infinito do universo. Sendo professora de música a intrigava demais, pois aquela sinfonia transcendia a quaisquer deduções de todas as pautas musicais conhecidas.

Abriu imediatamente a janela para ventilar o interior da sala, afastou suas cortinas de cetim, mirou a ruazinha cândida e algumas estrelinhas brilhando como pirilampos sorridentes....A música iniciou sua sinfonia entrando por sua casa, perfumando seus quartos e todos os espaços internos... Mas de onde viria?

Stefany criou coragem, ou hoje ou nunca encontraria a resposta a esta intrigante questão, aliás, interessantíssima, pois lhe acrescentaria um conhecimento transcendental de música, pois parecia algo extremamente novo e místico ao mesmo tempo.

Então resolveu perguntar aos apartamentos em volta e não vinha de nenhum deles! Subiu andar por andar e não era de nenhum apartamento. A única pessoa dedicada à música naquele espaço era somente ela.

Dali surgiu até comentários, fofoquinhas domésticas por baixo das portas de todos os vizinhos, " ela quer aparecer para se dizer música"; porém, em nada isto a tocou. Era uma pessoa totalmente ligada ao mistério profundo do cosmos.

Louca, tinha certeza absoluta: não era! Demonstrava confiança plena de sua sanidade mental, total equilíbrio de todas as suas ações, pontualmente perfeita em todas as suas responsabilidades... Mas de onde vinha aquela música encantadora?

Não existiam prédios vizinhos... Como decifrar o enigma de todas as noites? Morando no interior da Esfinge de Gizé não se encontrava e não havia recursos para responder à sua inquietação.

Fechou a janela da frente, as cortinas e foi dormir. Veio-lhe uma ideia surpreendente naquele momento. Se fechasse a janela a música parava de tocar, quando a abria a música voltava em plena partitura e sinfonia.

Olhou novamente as estrelinhas brilhantes quando o universo abriu-se totalmente aos seus olhos e uma imensa orquestra cósmica deslumbrou um som maravilhoso e inigualável. Ela estava ouvindo a música das estrelas, pois conseguia viver suavemente no limiar entre o microcosmos e o macrocosmos, onde o equilíbrio total da perfeição, da beleza, da bondade tocava-lhe seu infinitesimal ponto espiritual no interior mais divinal do seu ser, com a riqueza da música universal.

 

domingo, 7 de fevereiro de 2021

(re)encontro

 Sabemos que hoje chove,

mas amanhã quem sabe

poderá ter sol?

Desta forma de bom gosto,

fechar-se-á esta sombrinha.

Com certeza um sol posto,

surge-me em ideia como

um farol,

ele nascerá de bom gosto

bem naquela covinha

tão linda do seu rosto.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Ilha Noética

A tarde emoldurava-se de cinzas e quantos entardeceres lindos matizados de azuis e lilases encontravam-se como velhas lembranças na memória daquele povo isolado naquela ilha oceânica.

Em um momento destes vislumbravam ao longe uma imensa embarcação a vela deslizando suavemente em direção a um recanto manso onde as águas se espreguiçavam há dezenas de anos e se espalhavam pela areia em desenhos refinados como crochês de linha branca em um tecido pardo.

Logo em seguida alguns aborígenes para lá se dirigiram na esperança de que outros seres por ali chegassem e trouxessem-lhes a possibilidade de vencer a imensidão oceânica e encontrar outras civilizações além do infinito desafiador.

Não havia ninguém naquela nave, nenhuma pessoa, nada, estava completamente vazia, tão ampla e sem ninguém por dentro, sendo o mais incrível a forma como chegara até ali, sem nenhum tripulante, marinheiro ou qualquer mestre de náutica; não existindo quem pudesse responder estranha indagação.

Foram dormir e naquela noite mais surpresos do que nos últimos anos, logo após um imenso tsunami que levara ao fundo do oceano toda a civilização anterior, levando-os a um nível zero de cultura em termos de conhecimentos e tecnologia.

Antes, seus pais e avós etc. viviam luxuosamente em arranha céus fabulosos com seus computadores super avançados e atravessavam nosso sistema solar e já palmilhavam partes da nossa Galáxia Via Láctea; porém agora foram reduzidos a uma comunidade perdida nos confins do planeta em uma ilha como uma prisão intransponível.

Quando acordaram na manhã seguinte, a embarcação desaparecera e aumentou mais ainda o espanto de todos, pois se chegara sem marinheiros, como dali saíra também sem tripulantes que a conduzisse com segurança.

As horas passaram em uma ampulheta no centro da aldeia, quando à tardinha surgiu no horizonte marítimo a mesma nave do dia anterior e se dirigiu ao mesmo local, novamente sem nenhum ser a bordo.

Mais uma noite foram dormir pensativos e nas noites seguintes notaram que a embarcação desaparecia e voltava ao entardecer. Neste vai e vem de surgir e desaparecer começaram a perceber que não era uma barca realmente, mas que era diferente, bem diferente, pois era alongada, feita de um material sintético.

Assim tomaram consciência que na visão deles sobre mares só andariam caravelas, navios, barcas e foi desta forma que a perceberam inicialmente. Também na mente deles havia uma estrutura pensante de que estes objetos contém seres humanos, marinheiros etc. a bordo...

Abrindo mais ainda a consciência notaram que existiam sim alguns seres naquele objeto que não era uma barca, mas um objeto voador que sobrevoava a face do oceano e aqueles seres queriam se comunicar com eles.

Então se dispuseram a ouvi-los de tão desesperados que estavam prisioneiros há décadas naquela ilha continental.

Assim estes seres mais tarde transformados em deuses, semideuses, anjos alados deram o ponta pé inicial naquela civilização com seus Iniciados pronunciando com seus verbos solares os novos ensinamentos como de outras vezes já sucedera... resta saber se a futura humanidade aprenderá algo com esta nova oportunidade....fica apenas uma reflexão...

 

A Deusa de Heráclito e minha Musa

 Heráclito foi o filósofo

do logos, de todo o devir,

de que tanto o um e o todo

são apenas um portanto,

no movimento sem cessar

do eterno fogo; tudo se 

desliza e somente a permanência

é quem nos assinala a

impermanência também

que nos divisa; assim no

movimento estamos mergulhados

neste mundo tanto fora quanto 

dentro!

Quem era a musa de Heráclito?

A Deusa Artêmis!

Como era esta Deusa?

Era aquela que tinha em uma

das mãos um arco e na outra

a lira!

Ora, quem diria! Quanta inspiração!

O arco representa a caça.

A lira a música, um símbolo da arte!

O arco é o desaparecer da caça, 

é tanatos, enquanto a lira é eros,

portanto a vida!

Não é assim o universo? Todo um 

movimento de aparecer e desaparecer!

Quem é minha musa?

A dona e seu cão!

Representam a soma do movimento

universal. O cão que fareja a quilômetros

no invisível, a dona que exala beleza

e sabe dizer o indizível!


Poema da atenção

Sei que daqui a pouco será ontem!

Saber disto muito me convém!

Movendo-se apressadamente as 

pessoas agitam seus dias!

O ir e vir de todos é um big bang!

Sei que ontem foi um dia depois

de um dia amanhã!

Eu não gosto de partir em dois

lados esta maçã!

O tempo para todos é um 

esvoaçar de miríades de lã!

Se tudo é aqui e agora,

qual cronômetro por mais

tecnológico que for,

tirará de nós o sabor desta hora?

Que nos importa isto se somos

sempre um beija-flor analógico?

Que nos importa o antes e o depois,

se somos ambos os mesmos

no pleonasmo de nós dois?


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Conto da luz

Clarisse do alto da torre daquele castelo medieval contempla as pradarias distantes e as rotas por onde os Cavaleiros da Távola Redonda continuam a passar através de suas ensinanças lançadas oralmente a outros Cavaleiros. Seu olhar se perde junto à direção das nuvens ligeiras como uma seta precisa, cuja precisão é não encontrar alvo algum. Assim ela observa as imensidões de colinas azuis e para além delas os reinos com todos os seus senhores e vassalos, com seus mestres sob a orientação de Merlin em sua sabedoria vinda da Suprema Escola da Sabedoria Universal.

“Clarisse, vem almoçar, minha filha!” Ela se apressa a descer as escadas de pedras lapidadas por construtores instruídos em suas guildas centenárias ou corporações de ofício.  Percorre todo o caminho como alguém que traça um brilhante curso sob cada passo aos seus pés, sob o tapete da distância até a sala de almoço; por baixo de toda a caminhada traça outro percurso muito mais interessante, porém não percebível, assim ela se senta diante da suntuosa mesa repleta de iguarias.

Em silêncio, Clarisse diz tudo naquele instante e transcende todos os significantes do seu álbum ao mirar uma taça brilhante com água límpida à direita dos talheres de prata. Desta forma ela abre as janelas de seus olhos para o infinito, indo além daquelas fronteiras anteriores do alto da torre, quando levanta uma colher de prata e vê seu rosto atravessar sua superfície, mas necessita almoçar.

Daqui a pouco o carro vem buscá-la para levá-la à escola, pois cursa o ensino médio e sua intenção é estudar Psicologia. Pensa consigo mesmo, “que eu seja Clarisse, mas não posso agora ir totalmente além do espelho reluzente desta prata, pois preciso ser uma bailarina expert e saber dançar entre meu diário e minha vida diária...aliás mamãe nem pode perceber....”

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Conto clarividiaudiente

Andava um dia o poeta clarividente entre os canteiros de flores da praça como entre galáxias, pois é no espaço onde se encontra o mais evidente; o que seria o mundo aparente se não houvesse o interstício entre uma coisa e outra? O que seria cada coisa se não houvesse o espaço que as recebesse?

Andava assim o poeta clariaudiente ouvindo o farfalhar das pétalas, das folhagens, das asas dos pássaros e os sons mais profundos que o homem comum não é capaz de ouvir, pois só consegue ouvir e ver o mais superficial e não o mais saliente que está em um reino mais sutil.

Digamos que o poeta navegava naquele local, pois passear atento ao que há de mais belo é como controlar um barco na chegada de um porto às portas de uma grande cidade ancestral e para trás o grande mar incógnito, pois navegar é viver.

Pensava porque ventura aquela mulher tão bela que passeava com seu cão era mais linda que a miss universo? Sim, sua suntuosa presença a elevava ser musa dos seus versos e com isto resgatava a mais plena e pura beleza que possa caber na captação de um olhar. Seu andar controlando o cão era como uma chama acendendo por dentro a alma do poeta e se elevava como uma taça em um brinde de emoção; sendo um louvor ao pensamento e uma prova de que neste imenso mundo pode haver coincidências por toda parte, mas nenhuma delas chega aos pés do sincronismo.

Este raro acontecimento de uma manhã de sol com céu claro azul de poucas nuvens, por incrível que pareça abriu um enorme arco íris depois de uma chuva de emoções e sentimentos que caíram sobre aquele observador atento a cada movimento, a cada ação por mais interna que fosse, mas que foi tocado por aquela presença em cheio no centro do seu self, no local unificador de todos os planos do seu ser.

Realidade

Há coisas que nos fazem cair fora de si... Dependendo do vulto vale demais sonhar. Dependendo da penumbra nem vale a pena acordar. Acordar m...