Quer queira, quer não queira,
nossa alma é nossa única companheira.
Eu não escrevo à revelia,
elejo cânticos à poesia!
Ando por caminhos bifurcados
que se findam em um jardim.
Mesmo escrevendo uns rascunhos,
lanço-os ao ermo, rabiscados,
e Deus os passa a limpo para mim.
Poemas e contos contribuem para a recuperação de nosso ser, viajando pelos nossos mitos e arquétipos, pelas lendas, pelas aventuras de nossa essência através das dunas do tempo.
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quinta-feira, 31 de outubro de 2019
terça-feira, 29 de outubro de 2019
Vc 86
Beija flor
lindo sobrevoando no ar, leve e suave,
solene vibrando
as asas, com o bico pontiagudo,
pairando como
suspense, bailando em doce nave,
uma dança, somente
quem a percebe sabe tudo!
Por possuir bem
o amor, possui quem o alinhave,
quando o ame
não se portando bruto, tão sisudo,
seja como um
beija flor viril, minúscula astronave,
vá com teus
beijos porque por ali beijando é tudo!
Desvendando
os segredos, eles são tantos, muitos,
o corpo é um
continente, moramos em um paraíso,
navegando por
seus portos, viajando livre é preciso
refletir que
se viaja por cada canto quando o carinho
consciente experimenta
o sabor como um andarilho!
O sucesso da
viagem não está somente sobre o trilho!
domingo, 27 de outubro de 2019
Vc 85
Tudo daria
para beijá-la com toda força e calmamente,
sorver teus
lábios belos parecendo uma taça de cristal,
deslizar doce
por eles com carinhos, entreabertamente,
encarnando-me
nos sulcos eternais de tua boca sensual!
Sentiria teu
calor subindo o corpo, sobressaindo latente,
como uma
lenda contada no segredo do mundo
oriental,
abraçar-te-ia
com tudo que tenho, obtendo-te bem rente,
atravessaria
contigo perigos eminentes vindos do umbral!
Um beijo
dado deste jeito com o coração como quem sabe,
o valor sem
preço que é beijar, não há moeda no mercado,
que poderia
vender o beijo solenemente desta forma dado!
Se for
blasfêmia, atrevido romanticamente até aqui me cabe,
se não possa
tê-la neste momento, apenas em desejo aceno,
ter o mundo
por imenso, mesmo por um teu beijo pequeno!
sexta-feira, 25 de outubro de 2019
Vc 84
Em minha imaginação lhe pergunto sobre o
segredo e o maior sucesso de nós dois.
A começar somos dois em um e um em dois.
Não somos um para cada um.
Nosso território é um espaço indefinido,
difícil de se encontrar na mistura de nós dois,
um lugar não demarcado, um lugar do lugar nenhum,
mas um lugar que não se deve esquecer de procurar.
Nós somos este lado encantado entre o
sonho e o delírio da viagem entre o prazer do que foi erguido e a presença do inacabado.
Nós voamos sem deixar rastro ao estender nossas pegadas.
Nos encontramos para buscar o que não foi encontrado,
em direção ao viés com muitas saídas ramificadas!
Nós somos nosso próprio lançar entre o chão e o
infinito céu.
Nos situamos em um lugar que fica entre o
entra e sai, o sai e entra, ou vai e vem, vem
e vai, talvez como ponto ideal ou linha fronteiriça,
o risco da fronteira, o traço que não é de ninguém,
que a ninguém pertence, que não tem dono,
mas que também tem quem o queira, pois ele está
entre o além e a beira, entre o preenchimento e
o vazio que só se completa com
a volta do pavio que acende nossa chama.
segredo e o maior sucesso de nós dois.
A começar somos dois em um e um em dois.
Não somos um para cada um.
Nosso território é um espaço indefinido,
difícil de se encontrar na mistura de nós dois,
um lugar não demarcado, um lugar do lugar nenhum,
mas um lugar que não se deve esquecer de procurar.
Nós somos este lado encantado entre o
sonho e o delírio da viagem entre o prazer do que foi erguido e a presença do inacabado.
Nós voamos sem deixar rastro ao estender nossas pegadas.
Nos encontramos para buscar o que não foi encontrado,
em direção ao viés com muitas saídas ramificadas!
Nós somos nosso próprio lançar entre o chão e o
infinito céu.
Nos situamos em um lugar que fica entre o
entra e sai, o sai e entra, ou vai e vem, vem
e vai, talvez como ponto ideal ou linha fronteiriça,
o risco da fronteira, o traço que não é de ninguém,
que a ninguém pertence, que não tem dono,
mas que também tem quem o queira, pois ele está
entre o além e a beira, entre o preenchimento e
o vazio que só se completa com
a volta do pavio que acende nossa chama.
Lembrança
Há uma tarde que passa por nós ou nós que passamos pela tarde?
Há uma tarde de cada um! Não conheço aquela de todos!
Cada um carrega a sua debaixo dos braços de suas horas.
A grande tarde, aquela una de todas, são todas as sensações juntas de que ela está a passar pela viseira ingênua ou infantil de cada um.
Porém, há uma tarde que passa tarde.
Mas há uma tarde que embora tenha ido tão cedo, deixou alguns em degredo.
Há uma tarde de cada um! Não conheço aquela de todos!
Cada um carrega a sua debaixo dos braços de suas horas.
A grande tarde, aquela una de todas, são todas as sensações juntas de que ela está a passar pela viseira ingênua ou infantil de cada um.
Porém, há uma tarde que passa tarde.
Mas há uma tarde que embora tenha ido tão cedo, deixou alguns em degredo.
Decifrando
Mundo, eterno mundo! Existir é seu resumo!
Mundo, eterno mundo, não somente do verbo ser, pois este verbo é o ser no mundo!
Porém, também, mundo do verbo esconder! Verbo que joga tudo ao fundo!
Mesmo um retrato estampado é um tempo escondido na retina!
Mesmo uma lembrança cristalizada é uma época escondida atrás da cortina!
A tarde esconde a manhã, a manhã esconde a madrugada, a madrugada esconde a noite, a noite esconde a tarde que esconderá outra manhã que será envelhecida na tarde.
Mundo, eterno mundo, que sempre será o futuro do verbo ser conjugado como particípio passado do eterno verbo esconder.
Mundo, eterno mundo, não somente do verbo ser, pois este verbo é o ser no mundo!
Porém, também, mundo do verbo esconder! Verbo que joga tudo ao fundo!
Mesmo um retrato estampado é um tempo escondido na retina!
Mesmo uma lembrança cristalizada é uma época escondida atrás da cortina!
A tarde esconde a manhã, a manhã esconde a madrugada, a madrugada esconde a noite, a noite esconde a tarde que esconderá outra manhã que será envelhecida na tarde.
Mundo, eterno mundo, que sempre será o futuro do verbo ser conjugado como particípio passado do eterno verbo esconder.
Permanência
Um pingo d’água em uma folhagem, para uns pode ser uma tromba d’água, para outros o coração da paisagem.
Um cometa cruzando o céu, para uns pode ser uma premonição, enquanto outros lhe tiram o chapéu.
Um velho sentado em uma praça fria, para uns pode ser um incômodo, para outros um momento sagrado de sabedoria.
Depois de um pequeno tropeção, de uns pode vir um horrível xingamento, de outros pode surgir uma nova condição.
Para mim, o universo é um belo jardim cheio de flores e jasmim entre o micro e o macro!
Para outros é um fardo e viver é um saco!
Um cometa cruzando o céu, para uns pode ser uma premonição, enquanto outros lhe tiram o chapéu.
Um velho sentado em uma praça fria, para uns pode ser um incômodo, para outros um momento sagrado de sabedoria.
Depois de um pequeno tropeção, de uns pode vir um horrível xingamento, de outros pode surgir uma nova condição.
Para mim, o universo é um belo jardim cheio de flores e jasmim entre o micro e o macro!
Para outros é um fardo e viver é um saco!
Sensação
Não estou nem aí para aqueles que ao ver as pedras, não sabem perceber nelas suas coloridas pétalas. Não há por que me preocupar, quando aponto pra lá e não encontro ninguém sonhando com uma estrela do mar. Não quero me aborrecer nem um bocado, se ninguém sentir a meiguice de um gato dançando tango em um telhado. Se a luz do sol atravessa todos os espaços e ninguém navega em uma vesga de emoção, que eu saiba colhê-la em meus braços. Com todos estes insensíveis é preciso ter paciência! Se o tempo escorre entre os meus dedos, em cada vão entre eles em minhas mãos, eu me despeço de todos os meus medos! A maior parte dos homens só sabe ver e não sabe olhar! A maior parte dos homens só sabe ouvir e não sabe escutar! Olhar e escutar é inclinar ao mundo o coração! A diferença entre uma coisa e outra é a mesma entre o toque e o carinho. Sem esta percepção a vida é nada. Sem esta condição não há passos nem caminho.
Experiência
Se alguém lhe der
um tapa na face,
cure a dor de sua mão.
Vire as páginas diárias
de sua face, mesmo
porque outros virão.
Quem quer um mundo melhor
viverá sempre na tensão.
Viver às vezes é morrer de perdão!
Viver é usufruto de si mesmo
no vulto do outro!
Viver é vapt vupt!
Viver é ser no interstício!
Viver é convidar o céu
a cair no precipício.
um tapa na face,
cure a dor de sua mão.
Vire as páginas diárias
de sua face, mesmo
porque outros virão.
Quem quer um mundo melhor
viverá sempre na tensão.
Viver às vezes é morrer de perdão!
Viver é usufruto de si mesmo
no vulto do outro!
Viver é vapt vupt!
Viver é ser no interstício!
Viver é convidar o céu
a cair no precipício.
Desolação
Raimundo na seca do mundo.
Mundo, mundo sem pastagem.
Tá tudo sequinho no morro.
Tá tudo sequinho na vargem,
da superfície ao seu fundo.
Raimundo não pede socorro
porque ele saiu de viagem.
Raimundo vira Raimundinho.
Já tem vaca sorrindo com os
dentes debaixo do osso.
Já tem boi dormindo
com a barriga de bruços.
Já tem bichos partindo com
os pés presos ao pescoços!
Com a pedra secou o moinho,
pois a água deu na linha.
A seca tá tão danada,
que Raimundo pensou
que sua mulher vestida
estava toda pelada!
Até parecia farinha
a terra de tão ressecada.
A cacimba só tem o fundo.
Igual a barriga do Raimundo!
Mundo, mundo sem pastagem.
Tá tudo sequinho no morro.
Tá tudo sequinho na vargem,
da superfície ao seu fundo.
Raimundo não pede socorro
porque ele saiu de viagem.
Raimundo vira Raimundinho.
Já tem vaca sorrindo com os
dentes debaixo do osso.
Já tem boi dormindo
com a barriga de bruços.
Já tem bichos partindo com
os pés presos ao pescoços!
Com a pedra secou o moinho,
pois a água deu na linha.
A seca tá tão danada,
que Raimundo pensou
que sua mulher vestida
estava toda pelada!
Até parecia farinha
a terra de tão ressecada.
A cacimba só tem o fundo.
Igual a barriga do Raimundo!
Saudade interiorana
Havia sempre passarinho bem no alto da jaqueira.
Tinha um fogão de lenha besuntado de barro branco.
Andando pela roça inteira em cada pé tinha um ninho
e um galo muito franco cantava com a mesma resenha
que o dia estava saindo.
Quando passava o vento como era lindo seu assobio.
Quando a chuva caía era uma benção do céu.
O café diário na chaleira, num canto água na talha.
Era doce o pensamento e bem limpinho o rio.
Quando o povo percebia a lua cheia na ribanceira,
a Deus tirava o chapéu, Deus ó Deus nos valha!
Era um tempo que se vivia.
Hoje o tempo é um escarcéu!
Tinha um fogão de lenha besuntado de barro branco.
Andando pela roça inteira em cada pé tinha um ninho
e um galo muito franco cantava com a mesma resenha
que o dia estava saindo.
Quando passava o vento como era lindo seu assobio.
Quando a chuva caía era uma benção do céu.
O café diário na chaleira, num canto água na talha.
Era doce o pensamento e bem limpinho o rio.
Quando o povo percebia a lua cheia na ribanceira,
a Deus tirava o chapéu, Deus ó Deus nos valha!
Era um tempo que se vivia.
Hoje o tempo é um escarcéu!
quinta-feira, 24 de outubro de 2019
Vc 82
Como todo poeta que se preza e se cuida
eu tenho dois céus.
Como um bom jardineiro sei cuidar de
todos os dois.
Tenho um céu noturno que ofusca da
minha janela telescópica para a noite.
Tenho um céu permanente em minha
macroscópica mente onde você é toda
a estrela que brilha por ele o dia inteiro.
Eu posso estar silente e mudo que você
conversa comigo no meu infinito interior.
Eu posso estar andando às claras pela rua
e levar você escondida, embrulhada em
papel de presente para a festa do meu viver.
Lá fora há um ruído permanente dos carros
e da correria de todos, mas dentro de mim
há uma canção encantando todo meu ser,
fluindo nas cordas de ouro de um bandolim,
andando pelo mundo movimentado à luz solar,
debruçado sobre seu corpo em minha madrugada
infinita, tecida pelo sorriso da sua presença espetacular.
Andamos por aí e vemos quem pensa ter tudo,
sem saber que pode ter alguém que nada diz,
no entanto carrego a assinatura do homem feliz,
pois por dentro seu mundo é forrado de veludo.
Vc 81
Nas páginas do meu livro
de amor,
eu leio os bordados do seu
contorno.
Seu corpo como folha solta
ao vento,
vem bailando ondulosa dança
do ventre,
suas curvas me desenham
montanhas,
viajo por vales floridos,
refescantes,
neles adormeço meu sono a
contento,
não importando os sonhos delirantes.
Vai e vem das pás de um
cata vento
emocionante que redesenha
o tempo
nas bordas de um relógio
imaginário,
elas são seus ponteiros
flutuantes,
não se importam com as
horas nem
se prendem a suas
inesperadas ondas.
Vôo por nuvens
retrógradas, pois nunca
termino as sequencias do
meu fluxo e
minha mente se preenche no
espaço,
pelos adesivos das formas
rebuscadas,
enquanto penduro em clipes
de suspenses,
os suspiros de prazer das
minhas escaladas!
Lamento Sertanejo
Quando mamãe foi embora,
vi o sol chorar por dentro,
enquanto brilhava por fora!
O sabiá chorou na mata,
no meio da poça d'água
de cada lágrima nua,
murchou a lua de prata,
realidade cruel e crua.
Meu versinho é tão pequenino,
sem nenhuma suntuosidade,
sendo um versinho de menino,
de quem guarda a saudade,
sendo um versinho de criança,
de quem guarda a lembrança,
não sei escrever em caderno,
nem sei em papel almaço,
não sou gente de cidade,
é um versinho bem fraterno,
é em forminha de abraço,
declaro sou um roceiro,
eu não estudei nada,
passei o dia inteiro,
capinando no cabo de enxada,
quando escrevi este versinho,
faço estrofe pequenina,
enquanto a outra é espichada,
desenhando no pó do terreiro,
riscando com um gravetinho,
meu único lápis escreveiro,
não tive muita coisa a dizer,
não tenho fala de doutor,
apenasmente queria escrever,
daquele de repente momento,
mamãe nos deixou desta vida,
de repente nos deixou,
com uma dor tão doída,
doendo de tanta dor.
vi o sol chorar por dentro,
enquanto brilhava por fora!
O sabiá chorou na mata,
no meio da poça d'água
de cada lágrima nua,
murchou a lua de prata,
realidade cruel e crua.
Meu versinho é tão pequenino,
sem nenhuma suntuosidade,
sendo um versinho de menino,
de quem guarda a saudade,
sendo um versinho de criança,
de quem guarda a lembrança,
não sei escrever em caderno,
nem sei em papel almaço,
não sou gente de cidade,
é um versinho bem fraterno,
é em forminha de abraço,
declaro sou um roceiro,
eu não estudei nada,
passei o dia inteiro,
capinando no cabo de enxada,
quando escrevi este versinho,
faço estrofe pequenina,
enquanto a outra é espichada,
desenhando no pó do terreiro,
riscando com um gravetinho,
meu único lápis escreveiro,
não tive muita coisa a dizer,
não tenho fala de doutor,
apenasmente queria escrever,
daquele de repente momento,
mamãe nos deixou desta vida,
de repente nos deixou,
com uma dor tão doída,
doendo de tanta dor.
domingo, 20 de outubro de 2019
Vc 80
Através do meu astrolábio miro seu
olhar.
Como um dançarino cigano ele
volteia, dança, ondula em uma onda do mar.
Como um colibri
instantâneo ele se torna inquieto, mas de uma inquietude serena, tão suave ao
ponto de trazer o mais longe para mais perto.
Como um sábio concentrado
ele se torna unívoco olhar. Doçura que encanta. Brandura que acalenta. Um passo
a mais seria mais que um olhar. Mas não seria interessante, pois
assim tão fixo em mim, ele
se torna um gigante.
Surge expectante como um
luar. Olhar que desperta o que há por trás das aparências.
Olhar que recupera as mais
distantes reminiscências.
Passeia além do rosto até
penetrar no infinito da minha observação.
Leva e trás com ele o
sonido de uma canção. Olhar de despertar todo o bem que se há de sentir.
Olhar que recupera o que
foi perdido.
Olhar de chegar sem
partir.
Olhar cujo brilho me
acompanha em cada lugar.
Olhar que recupera nossa
memória.
Olhar que não será
esquecido porque não é olhar perdido.
Vc 79
A distância não nos deixou
a sós!
Esteve ao nosso lado como
uma ponte,
traçando uma esperança em
cada sorriso,
estendendo uma fragrância
sem fronteira,
permanecida em lembrança
no horizonte,
entre esta energia que
ficou entre nós,
entre uma despedida em
época passada,
com o surgimento de um
segundo preciso,
o que chamamos de alguma
coincidência,
o que poderíamos chamar de
sincronismo,
pomar do encontro da alma
deslumbrada,
com o perfume antigo de
nossa convivência.
Pétalas perfumadas pelo divino mecanismo
do encanto de uma força de permanência.
Vc 78
Uma tarde ela chegou com
uma sabedoria eclesiástica
e me ensinou que cada
coisa tem seu tempo e cada tempo a sua hora, mesmo depois que alguém mudasse a
cena da peça com outra plástica.
Mesmo que alguém quisesse coisificar o tempo com uma fórmula
matemática. Mesmo que
alguém quisesse temporizar a hora com uma expressão prática.
Somente o tempo é dono de
si mesmo e às vezes de engraçado se
disfarça em uma hora
de contra tempo, ou com um lapso
que é uma fresta na janela
do tempo.
Mas é por ela que tudo
acontece. Por ela um convidado
entra e se senta ao lado
de uma convidada para uma festa que tal um laço os pega tão de repente que os
ata dos pés aos braços ou
com um beijo os enlaça!
Vc 77
Está escrito em um
pergaminho sagrado que um encontro infinito não é um encontro programado, assim
como um jardim bonito não é um jardim desenhado.
Está escrito no lampejo da
estrela vespertina que só serão eternos os encontros, quando eles acontecem e
pronto!
Está no âmago de uma
esmeralda cristalina que só há amor quando o sincronismo marca com seus
ponteiros simétricos a hora do improviso.
Portanto, a beleza está na
volúpia selvagem de eclodir-se a si mesma, de chegar na ponta dos pés sem
nenhum aviso.
A viagem do amor é uma
fada onde na extensão de sua varinha de condão se bifurcam os caminhos
paralelos.
Ela chegou tão de repente
que me surpreendeu com o golpe do seu olhar, como um sabre amolado em pedra
consistente.
Quem diria que aquela
criatura tão meiga e silenciosa me sequestrasse para o resto de minha vida nas
profundezas
do seu coração?
Que me venha o mensageiro
da florista das grandes paixões cinematográficas e me traga um buquê escrito:
Pra você! Você soube perder!
sábado, 19 de outubro de 2019
Vc 76
Certa vez, um poeta me
falou do
avesso do avesso do
avesso.
Por mais complicado isto
seja,
sou mais travesso!
Ouso falar do começo do
começo
do começo de nós dois.
Mas por onde começo?
Prefiro começar pela
inversão,
pois quase sempre o que
anda
por minha cabeça não é o
mesmo
que navega em meu coração!
Eu ia para outro lugar,
mas fui
justamente para ali sem
prestar atenção.
Escapei-me da pedra no
meio do caminho que me colocou
outro poeta, não mais que Drummond!
Agora eu digo que havia um
caminho
por trás da pedra e foi
exatamente
nesta rara inversão de
desviar meu olhar
para aquele cantinho onde
você se encontrava
com um livro na mão, que
encontrei
enfim minha tábua de salvação!
Por trás da pedra do nosso
destino
havia um caminho e quem tropeçou
neste caminho não fomos nós e sim
foi
esta pedra onde por trás dela,
escondidinho, nós aos poucos fomos
construindo nosso ninho.
Poema sobre a beleza
Não é feio chorar. Feio é engolir sem degustar.
Feio é esconder as lágrimas pelos cantos de cada lugar,
como fazem muitas ondas distantes em beirais de ilhas
onde somente ostras solitárias irão germinar.
Feio é esconder cartas na manga do paletó.
Pensar que assim se ganha o jogo
numa última laçada.
Não é feio estar só.
Feio é andar pela estrada
sem aprender com as marcas dos seus pés no pó.
Feio é ler e não interpretar.
Feio é ver e não olhar.
Feio é ouvir e não escutar.
Feio é esconder as lágrimas pelos cantos de cada lugar,
como fazem muitas ondas distantes em beirais de ilhas
onde somente ostras solitárias irão germinar.
Feio é esconder cartas na manga do paletó.
Pensar que assim se ganha o jogo
numa última laçada.
Não é feio estar só.
Feio é andar pela estrada
sem aprender com as marcas dos seus pés no pó.
Feio é ler e não interpretar.
Feio é ver e não olhar.
Feio é ouvir e não escutar.
Vc 75
Outros virão após a tarde
que se fechou em nossos lábios
como um convite de
lembrança que não se reduz à dimensão
de nossa vontade.
Os que trouxeram seus
rostos obscuros, a nós desconhecidos, agora não procuramos nos vãos escuros dos
seus pensamentos as suas intenções; porém nos porões de nossas memórias,
guardaremos aquelas conversas engraçadas que
entre nós foram bem
traçadas como inesquecíveis vínculos permanentes entre nós.
Acrescentarão luzes nas
sombras projetadas sobre a tela do nosso cotidiano repetitivo e trarão
esperanças às aparências fugidias e errantes do seio de nossos encontros, amor!
Outros virão no girar da
Roda de Samsara, assim como também viemos após a nós como sempre viemos juntos.
Outros viverão no coração
esta vontade rara de recuperar o paraíso perdido, de reerguer aquela antiga
cidade no arquétipo mais profundo do mito!
Outros virão após a nós
dois, com a idéia original da felicidade florindo com uma nova humanidade que
tenha recuperado o seu jardim!
Vc 74
Você me fez humano e minha
palavra personalizou-se completa.
Tornou-me mais sensível, incendiou
o poeta!
Abriu minhas janelas e
suas cortinas onduladas de adegas,
para ver entre as matizes
de suas aquarelas como passeiam de mãos
dadas minhas retinas.
Ao tornar-me mais humano as
minhas palavras encheram-se de galáxias. A poesia transbordou em minhas veias
oceânicas.
Pode vir um inverno úmido
e frio com um cinza cobrindo de veste a cidade, pois pela avenida eu serei
recebido por vestais.
Ao tornar-me mais humano, minha
palavra tornou-se evidente ao acender a lareira da poesia com um fogo
permanente.
Todos os meus passos se
tornaram insistentes pelas veredas de minha existência completa.
Vivo no âmbito e na
permanência de todos os meus entes que no meu céu interior são cometas
cadentes!
Você me fez mais humano ao
me forrar de carinho numinoso!
Transformou-me em um
verdadeiro poeta e assim planto rimas
pelas estrofes do nosso
caminho!
Vc 73
No início uma gélida
solidão com um arsenal lacrimoso estendia suas alças zodiacais desde o humo do
chão até ao último astro luminoso, comprimindo minha existência.
O espaço era um zíper de
aço inoxidável que não permitia nenhuma abertura e nenhum abrigo, nem a proeza
de um minúsculo clipe, por onde pudesse passar ou morar a pelúcia da mais
oculta esperança, pois a tristeza traçara um visco entre o azedume da terra e o
inóspito mar.
Quando se lançava a âncora
no meu porto, sua ponta chegava ao foco do lodo e não havia como regressar,
enquanto a embarcação se destilava com ferrugem e coque, após o embarcadiço se
destroçar.
Em tudo havia solidão,
solidão por toda parte. Em tudo havia sentença sem a presença da contraparte.
Mas ela chegou sorrindo, sorrindo com amor e arte, andando como uma ninfa pelo
lado esquerdo da prateleira da livraria.
Sorriso como um balanço
movimentando por todos os lados. Sorriso como um gancho pra convidar a alegria
e bendizer o sol, romancear a noite, incendiar o dia, entregar o coração
Insulano, palpitando agora recém ilhado.
Por decreto do destino
como única opção, onde só havia na ilha do meu isolamento uma torre com uma
donzela presa, fiando por eternidades com sons ocarinos de suas agulhas
fiadeiras, até que aqueles sorrisos cristalinos me chegaram de surpresa, no
meio de tantos livros e tantas estórias, vi-me diante da lenda mais romântica
de minha vida.
Conforme predisse cantando
a pitonisa sobre a maldição de uma megera, assim se cumpriu nosso destino!
Então, adeus tardes carpideiras, pois somente o amor é capaz de ter o encanto
do desencanto de desencantar as feiticeiras!
Reconstruirei meu castelo
medieval neste mundo pós moderno sobre o som de minhas poesias, enquanto elas
vibrarem pelos bosques de seus arredores, elas ganharão sinfonias e alcançarão
o mundo.
Eu sei que o mundo é
grande, mas encontrei de novo minha donzela e do alto destes versos o mundo
ficará tão pequenino que eu o embalarei em meus poemas e o lançarei para outros
mundos, como os barquinhos das enxurradas lançados por um menino!
sexta-feira, 18 de outubro de 2019
Vc 72
Amor é fornalha que arde
no altar do coração.
É chama que nos invade,
é o céu beijando o chão!
Amor é como o girassol
que se faz em forma de sol,
ao acompanhar o sol então!
Amor é flor que se abre
aos
braços da primavera.
Amor é como um jardim que
acolhe
em um palmo do seu
cantinho,
aquela florzinha que
escolhe
florir por ali cada dia um
pouquinho.
É uma foto que não cabe na
parede da sala de espera.
Não é simples escrever seja
o que for,
toda a volúpia do grande
amor,
daquele que está na
memória!
Se é imortal no seu
enlace,
se suporta o pranto e a
dor,
se é um vinho que se transborda
mas não esvazia o cálice,
ele é o senhor da nossa
estória!
Vc 71
Diga-me agora Cupido por
onde ela anda,
ou não lhe considero mais
me mito
e sua seta de amor escondo
atrás daquela
pedra lá fora!
Como uma sombra nascendo
de um cinza leve
e se tingindo gradativa,
se agigantando
e se contorcendo em sua
imensa penumbra,
quem sabe ela venha
surgindo lânguida,
embebendo a tarde com sua
imensidão,
enchendo de copas suas
ramagens
por todos os cantos para
acolher os pardais
esvoaçantes em busca de um
abrigo!
Quem sabe ela venha
silenciosa como a noite
já cantando seus
madrigais,
venha me cobrindo com seus
encantos e também
venha seu néctar de amor
dentro de seu corpo
em forma atraente de
moringa
onde me debruço a beber
nesta fonte!
Diga-me agora Cupido por
onde ela anda,
ou não lhe considero mais
me mito
e sua seta de amor escondo
atrás daquela
pedra lá fora!
Quem sabe ela venha,
nem que seja esvoaçando
pela
plena escuridão das ruas
sinuosas,
desfilando no silêncio
profundo e tudo o mais.
Esteja eu ébrio, enquanto aos
tropeços a destile!
Amanhecerei como um menino
travesso
ou como um broto de
alfazema!
Guardarei meu destino bem
traçado
por tua presença chegando na
noite passada!
Nossos corpos serão
tragados pelos
nossos vai e vem traçados
que deixarão
suas matizes jogando as
cartas sobre
nossas mesas mostrando
nossa sorte bem erguida!
Assim, todos os nossos dias
terão suas luzes
para alumbrar nossas
retinas, ou para nos
apresentar um convés que
atravesse como uma
barca a nossa vida com
mais sentido e aventura.
Você 70
Enquanto ela deslizava com
ar de pantera
suas unhas em mágica
derradeira sobre meus ombros,
o colorido do dia se
deslocava aos tombos
percorrendo as horas em
cachoeira com
matizes perfumadas de
begônia.
Uma brisa assaz saliente,de
alteza balsâmica
ensaiava sua pura
artimanha;
rondava meu vulto em clarões
na insônia,
pelas noites longas de seus
palpáveis seios
voavam meus pensamentos
saltitando!
Seus compassados movimentos
pelos labirintos
e meandros da minha
consciência, perambulavam com
o tálamo de seu vulto
flutuante, envolvendo-me
em seus cabelos esvoaçando
pela
réstia desta fausta
vontade; mesa farta das mais
ricas oferendas dos
prazerosos momentos!
Passo a passo casual com
as mãos em
feixe em suas madeixas, traço itinerários carinhos,
mas seguindo um compasso
egrégio na
essência hidratada de
açucena, cinamomo e hortênsia
do seu ser, o mais amado
que já tive.
Atrativo sortilégio, com a
experiência de um adepto,
com a inocência imprudente
de um morador apaixonado do
palácio deslumbrante erigido no oásis dos seus contornos,
ao não ter janelas nem
horizontes, ao não possuir estrada,
nem pontes, me arrisco em
um salto fulgurante!
Voo além de seus cachos, desato seus colchetes,
embriago sua voz,
lançando minha única cartada dividida
entre a vontade e o após,
aquele caminhar infinito
por cada cantinho
encontrado, por cada curvinha surgida,
envolto na eternidade de
cada instante.
Você 69
Do seu olhar de sereia um
raio de luz surgia!
Seus glóbulos ofuscavam serpentários
sibilos
adentrando a penumbra com
lãs de suspiros!
Espécie de galanto invicto
da areia insípida,
ostentando um brinde
heróico de arcabuz ribelanto.
Seta invencível do Deus Cupido
guardada na
freqüência de um
respiradouro estóico!
Paixão imprescindível, com
resquícios de
nuvens prateadas e sismos
ígneos!
Aro ousado, desafiante,
sempre diferente,
mesmo em encontros
seqüenciais!
Preciosa seta sexual de
Ulisses perfumava
nossas noites nupciais!
Guizos e grunhidos faziam
ranhuras no ar,
em cujo centro estava seu
fulcro.
Olhar girandesco em forma
de fuso a fiarl
Lembrança cujo fascínio é
de beleza autógena,
traduz em sua força
impressa uma pulsação de dança!
Malha de doces encantos,
ancoradouro
encena estranhos
arabescos, que quanto
mais se trança, mais me
deliciosamente arranha,
muito mais do que se pensa
desamarra meus prantos!
quinta-feira, 10 de outubro de 2019
Você 68
As palavras
batem em mim como ondas do mar.
Apenas colho
as palavras que você vem semear.
Se eu fosse
uma praia distante, você seria as rendas
de ondas que
vem me tocar.
Apenas colho
as palavras para escrever meus poemas.
São como
gravetos que ajeito para acender minha fogueira.
Mas você é a
chama que brilha em minha lareira!
Se eu sou um
moinho, você é o vento!
Vento que
passa suave pelas tranças da primavera.
Eu sou como
uma folha que cai enquanto desce do arvoredo.
Mas você é a
dança que aquece esta folha na descida.
Assim vou
pelo mundo cantando feliz da vida.
Minha noite
é cheia de estrelas, mas só vejo você.
Você é a
estrela que brilha mais cedo.
Meu poema já
estava no ar. Apenas esperava você abrir
o para
quedas para ele aplainar.
Desencontrados
Tenho faróis
que percorrem por todos estes lugares,
meus olhos como
favos de sóis a pesquisar os casais,
são como
marujos velozes acostumados aos mares,
são como
águas vivas longínquas a balançar o cais!
Antenas vasculhando
como convivem estes pares,
como se dão
no amor, se entregam, ou algo a mais,
como Sherlock
Holmes escutam a cor dos olhares,
indagando o
conviver a dois no mundo do jamais!
Rostos empalidecendo,
tristes, fixos, embevecidos
nas telas
dos seus aparelhos por onde se separam,
voltam para casa, vazios, sozinhos e
esquecidos!
Meus olhos
se entristecem pelos amores marotos,
os desencontros
em conjunto dos novos tempos,
onde todos
estão juntos na ausência dos outros!
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