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quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Ser

Quer queira, quer não queira,
nossa alma é nossa única companheira.
Eu não escrevo à revelia,
elejo cânticos à poesia!
Ando por caminhos bifurcados
que se findam em um jardim.
Mesmo escrevendo uns rascunhos,
lanço-os ao ermo, rabiscados,
e Deus os passa a limpo para mim.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Vc 86


Beija flor lindo sobrevoando no ar, leve e suave,
solene vibrando as asas, com o bico pontiagudo,
pairando como suspense, bailando em doce nave,
uma dança, somente quem a percebe sabe tudo!

Por possuir bem o amor, possui quem o alinhave,
quando o ame não se portando bruto, tão sisudo,
seja como um beija flor viril, minúscula astronave,
vá com teus beijos porque por ali beijando é tudo!

Desvendando os segredos, eles são tantos, muitos,
o corpo é um continente, moramos em um paraíso,
navegando por seus portos, viajando livre é preciso
refletir que se viaja por cada canto quando o carinho
consciente experimenta o sabor como um andarilho!
O sucesso da viagem não está somente sobre o trilho!

domingo, 27 de outubro de 2019

Vc 85


Tudo daria para beijá-la com toda força e calmamente,
sorver teus lábios belos parecendo uma taça de cristal,
deslizar doce por eles com carinhos, entreabertamente,
encarnando-me nos sulcos eternais de tua boca sensual!

Sentiria teu calor subindo o corpo, sobressaindo latente,
como uma lenda contada  no segredo do mundo oriental,
abraçar-te-ia com tudo que tenho, obtendo-te bem rente,
atravessaria contigo perigos eminentes vindos do umbral!

Um beijo dado deste jeito com o coração como quem sabe,
o valor sem preço que é beijar, não há moeda no mercado,
que poderia vender o beijo solenemente desta forma dado!
Se for blasfêmia, atrevido romanticamente até aqui me cabe,
se não possa tê-la neste momento, apenas em desejo aceno,
ter o mundo por imenso, mesmo por um teu beijo pequeno!


sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Vc 84

Em minha imaginação lhe pergunto sobre o 
segredo e o maior sucesso de nós dois.
A começar somos dois em um e um em dois.
Não somos um para cada um.
Nosso território é um espaço indefinido,
difícil de se encontrar na mistura de nós dois,
um lugar não demarcado, um lugar do lugar nenhum, 
mas um lugar que não se deve esquecer de procurar. 
Nós somos este lado encantado entre o 
sonho e o delírio da viagem entre o prazer do que foi erguido e a presença do inacabado. 
Nós voamos sem deixar rastro ao estender nossas pegadas. 
Nos encontramos para buscar o que não foi encontrado, 
em direção ao viés com muitas saídas ramificadas!
Nós somos nosso próprio lançar entre o chão e o
infinito céu. 
Nos situamos em um lugar que fica entre o 
entra e sai, o sai e entra, ou vai e vem, vem
e vai, talvez como ponto ideal ou linha fronteiriça, 
o risco da fronteira, o traço que não é de ninguém, 
que a ninguém pertence, que não tem dono, 
mas que também tem quem o queira, pois ele está 
entre o além e a beira, entre o preenchimento e 
o vazio que só se completa com
a volta do pavio que acende nossa chama.

Lembrança

Há uma tarde que passa por nós ou nós que passamos pela tarde? 
Há uma tarde de cada um! Não conheço aquela de todos! 
Cada um carrega a sua debaixo dos braços de suas horas. 
A grande tarde, aquela una de todas, são todas as sensações juntas de que ela está a passar pela viseira ingênua ou infantil de cada um. 
Porém, há uma tarde que passa tarde. 
Mas há uma tarde que embora tenha ido tão cedo, deixou alguns em degredo.

Decifrando

Mundo, eterno mundo! Existir é seu resumo! 
Mundo, eterno mundo, não somente do verbo ser, pois este verbo é o ser no mundo! 
Porém, também, mundo do verbo esconder! Verbo que joga tudo ao fundo! 
Mesmo um retrato estampado é um tempo escondido na retina! 
Mesmo uma lembrança cristalizada é uma época escondida atrás da cortina! 
A tarde esconde a manhã, a manhã esconde a madrugada, a madrugada esconde a noite, a noite esconde a tarde que esconderá outra manhã que será envelhecida na tarde. 
Mundo, eterno mundo, que sempre será o futuro do verbo ser conjugado como particípio passado do eterno verbo esconder.

Permanência

Um pingo d’água em uma folhagem, para uns pode ser uma tromba d’água, para outros o coração da paisagem.
 Um cometa cruzando o céu, para uns pode ser uma premonição, enquanto outros lhe tiram o chapéu. 
Um velho sentado em uma praça fria, para uns pode ser um incômodo, para outros um momento sagrado de sabedoria. 
Depois de um pequeno tropeção, de uns pode vir um horrível xingamento, de outros pode surgir uma nova condição. 
Para mim, o universo é um belo jardim cheio de flores e jasmim entre o micro e o macro! 
Para outros é um fardo e viver é um saco!

Sensação

Não estou nem aí para aqueles que ao ver as pedras, não sabem perceber nelas suas coloridas pétalas. Não há por que me preocupar, quando aponto pra lá e não encontro ninguém sonhando com uma estrela do mar. Não quero me aborrecer nem um bocado, se ninguém sentir a meiguice de um gato dançando tango em um telhado. Se a luz do sol atravessa todos os espaços e ninguém navega em uma vesga de emoção, que eu saiba colhê-la em meus braços. Com todos estes insensíveis é preciso ter paciência! Se o tempo escorre entre os meus dedos, em cada vão entre eles em minhas mãos, eu me despeço de todos os meus medos! A maior parte dos homens só sabe ver e não sabe olhar! A maior parte dos homens só sabe ouvir e não sabe escutar! Olhar e escutar é inclinar ao mundo o coração! A diferença entre uma coisa e outra é a mesma entre o toque e o carinho. Sem esta percepção a vida é nada. Sem esta condição não há passos nem caminho.

Experiência

Se alguém lhe der 
um tapa na face, 
cure a dor de sua mão.
Vire as páginas diárias 
de sua face, mesmo 
porque outros virão.
Quem quer um mundo melhor
viverá sempre na tensão. 
Viver às vezes é morrer de perdão! 
Viver é usufruto de si mesmo
no vulto do outro! 
Viver é vapt vupt! 
Viver é ser no interstício! 
Viver é convidar o céu
a cair no precipício.

Desolação

Raimundo na seca do mundo. 
Mundo, mundo sem pastagem. 
Tá tudo sequinho no morro.
Tá tudo sequinho na vargem,
da superfície ao seu fundo. 
Raimundo não pede socorro
porque ele saiu de viagem. 
Raimundo vira Raimundinho. 
Já tem vaca sorrindo com os 
dentes debaixo do osso. 
Já tem boi dormindo
com a barriga de bruços.
Já tem bichos partindo com 
os pés presos ao pescoços! 
Com a pedra secou o moinho,
pois a água deu na linha.
A seca tá tão danada, 
que Raimundo pensou 
que sua mulher vestida 
estava toda pelada!
Até parecia farinha
a terra de tão ressecada. 
 cacimba só tem o fundo. 
Igual a barriga do Raimundo!

Saudade interiorana

Havia sempre passarinho bem no alto da jaqueira.
Tinha um fogão de lenha besuntado de barro branco. 
Andando pela roça inteira em cada pé tinha um ninho
e um galo muito franco cantava com a mesma resenha
que o dia estava saindo.
Quando passava o vento como era lindo seu assobio.
Quando a chuva caía era uma benção do céu.
O café diário na chaleira, num canto água na talha.
Era doce o pensamento e bem limpinho o rio.
Quando o povo percebia a lua cheia na ribanceira,
a Deus tirava o chapéu, Deus ó Deus nos valha!
Era um tempo que se vivia.
Hoje o tempo é um escarcéu!

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Vc 83


sem nada

Vc 82


Como todo poeta que se preza e se cuida
eu tenho dois céus.
Como um bom jardineiro sei cuidar de
todos os dois.
Tenho um céu noturno que ofusca da
minha janela telescópica para a noite.
Tenho um céu permanente em minha
macroscópica mente onde você é toda
a estrela que brilha por ele o dia inteiro.
Eu posso estar silente e mudo que você
conversa comigo no meu infinito interior.
Eu posso estar andando às claras pela rua
e levar você escondida, embrulhada em
papel de presente para a festa do meu viver.
Lá fora há um ruído permanente dos carros
e da correria de todos, mas dentro de mim
há uma canção encantando todo meu ser,
fluindo nas cordas de ouro de um bandolim,
andando pelo mundo movimentado à luz solar,
debruçado sobre seu corpo em minha madrugada
infinita, tecida pelo sorriso da sua presença espetacular.
Andamos por aí e vemos quem pensa ter tudo,
sem saber que pode ter alguém que nada diz,
no entanto carrego a assinatura do homem feliz,
pois por dentro seu mundo é forrado de veludo.

Vc 81


Nas páginas do meu livro de amor,
eu leio os bordados do seu contorno.
Seu corpo como folha solta ao vento,
vem bailando ondulosa dança do ventre,
suas curvas me desenham montanhas,
viajo por vales floridos, refescantes,
neles adormeço meu sono a contento,
não importando os sonhos delirantes.
Vai e vem das pás de um cata vento
emocionante que redesenha o tempo
nas bordas de um relógio imaginário,
elas são seus ponteiros flutuantes,
não se importam com as horas nem
se prendem a suas inesperadas ondas.
Vôo por nuvens retrógradas, pois nunca
termino as sequencias do meu fluxo e
minha mente se preenche no espaço,
pelos adesivos das formas rebuscadas,
enquanto penduro em clipes de suspenses,
os suspiros de prazer das minhas escaladas!

Lamento Sertanejo

Quando mamãe foi embora,
vi o sol chorar por dentro,
enquanto brilhava por fora!
O sabiá chorou na mata,
no meio da poça d'água
de cada lágrima nua,
murchou a lua de prata,
realidade cruel e crua.
Meu versinho é tão pequenino,
sem nenhuma suntuosidade,
sendo um versinho de menino,
de quem guarda a saudade,
sendo um versinho de criança,
de quem guarda a lembrança,
não sei escrever em caderno,
nem sei em papel almaço,
não sou gente de cidade,
é um versinho bem fraterno,
é em forminha de abraço,
declaro sou um roceiro,
eu não estudei nada,
passei o dia inteiro,
capinando no cabo de enxada,
quando escrevi este versinho,
faço estrofe pequenina,
enquanto a outra é espichada,
desenhando no pó do terreiro,
riscando com um gravetinho,
meu único lápis escreveiro,
não tive muita coisa a dizer,
não tenho fala de doutor,
apenasmente queria escrever,
daquele de repente momento,
mamãe nos deixou desta vida,
de repente nos deixou,
com uma dor tão doída,
doendo de tanta dor.

domingo, 20 de outubro de 2019

Vc 80


Através do meu astrolábio miro seu olhar.  
Como um dançarino cigano ele volteia, dança, ondula em uma onda do mar.
Como um colibri instantâneo ele se torna inquieto, mas de uma inquietude serena, tão suave ao ponto de trazer o mais longe para mais perto.
Como um sábio concentrado ele se torna unívoco olhar. Doçura que encanta. Brandura que acalenta. Um passo a mais seria mais que um olhar. Mas não seria interessante, pois
assim tão fixo em mim, ele se torna um gigante.
Surge expectante como um luar. Olhar que desperta o que há por trás das aparências.
Olhar que recupera as mais distantes reminiscências.
Passeia além do rosto até penetrar no infinito da minha observação.
Leva e trás com ele o sonido de uma canção. Olhar de despertar todo o bem que se há de sentir.
Olhar que recupera o que foi perdido.
Olhar de chegar sem partir.
Olhar cujo brilho me acompanha em cada lugar.
Olhar que recupera nossa memória.
Olhar que não será esquecido porque não é olhar perdido.


Vc 79

A distância não nos deixou a sós!
Esteve ao nosso lado como uma ponte,
traçando uma esperança em cada sorriso,
estendendo uma fragrância sem fronteira,
permanecida em lembrança no horizonte,
entre esta energia que ficou entre nós,
entre uma despedida em época passada,
com o surgimento de um segundo preciso,
o que chamamos de alguma coincidência,
o que poderíamos chamar de sincronismo,
pomar do encontro da alma deslumbrada,
com o perfume antigo de nossa convivência.
Pétalas perfumadas pelo divino mecanismo
do encanto de uma força de permanência.

Vc 78


Uma tarde ela chegou com uma sabedoria eclesiástica
e me ensinou que cada coisa tem seu tempo e cada tempo a sua hora, mesmo depois que alguém mudasse a cena da peça com outra plástica.
Mesmo que alguém quisesse  coisificar o tempo com uma fórmula
matemática. Mesmo que alguém quisesse temporizar a hora com uma expressão prática.
Somente o tempo é dono de si mesmo e às vezes de engraçado se
disfarça em uma hora de contra tempo, ou com um lapso
que é uma fresta na janela do tempo.
Mas é por ela que tudo acontece. Por ela um convidado
entra e se senta ao lado de uma convidada para uma festa que tal um laço os pega tão de repente que os ata dos pés aos braços ou
com um beijo os enlaça!

Vc 77


Está escrito em um pergaminho sagrado que um encontro infinito não é um encontro programado, assim como um jardim bonito não é um jardim desenhado.
Está escrito no lampejo da estrela vespertina que só serão eternos os encontros, quando eles acontecem e pronto!
Está no âmago de uma esmeralda cristalina que só há amor quando o sincronismo marca com seus ponteiros simétricos a hora do improviso.
Portanto, a beleza está na volúpia selvagem de eclodir-se a si mesma, de chegar na ponta dos pés sem nenhum aviso.
A viagem do amor é uma fada onde na extensão de sua varinha de condão se bifurcam os caminhos paralelos.
Ela chegou tão de repente que me surpreendeu com o golpe do seu olhar, como um sabre amolado em pedra consistente.
Quem diria que aquela criatura tão meiga e silenciosa me sequestrasse para o resto de minha vida nas profundezas
do seu coração?
Que me venha o mensageiro da florista das grandes paixões cinematográficas e me traga um buquê escrito: Pra você! Você soube perder!

sábado, 19 de outubro de 2019

Vc 76


Certa vez, um poeta me falou do
avesso do avesso do avesso.
Por mais complicado isto seja, 
sou mais travesso!
Ouso falar do começo do começo 
do começo de nós dois.
Mas por onde começo?
Prefiro começar pela inversão,
pois quase sempre o que anda
por minha cabeça não é o mesmo 
que navega em meu coração!
Eu ia para outro lugar, mas fui 
justamente para ali sem
prestar atenção.
Escapei-me da pedra no 
meio do caminho que me colocou
outro poeta, não mais que Drummond!
Agora eu digo que havia um caminho
por trás da pedra e foi exatamente
nesta rara inversão de desviar meu olhar
para aquele cantinho onde você se encontrava
com um livro na mão, que encontrei 
enfim minha tábua de salvação!
Por trás da pedra do nosso destino 
havia um caminho e quem tropeçou 
neste caminho não fomos nós e sim 
foi esta pedra onde por trás dela, 
escondidinho, nós aos poucos fomos
construindo nosso ninho.

Poema sobre a beleza

Não é feio chorar. Feio é engolir sem degustar. 
Feio é esconder as lágrimas pelos cantos de cada lugar, 
como fazem muitas ondas distantes em beirais de ilhas 
onde somente ostras solitárias irão germinar.
Feio é esconder cartas na manga do paletó. 
Pensar que assim se ganha o jogo 
numa última laçada.
Não é feio estar só. 
Feio é andar pela estrada 
sem aprender com as marcas dos seus pés no pó.
Feio é ler e não interpretar. 
Feio é ver e não olhar.
Feio é ouvir e não escutar.

Vc 75


Outros virão após a tarde que se fechou em nossos lábios
como um convite de lembrança que não se reduz à dimensão
de nossa vontade.
Os que trouxeram seus rostos obscuros, a nós desconhecidos, agora não procuramos nos vãos escuros dos seus pensamentos as suas intenções; porém nos porões de nossas memórias, guardaremos aquelas conversas engraçadas que
entre nós foram bem traçadas como inesquecíveis vínculos permanentes entre nós.
Acrescentarão luzes nas sombras projetadas sobre a tela do nosso cotidiano repetitivo e trarão esperanças às aparências fugidias e errantes do seio de nossos encontros, amor!
Outros virão no girar da Roda de Samsara, assim como também viemos após a nós como sempre viemos juntos.
Outros viverão no coração esta vontade rara de recuperar o paraíso perdido, de reerguer aquela antiga cidade no arquétipo mais profundo do mito!
Outros virão após a nós dois, com a idéia original da felicidade florindo com uma nova humanidade que tenha recuperado o seu jardim!

Vc 74


Você me fez humano e minha palavra personalizou-se completa.
Tornou-me mais sensível, incendiou o poeta!
Abriu minhas janelas e suas cortinas onduladas de adegas,
para ver entre as matizes de suas aquarelas  como passeiam de mãos dadas minhas retinas.
Ao tornar-me mais humano as minhas palavras encheram-se de galáxias. A poesia transbordou em minhas veias oceânicas.
Pode vir um inverno úmido e frio com um cinza cobrindo de veste a cidade, pois pela avenida eu serei recebido por vestais.
Ao tornar-me mais humano, minha palavra tornou-se evidente ao acender a lareira da poesia com um fogo permanente.
Todos os meus passos se tornaram insistentes pelas veredas de minha existência completa.
Vivo no âmbito e na permanência de todos os meus entes que no meu céu interior são cometas cadentes!
Você me fez mais humano ao me forrar de carinho numinoso!
Transformou-me em um verdadeiro poeta e assim planto rimas
pelas estrofes do nosso caminho!

Vc 73


No início uma gélida solidão com um arsenal lacrimoso estendia suas alças zodiacais desde o humo do chão até ao último astro luminoso, comprimindo minha existência.
O espaço era um zíper de aço inoxidável que não permitia nenhuma abertura e nenhum abrigo, nem a proeza de um minúsculo clipe, por onde pudesse passar ou morar a pelúcia da mais oculta esperança, pois a tristeza traçara um visco entre o azedume da terra e o inóspito mar.
Quando se lançava a âncora no meu porto, sua ponta chegava ao foco do lodo e não havia como regressar, enquanto a embarcação se destilava com ferrugem e coque, após o embarcadiço se destroçar.
Em tudo havia solidão, solidão por toda parte. Em tudo havia sentença sem a presença da contraparte. Mas ela chegou sorrindo, sorrindo com amor e arte, andando como uma ninfa pelo lado esquerdo da prateleira da livraria.
Sorriso como um balanço movimentando por todos os lados. Sorriso como um gancho pra convidar a alegria e bendizer o sol, romancear a noite, incendiar o dia, entregar o coração Insulano, palpitando agora recém ilhado.
Por decreto do destino como única opção, onde só havia na ilha do meu isolamento uma torre com uma donzela presa, fiando por eternidades com sons ocarinos de suas agulhas fiadeiras, até que aqueles sorrisos cristalinos me chegaram de surpresa, no meio de tantos livros e tantas estórias, vi-me diante da lenda mais romântica de minha vida.
Conforme predisse cantando a pitonisa sobre a maldição de uma megera, assim se cumpriu nosso destino! Então, adeus tardes carpideiras, pois somente o amor é capaz de ter o encanto do desencanto de desencantar as feiticeiras!
Reconstruirei meu castelo medieval neste mundo pós moderno sobre o som de minhas poesias, enquanto elas vibrarem pelos bosques de seus arredores, elas ganharão sinfonias e alcançarão o mundo.
Eu sei que o mundo é grande, mas encontrei de novo minha donzela e do alto destes versos o mundo ficará tão pequenino que eu o embalarei em meus poemas e o lançarei para outros mundos, como os barquinhos das enxurradas lançados por um menino!

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Vc 72


Amor é fornalha que arde
no altar do coração.
É chama que nos invade,
é o céu beijando o chão!
Amor é como o girassol
que se faz em forma de sol,
ao acompanhar o sol então!
Amor é flor que se abre aos
braços da primavera.
Amor é como um jardim que acolhe
em um palmo do seu cantinho,
aquela florzinha que escolhe
florir por ali cada dia um pouquinho.
É uma foto que não cabe na
parede da sala de espera.
Não é simples escrever seja o que for,
toda a volúpia do grande amor,
daquele que está na memória!
Se é imortal no seu enlace,
se suporta o pranto e a dor,
se é um vinho que se transborda
mas não esvazia o cálice,
ele é o senhor da nossa estória!

Vc 71


Diga-me agora Cupido por onde ela anda,
ou não lhe considero mais me mito
e sua seta de amor escondo atrás daquela
pedra lá fora!
Como uma sombra nascendo de um cinza leve
e se tingindo gradativa, se agigantando
e se contorcendo em sua imensa penumbra,
quem sabe ela venha surgindo lânguida,
embebendo a tarde com sua imensidão,
enchendo de copas suas ramagens
por todos os cantos para acolher os pardais
esvoaçantes em busca de um abrigo!
Quem sabe ela venha silenciosa como a noite
já cantando seus madrigais,
venha me cobrindo com seus encantos  e também
venha seu néctar de amor dentro de seu corpo
em forma atraente de moringa  
onde me debruço a beber nesta fonte!
Diga-me agora Cupido por onde ela anda,
ou não lhe considero mais me mito
e sua seta de amor escondo atrás daquela
pedra lá fora!
Quem sabe ela venha,
nem que seja esvoaçando pela
plena escuridão das ruas sinuosas,
desfilando no silêncio profundo e tudo o mais.
Esteja eu ébrio, enquanto aos tropeços a destile!
Amanhecerei como um menino travesso
ou como um broto de alfazema!
Guardarei meu destino bem traçado
por tua presença chegando na noite passada!
Nossos corpos serão tragados pelos
nossos vai e vem traçados que deixarão
suas matizes jogando as cartas sobre
nossas mesas mostrando nossa sorte bem erguida!
Assim, todos os nossos dias terão suas luzes
para alumbrar nossas retinas, ou para nos
apresentar um convés que atravesse como uma
barca a nossa vida com mais sentido e aventura.

Você 70


Enquanto ela deslizava com ar de pantera
suas unhas em mágica derradeira sobre meus ombros,
o colorido do dia se deslocava aos tombos
percorrendo as horas em cachoeira com
matizes perfumadas de begônia.
Uma brisa assaz saliente,de alteza balsâmica
ensaiava sua pura artimanha;
rondava meu vulto em clarões na insônia,
pelas noites longas de seus palpáveis seios
voavam meus pensamentos saltitando!
Seus compassados movimentos pelos labirintos
e meandros da minha consciência, perambulavam com
o tálamo de seu vulto flutuante, envolvendo-me
em seus cabelos esvoaçando pela
réstia desta fausta vontade; mesa farta das mais
ricas oferendas dos prazerosos momentos!
Passo a passo casual com as mãos em
feixe em suas madeixas, traço itinerários carinhos,
mas seguindo um compasso egrégio na
essência hidratada de açucena, cinamomo e hortênsia
do seu ser, o mais amado que já tive.
Atrativo sortilégio, com a experiência de um adepto,
com a inocência imprudente de um morador apaixonado do
palácio deslumbrante erigido no oásis dos seus contornos,
ao não ter janelas nem horizontes, ao não possuir estrada,
nem pontes, me arrisco em um salto fulgurante!
Voo além de seus cachos, desato seus colchetes,
embriago sua voz, lançando minha única cartada dividida
entre a vontade e o após, aquele caminhar infinito
por cada cantinho encontrado, por cada curvinha surgida,
envolto na eternidade de cada instante.

Você 69


Do seu olhar de sereia um raio de luz surgia!
Seus glóbulos ofuscavam serpentários sibilos
adentrando a penumbra com lãs de suspiros!
Espécie de galanto invicto da areia insípida,
ostentando um brinde heróico de arcabuz ribelanto.
Seta invencível do Deus Cupido guardada na
freqüência de um respiradouro estóico!
Paixão imprescindível, com resquícios de
nuvens prateadas e sismos ígneos!
Aro ousado, desafiante, sempre diferente,
mesmo em encontros seqüenciais!
Preciosa seta sexual de Ulisses perfumava
nossas noites nupciais!
Guizos e grunhidos faziam ranhuras no ar,
em cujo centro estava seu fulcro.
Olhar girandesco em forma de fuso a fiarl
Lembrança cujo fascínio é de beleza autógena,
traduz em sua força impressa uma pulsação de dança!
Malha de doces encantos, ancoradouro
encena estranhos arabescos, que quanto
mais se trança, mais me deliciosamente arranha,
muito mais do que se pensa desamarra meus prantos!

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Você 68


As palavras batem em mim como ondas do mar.
Apenas colho as palavras que você vem semear.
Se eu fosse uma praia distante, você seria as rendas
de ondas que vem me tocar.
Apenas colho as palavras para escrever meus poemas.
São como gravetos que ajeito para acender minha fogueira.
Mas você é a chama que brilha em minha lareira!
Se eu sou um moinho, você é o vento!
Vento que passa suave pelas tranças da primavera.
Eu sou como uma folha que cai enquanto desce do arvoredo.
Mas você é a dança que aquece esta folha na descida.
Assim vou pelo mundo cantando feliz da vida.
Minha noite é cheia de estrelas, mas só vejo você.
Você é a estrela que brilha mais cedo.
Meu poema já estava no ar. Apenas esperava você abrir
o para quedas para ele aplainar.

Desencontrados


Tenho faróis que percorrem por todos estes lugares,
meus olhos como favos de sóis a pesquisar os casais,
são como marujos velozes acostumados aos mares,
são como águas vivas longínquas a balançar o cais!

Antenas vasculhando como convivem estes pares,
como se dão no amor, se entregam, ou algo a mais,
como Sherlock Holmes escutam a cor dos olhares,
indagando o conviver a dois no mundo do jamais!

Rostos empalidecendo, tristes, fixos, embevecidos
nas telas dos seus aparelhos por onde se separam,
 voltam para casa, vazios, sozinhos e esquecidos!

Meus olhos se entristecem pelos amores marotos,
os desencontros em conjunto dos novos tempos,
onde todos estão juntos na ausência dos outros!


Realidade

Há coisas que nos fazem cair fora de si... Dependendo do vulto vale demais sonhar. Dependendo da penumbra nem vale a pena acordar. Acordar m...