Poesia,
minha pedrinha mágica que
caiu no lago
flácido de minha alma,
fazendo
ondas angelicais se abrindo
em caminhos
que à noite percorro
acariciando
manancias de veredas
molhadas de
cinamomo e cássia,
tecidas de
pingos de ouro orvalhais,
onde às
vezes mergulho minhas mãos
em cachos de
vindimas, em sonhos
esparzidos
na planície de douradas
ramagens
espigais; pois dentre todas
as mulheres
para sempre serás aquela
que não
desejei por vontades açoitais
dos algozes
do sexo, furtadores das
estrelas
cadentes espalhadas pelas
miríades de
olhos erógenos corpo
afora da
cabeça aos pés, como há
dezenas de
retinas cintilantes nas
asas das
borboletas esvoaçantes.
Poesia, porto
flutuante todo tempo,
em todo
canto e lugar por onde
ancoro
colhendo a cada instante
o laço que
capta e o lapso que me
liberta com
sua presença permanente,
o seu olhar
constante todo entalhado
em meu ser
como um troféu arrebatado,
de forma a
procurar em todas as mulheres
os teus
olhos ondulados de ternura e nos
seus corpos
a leveza flutuante dos teus
gestos; mas não
há como encontrá-los
em todas as
mulheres que passam pelas
ruas, pois
entre meu olhar e o vulto delas,
sua presença
se me apresenta como uma
tela
cinematográfica de um mundo
muito mais
além deste mundo, muito
mais
profundo do que as mesmices
deste movente,
impermanente mundo.