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quarta-feira, 28 de julho de 2021

Magen Adon

Um brinde à alma fronteiriça!

Não vejo nisto nenhum engano!

Não vejo nisto nenhuma contradição.

O que mais me enfeitiça em ser marrano

é conduzir-se também como um cristão!

Tragam-me a viola que já conheço esta dança!

Sei carregar na sacola esta criança.

Sobreviver não é fácil mano.

Necessário muito diálogo e se possível aliança.

Viver por dentro um cabalístico monólogo,

por fora saber cerzir toda esta trama.

Poema libertário

Escrevo o que me vem à telha!

Não estou nem aí para os legisladores literários!

Não quero saber das regras, das receitas, dos boletins,

das bulas intermediárias, porque sou um poeta e ando

com a carta da poesia debaixo da manga de uma camiseta. 

Portanto não vim para ser ovelha! Não vou deixar minha poesia 

ser guiada, ser vigiada, ser tosquiada! Ela deverá ser livre como os

polens voam pelos campos! Ela deve ser o que ela é mesmo

e não da forma controlada, porque todos estes que tentam

controlar as coisas, no fundo são descontrolados, porque

todas as coisas tem seus muitos lados.

Não exponho meus versos a cirurgias plásticas que os deformem,

pois não faltam os críticos que julgam todos saber muito e no

fundo não sabem o que é estar a serviço da inspiração, o que

é abrir-se como um girassol e girar em sua intimidade o

movimento giratório mais notável do universo.

Escrever surrealisticamente na linguagem do absurdo é meu jeito social.

Antes de anunciar meus versos deixo-os espreguiçarem num jirau.

Então, o que falarei por último então? Esta mania de querer legislar

tudo é que criou o superego da escravidão!

 


Sapiência

Pelo contrário, eu sei tudo! Deve ser por isto que sou meio cego, meio surdo, meio mudo!

Não sei nada contudo. Com a outra metade tento levantar a saia da realidade, para ver sua nudez desvelada!

Identidade

Sou como aquele cometa que um dia viste passar no céu?

Mas também não sou como aquele cometa em sua indumentária,

em seu corpo rápido, luminoso, em seu facho instantâneo como

jogo de iluminária!

Não, preferiria dizer que sou o céu em que um dia viste passar um

cometa?  Ora veja, é justamente no jogo desta inversão onde me

encontro. Meu verdadeiro lócus está na negação.

Também não sou o céu em que um dia viste passar um cometa!

Ora bolas, o que sou então?

Sou a recordação de todo este acontecimento. Sou o cometa, sou o céu,

sou o cometa passando rapidamente, sou o céu iluminado espetacularmente, sou tudo isto assim, nunca sendo somente um pedaço

repartido aos cacos de mim.

 

Arte

Quando a bate à minha porta a fada da inspiração

nem adianta eu gritar, “pode entrar!”,

porque ela entra assim mesmo.

Ela escorrega por baixo de um vão, por uma fresta

qualquer! De que vale a minha autorização se ela é

como presença de uma mulher, aquela inusitada,

aquela que surge em revoada e nos toca com sua

permanente varinha de condão!

Ousadia

Quem já viveu todas as estórias conhece bem seus enredos!

Quem quer agarrar tudo com as mãos deixa a vida escorrer entre os dedos!

Um homem entre todas as suas memórias terá muito mais saudade daquilo que não viveu do que todas as dores que sofreu.

Quem não se joga na enxurrada, não herda o ancoradouro.

De tudo de bom sobre o nada, o cigano, o andarilho, o boêmio,

o ousado, o aventureiro, todos estes conhecem mais do que

um pouquinho todas as arestas dos fantasmas sob o nevoeiro

e sabem em que baú enterrado se encontra o tesouro!

 

Poema da percepção

Banhar-se é um delírio, jogar-se num transpasse!

Não perdem tempo as paisagens quando veem um rio correndo

tranquilo entre suas margens. Vão dançar no espelho de colírio em sua face!

Banhar seu olhar no corpo de uma mulher nua?

Já houve quem os negasse! Mas que diria de um

convite a mãos dadas deixar-se aos beijos sob um banho de lua?

Um banho solar, como vale a pena! Jogar-se sob a colcha azul

do céu e sentir-se sob um influxo de tons de açucena!

Mas, se formos bem lá na raiz deste fato, veremos que

há uma matriz a não ser esquecida, pois quem dá

colorido a este ato é a luz. Ela é quem dá forma a tudo!

Faça-se a luz e surge cada artefato do mundo!

terça-feira, 27 de julho de 2021

Beija-borboletas

Respeito os beija-flores... ai quem me dera ser

um beija-borboletas, beijá-las todas em todas as suas cores.

Dar-lhe-ia beijos tão demorados e tão sensuais em seu corpo,

que elas voariam distribuindo desejos, atravessando com o

abanar de suas asas “um logo mais eu quero que me beije mais!”

Sairia por aí a beijar as borboletas, pois se elas pisam as flores,

com seus pés as beijam, me ensinariam a cada passo dos meus pés

a beijar também os caminhos por onde ando! Que assim seja!

Ser um beija-borboletas seria algo fenomenal, porque elas são belas e seus

corpos abrem asas em entretelas cheias de olhos e ao beijá-las

com carinhos seus olhos passariam a ver estrelas! Enquanto meus olhos

só de pensar, sonhariam ébrios a noite inteira com todas elas!

Filho dos mares

É a alma portuguesa com certeza!

A sombra me enviou à luz.

O antes me enviou ao depois.

O nada absoluto me enviou ao tudo.

Neste estar aqui o que mais me seduz

é que não sou penas um, sou dois.

Sou um ser às metades, meio discursivo,

também meio mudo.

Sou meio tocável e muitas vezes me supus

estar a abraçar o mundo,

quando de mãos vazias me surpreendi desnudo.

É a alma portuguesa, com certeza!

Assim vou pela vida me dividindo

entre a solidão da casa ou a amplidão da rua,

por onde me deslizo e reconstruo uma

efêmera liberdade de ser um meio sol

se abrindo ou meias nuvens cobrindo a cidade.

Sou um sim, às vezes sou um não, sou mesmo

assim, por que não?

Da alma portuguesa são meus resquícios!

Às vezes me tropeço num grãozinho de areia,

outras vezes giro saltos imortais sobre precipícios!

Sou um filho do passado e um herdeiro do futuro.

Não me engasgo com este presente, tenho-o nas

rédeas bem seguro, porque sou um ser alado

andando na ponta dos pés sobre minas de cascalhos

e  quero saber quem está lá atrás do muro, porque

o que está por cima, para mim é fácil,

meus olhos já são calejados de ver terra à vista.

Mas desejo mudar o rumo, se meu barco vai na

horizontal, minha alma vai a prumo, pois ela é

forjada de puro metal, mas dormita dócil em

minha cintura!

Desta instabilidade onde me destruo em seguida

me reconstruo, desde vai e vem nunca me curo.

Mesmo que seja um puro nada, o mundo haverá

de ser um todo tudo!

É a alma portuguesa com certeza!

domingo, 25 de julho de 2021

Você 150

Há um espaço lúdico, floreiro sensual em mim que lhe pertence,

herança espetacular, descomunal numa atração resplandecente,

espelho íntimo onde me penteio e me visto num delírio circense,

 arrebatamento sensível, mergulho madrigal, deslumbramento!

 

Este canto isento de curiosos, estelar, não há quem dele pense

no momento , um cosmo de confetes ao ar, somente o vento,

gira entre nós com  cuidado, sabendo que ninguém nos vence!

Força que nos une, imã que nos atrai é intenso jogo por dentro!

 

Jardim das Hespérides onde me entrego a oferecer-lhe um buquê

ornado de alecrim entre minhas mãos e teu sorriso como brilho

de luz no cristal, como asas de pirilampos, neste encanto: você! 

Shangrilá  onde durmo meu desejo infinito, viagem a recordar

ornamentando com carinho especial e te embalo com perfume!

Cantinho dourado onde me domina, onde estou a te recordar!

sábado, 24 de julho de 2021

Você 149

Amar não se explica nunca e só vale a pena,

quando chega devagarzinho na ponta dos pés,

uma névoa de delírio, um banho de açucena,

é como avistar a terra lá do alto do convés!

 

Uma vida a dois, pavio e chama, vida plena,

amar, jogo de vazio e cheio, balé entremarés,

movimento a dois que cada suspiro coordena,

se ama até mesmo na cama virando ao invés!

 

Perguntaram ao amor, como realmente se vê,

ele se assustou e calado tristonho se retirou,

foi morar num vale, numa casinha de sapê! 

O amor é inexplicável, rima a dois na psyche,

quando uma lua no céu se engravida de luar,

o amor enluarado logo lhe mostrará para ver!

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Você 148

Vividos fatos com a gente,

foi há muitos séculos atrás,

eu era marinheiro contente,

você me esperava no cais.

 

Você a rainha, ninfa nascente,

aquela que queria mais, aliás,

você um passado presente,

no meu baralho dama de ais!

 

Bem assim nos encontramos

nesta passarela dos séculos,

sempre amantes, nos amamos. 

Vamos escrevendo este destino,

nascemos marcando o encontro,

és tarde ensolarada, eu sol a pino!

 

Você 147

Se um dia você for embora,

eu irei contigo também,

pois meu coração lá fora,

Irá juntinho com meu bem.

 

Você sabe, quem te adora,

adora porque te quer bem,

se penso em você agora,

pensarei muito mais além.

 

Se não consigo te esquecer,

é sinal de muita atração,

é sinal de muito querer. 

Mesmo de olhos fechados,

perdido em total escuridão,

te vejo por todos os lados.

 

Você 146

Quando nós por sincronia nos encontramos,

percebemos que estávamos por ali sozinhos,

que embora a dois passos sempre andamos,

faltavam dois passos pelos nossos cantinhos!

 

Já percebi, se nos vemos, nós nos espelhamos

nos mesmos pensamentos movendo moinhos,

pois,  as pás com que eles móveis nós giramos,

são feitas por dervixes nos mesmos cadinhos!

 

Mas quando nós nos separamos e despedimos,

levamos um vazio tão grande e tão individual.

O mundo pendura tudo pra baixo num varal! 

Porque então nos distanciamos, displicentes,

distantes, nossa vida não tem sentido, é vaga.

Se temos sede de nós, sabemos beber a água!

 

Você 145

A madrugada incinerava a noite lacrada,

enquanto uma simples luminária incidia,

sobre nós fluindo a respiração entalhada,

juntos, esculpíamos curvas na travessia!

 

A janela comovida da densidade enluarada,

uma luminária distante que bêbada luzia,

nossos corpos entrelaçados a cada lançada,

jorravam suas âncoras no cais e sua murada!

 

Mesmo que caia a noite em vórtices e ondas,

nunca saberá as cartadas destas intimidades,

embora tenha passado sobre ruas e cidades! 

Aquela janela que se abre e fecha em bandas,

permanece seu ângulo para a sala de espera:

uma garrafa de vinho nos inclina a primavera!

 

Você 144

Encurvei-me à beira daquele regato cristalino

para dar de beber ao cansaço de minha sede,

porém do alto, acima de um espaço alpino,

esgrima a transparecer meu olhar antecede.

 

Segredei baixinho como um som de violino,

às plantinhas à beira que se uniam em rede,

que surpresa era aquela com o sol a pino,

me deixando zonzo diante do mato verde?

 

Não consultei meu tarô nem li nos astros,

para o inesperado surgindo neste caminho,

aquela imagem presa nos meus claustros! 

Não era Cupido contrapondo aquilo exposto,

nem eu, somente paisagem de apaixonado,

as nuvens aos poucos dissipando o seu rosto!

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Vc 143

Ela era um anjo bom,

tão bom era este anjo,

que se tocasse um banjo,

ainda não seria o som.

 

Era um anjo de outro tom,

da melodia, ou do arranjo,

em seu toque de batom,

em sua marca me tanjo.

 

Nunca verei outra assim,

mesmo virando ao avesso,

este procurar tão travesso. 

Nunca terei outra igual,

nem que fosse Aladim

angelical no meu jardim!

Vc 142

Sem você os relógios perambulam seus ponteiros em dormideiras,

enquanto um imenso muro se arrasta antes meus olhos lacrimados,

ferrolhos trancam as portas das cidades medievais com soleiras,

vão-se embora todos os vassalos, fogem para os montes os criados...

 

A noite me assombra porque não há vertigem de sono, na cristaleira

as louças brilham, ofuscam há séculos, trancam a laços seus cadeados,

neblina fosca desce pelas montanhas dos meus anos em cabeleiras,

caixas de pandoras escondidas no sótão dormitam sonhos islados...

 

Sem você somente a lembrança, um enigma sem resposta da origem,

sua retina cheia de franjas busca as cortinas destas carícias perdidas,

meus olhos vasculham os cômodos vazios ausentes de cores e vidas... 

Sem você os sussurros me saqueiam o silêncio, em volta, à sua margem,

as primícias desta dolorosa ausência, este sentir saqueando o sentimento,

tudo é vazio, leito sem rio, cada hora que chega devora cada momento!

 

Você 141

Como uma canção ilhada de Vinícius tú me incendeias,

amálgama em fachos de pirilampos dançando sobre a lua,

iluminando os arcabuzes engatilhados em minhas veias,

embevecido pensando em tua face presente e contínua!

 

Entorpecido corpo cuja alma sempre me desencandeia,

mas agora quem me clareia o corpo é esta alma tua!

Estendo minha mesa com candeeiros, te convido à ceia,

depois dançaremos pela madrugada aquela dança nua!

 

Há muito ninguém me fustigava deste sono tão profundo,

quem me tocasse tão intimamente nas bordas deste cálice,

videira trançando emoções e ramagens em outro mundo! 

Olha, você foi tão acertadamente atingir meu sensível alvo,

como Artêmis atirou sua flecha levando-me a dourado ápice,

vendo-me assim envolvido, desta solidão, por você me salvo!

sexta-feira, 16 de julho de 2021

VC 140

Daqui a pouco qual cigana dirá as horas,

uma após outra vai passando mais veloz,

cada segundo em segundo são metáforas

traduzindo em surpresas tudo entre nós!

 

Perguntarei às primaveras destas floras,

onde está o âmbito reflorescendo a foz

daquelas instâncias tão acalentadoras,

tez de orvalho descendo em alveloz!

 

Não tenho como cristalizar o tempo

entre minhas mãos, entre meus dedos

se escorrega levando meus segredos! 

Será que são meus ou são meu invento,

restos de contos sobrando em enredos,

prendendo-me, correntes de degredos!

Vc 139

Quem diria, saiba, desde o início

caiba este amor, infinito coquetel

velado como em um interstício,

onde nosso mundo beija o céu!

 

O que de seda se faz um indício

de prazer girando em carrossel,

de cada fim concede por reinício

os movimentos em favos de mel!

 

São luzes, são sonhos, relampejos,

são vontades plenas entrelaçadas

pela distância em repetidos beijos! 

Vontades, tão gostosos desejos

sem perceber  as horas passadas

no sentir, todos prazeres acesos!

 

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Poema ao mistério feminino

Ó mulher, se tu soubesses que tens a emoção

do mar infinito beijando o céu a cada horizonte!

Mais além minha nave avança, esta tua alma,

mulher, dança com teu coração e se pegas em

minha mão enquanto vamos andando, mulher,

por todos os oceanos deste mundo entre nós

a eternidade estende uma imensa ponte!

Ó mulher, se tu soubesses que tens a condição

suprema de ser mais altiva que o mais elevado

monte e que podes tocar o teto do céu com

teu sorriso ou teu segredo mais profundo, ó

mulher, eu andaria contigo todo este mundo

E ao passar por uma florzinha no caminho,

para ela tiraria meu chapéu, pois ela haveria

de ter o sentido em suas pétulas de cada

curvinha mais doce do seu corpo e te faria

um brinde maravilhoso hasta siempre mujer!

A ti ergueria este trovador uma taça de vinho!

Ó mulher, se tu soubesses que também és a

única herdeira do silêncio e do perfume daquele

vale mais profundo, onde os arvoredos dedilham

em suas ramagens canções ao vento e os mais

sensíveis passarinhos trançam entre eles e seus

versos os seus delicados ninhos, ó mulher, até

onde mergulha meu pensamento ou minha chama

aquecida de ternura pela tua presença, ó mulher

tu não podes imaginar que és a dama e disto tenho

consciência, és da vida a real e suntuosa essência!

Poema sexy

Se você me atiça, minha chama se agita

em labaredas hercúleas, beijando o infinito

dos cumes perfumados dos teus seios solares

por onde crepitam teias de fogueiras, sinais galácticos

de crepúsculos detalhados de sua figura

esbelta, bailando em ondas ilhadas nos meus

pensamentos aprisionados na sinfonia repetida.

Nos interstícios de sua tez, página de pergaminho

milenar, desenho a mil beijos as sílabas dos

meus desejos, não me importando que as consoantes

se desconectem das vogais a todos os instantes;

pois se você me atiça de que servem as normas

sociais, de que servem as juras repetidas dos amantes,

de que servem os catálogos ensinadores do amor

perfeito; se minha chama se esparzi a toda parte;

não há espaço algum dormindo em alguma

almohada, sendo que em cada canto que tocamos,

como que por encanto, cada espírito nosso

em delirante chama se tremula, se reparte,

se sacia e cada toque é como a vara de

condão permanente de uma mágica fada.

Poema secreto

Sou apenas um instrumento,

sou como um antigo piano num

canto de uma sala onde a noite

chega na ponta dos pés com

suas alpargatas de surpresas,

convidando os que se amam

para a valsa madrugada adentro,

desvendando os segredos da

bruma e as tonalidades das

levezas surgidas dos carinhos

escritos com a doçura de plumas;

enquanto as vestes se despem,

os corpos se entrelaçam; dos

teclados surgem notas musicais

em sussurros que amaciam os

trilhos por onde percorrem

as horas, enquanto a melodia

se alonga no bailado intermitente

das teclas por todo o assoalho

Invernizado do salão noturno;

enquanto a ternura e o carinho

erguem floreiros na meia luz

de um candeeiro suspenso,

única testemunha secular

de um amor incrível, imenso!

Poema do encantamento

Poesia, minha pedrinha mágica que

caiu no lago flácido de minha alma,

fazendo ondas angelicais se abrindo

em caminhos que à noite percorro

acariciando manancias de veredas

molhadas de cinamomo e cássia,

tecidas de pingos de ouro orvalhais,

onde às vezes mergulho minhas mãos

em cachos de vindimas, em sonhos

esparzidos na planície de douradas

ramagens espigais; pois dentre todas

as mulheres para sempre serás aquela

que não desejei por vontades açoitais

dos algozes do sexo, furtadores das

estrelas cadentes espalhadas pelas

miríades de olhos erógenos corpo

afora da cabeça aos pés, como há

dezenas de retinas cintilantes nas

asas das borboletas esvoaçantes.

Poesia, porto flutuante todo tempo,

em todo canto e lugar por onde

ancoro colhendo a cada instante

o laço que capta e o lapso que me

liberta com sua presença permanente,

o seu olhar constante todo entalhado

em meu ser como um troféu arrebatado,

de forma a procurar em todas as mulheres

os teus olhos ondulados de ternura e nos

seus corpos a leveza flutuante dos teus

gestos; mas não há como encontrá-los

em todas as mulheres que passam pelas

ruas, pois entre meu olhar e o vulto delas,

sua presença se me apresenta como uma

tela cinematográfica de um mundo

muito mais além deste mundo, muito

mais profundo do que as mesmices

deste movente, impermanente mundo.

Poema comunicativo

Sabe menina,

algo nos acena

nesta sincronia.

A vida nos ensina

com a alma plena

na luz da analogia,

límpida como platina.

A mente fica serena,

resiliência, empatia.

Poema social

Levam-se os dedos,

mas que fiquem os anéis!

Ou melhor, vamos a uma

pastelaria pedir um caldo

de cana com alguns pastéis

e no guardanapo feito

com resto de papéis,

uma linda poesia

para o vai  e vem

da garçonete,

que corre pra lá e

prá cá tentando

pintar o sete, para

também encher de

vento, como naqueles

pastéis, a sua vida vazia!

Assim é o capitalismo

com a sua maresia!

Enquanto o povo perde

a sua cor no lago podre

da hipocrisia e do narcisismo,

vamos escrever uma poesia

que rime amor com flor!

Assim como a cana

em caldo se transforma

nos dentes da moedeira,

assim também o trabalhador

no seu suor se transtorna,

nas engrenagens da cremalheira

dos dentes deste sistema

seu implacável moedor!

Poema por encomenda (nunca mais escreverei outro)

(Este poema obrigou-me a ser poeta por encomenda. Uma pessoa me apareceu aflita pedindo para escrever um epitáfio para o túmulo de sua sogra, esperando deste jeito reconquistar o amor de sua mulher. Com muita má vontade o escrevi, infelizmente...)

Se de Deus admiro toda obra,

 louvo a Deus toda a criação,

foi Ele o Autor desta sogra

para sempre no meu coração!

Se alguma coisa me sobra,

ela não me deixou na mão,

a filha desta grande sogra

carrego com tanta emoção!

De tudo que na vida me sobra

fica pra sempre esta canção,

que saudade da minha sogra,

que para mim foi uma benção!

Por isto minha alma me cobra,

dar-lhe esta última atenção,

nesta lápide querida sogra,

 gravo a minha dedicação.

Solidariedade

Do alto daquela pedra se via

todos os verdes e eu perguntei,

“de tantos verdes, qual era o

verde verdadeiramente verde?”

“Mas por que o verde tem que

ser só um?”

Mari, do sânscrito Mariáh que

significa vidente, me responda!

Suas palavras me soam

como uma Ilíada pintada por Portinari.

O que importa ao verde, percebo

que é ser um verde algum.

E assim esverdeamente ele

se passa como um verde nenhum.

Tão bom se toda a gente

fosse como o verde.

Em lugar de ser algum,

ser um homem comum.

Realidade

Há coisas que nos fazem cair fora de si... Dependendo do vulto vale demais sonhar. Dependendo da penumbra nem vale a pena acordar. Acordar m...